sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

[Resenha] Vozes: 12 Vozes Em Quadrinhos Sem Textos


    Sem o uso de textos para diálogos e recordatórios, as histórias em quadrinhos sem palavras precisam passar a mensagem usando a sequência de quadros, o virar das páginas e as expressões faciais e corporais dos personagens. Não é fácil fazer isso. Quando feita por uma dupla, o roteirista precisa criar um texto narrativo que será traduzido em imagens e nem será visto pelo leitor, mas será lido através das imagens. Quando feita por uma só pessoa, este desenhista também precisa escrever uma sequência de acontecimentos para não se perder. É preciso deixar as páginas de quadrinhos fluídas e compreensíveis. Poucos artistas de quadrinhos conseguem isso, os 12 desse livro conseguiram, todas as onze histórias do livro são bem compreensíveis.

    Histórias mudas (e curtas) em quadrinhos são raras hoje em dia, mas esta é uma tradição que remonta o início mesmo das histórias em quadrinhos. Vozes é um livro formado de histórias curtas e é um pouco difícil falar de histórias curtas sem dar spoilers, mas este é um daqueles casos em que cada história foi feita por um ou dois autores e não falar de todas seria injusto. Ao menos o título e a respectiva equipe serão mencionados.


    Em Ulisses de Marllon Silva (roteiro e desenhos), um homem se vê numa ilha, mas logo descobre que não está só e corre perigo.

    Em Gatinado de Helena Eyng (roteiro e desenhos), um corajoso gato protege sua humana de um terrível monstro. Como terminará essa batalha?

    Em Inseparáveis de João Gutkoski (roteiro e desenhos), uma druida e um lobo descobrem caçadores altamente equipados em sua floresta. O lobo é capturado, conseguirá a druida salvar o amigo?

    A Cidade de Gerônimo Araújo (roteiro) e Gabriel Kolbe (desenhos) é uma daquelas pequenas demais. Se eu resumir, dou spoilers até do final.

    Em Fogo de Diogo Moreira (roteiro e desenhos), vemos situações cotidianas de tensão e perigo, sendo que a história foca na presença e na ausência de armas de fogo e nas consequências distintas da ausência e da presença de armas de fogo. Ter uma arma de fogo numa situação-limite ajuda ou atrapalha? Esta história foi feita para que o leitor pense bem. Depois de ler, busque mais informações para além de sua bolha.

    Em Ação Silenciosa de Rogério de Souza (roteiro e desenhos), vemos um homem preso num cativeiro de uma comunidade de uma grande cidade do Brasil. Será que ele será resgatado com sucesso?

    Ponto de Vista de Amanda Paiva (roteiro) e Gabriel Kolbe (desenhos) é muito interessante. Sempre usamos a expressão “Um passarinho me contou.”, mas essa história nos mostra algumas histórias que um pássaro contaria se pudesse falar. É a melhor e a mais genial do livro, com uma síntese e uma amarração de eventos impecáveis.

    Escaramuça de Róger Goulart (roteiro e arte) é uma história de espada e feitiçaria em que resumir seria contar tudo.

    Em Saio Em Silêncio de Daniel HDR (roteiro e arte), vemos uma pandemia de um vírus zumbi, as autoridades em busca do paciente zero e um casal isolado que tenta se manter confinado. Apesar de só ter sido publicada agora, o autor declarou em seu canal no You Tube que a fez antes da pandemia do vírus Corona.

    Em Warrior Dog de Jader Corrêa (roteiro e arte), vemos um cão guerreiro antropomorfizado numa história curta de espada e feitiçaria. Comentar por que eu gostei muito dessa, seria dar spoiler.

    Sombra de Mim de Márcio Cabreira (roteiro e arte) é uma história de ninjas. É curta demais para um comentário e um resumo maior que não diga em um parágrafo tudo o que acontece.

    As artes de introdução das histórias foram feitas por Marllon Silva. Arte da capa por Matias Streb. Prefácio de Ju Loyola. Possui 132 páginas, capa cartão, lombada quadrada, editada pelo Dínamo Estúdio, a venda na loja do Dínamo a R$50,00 mais eventual frete. Lembrando que os apoiadores do financiamento coletivo ainda podem estar recebendo.

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos

2 comentários:

  1. Interessante pois na minha cabeça sempre imaginei que o quadrinista primeiro desenhava e depois escrevia o texto. Aparentemente é o inverso. Acho livro/quadrinho sem texto bem inteligente e por vezes bem humorado. Acho que nos instiga mais a pensar sobre a história...Hahaha gatinho salvando humanos é o melhor \o/

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    1. Não é regra, alguns pensam primeiro no visual e depois no texto, tem alguns que conseguem criar a história enquanto desenham, só que é muito difícil. Acontece que a narrativa visual deve ser coerente. Numa tira, cada quadro é um parágrafo, num gibi, cada página é um parágrafo. Se pensarmos em tiras dominicais maiores, de duas tiras, cada tira é um parágrafo. Revista, cada página, um parágrafo e página dupla, parágrafo maior. Enfim, a regra é que tem que haver uma coerência.

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