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Antes do plano Real, havia a hiperinflação, é neste contexto que Isaque Sagara narra a história de uma festa de aniversário na periferia de São Paulo em maio de 1991 em Quando a Música Acabar. O autor não tem idade para ter vivido isso, mas fez uma reconstituição primorosa, resgatando moedas e valores hiperinflacionados de produtos populares como elementos de cenário. Um tempo em que o CD dava seus primeiros passos no Brasil, a Internet não era tudo isso, os orelhões eram mais presentes que os celulares e o LP de vinil ainda era dominante.
É o aniversário de Bruno. Contrariando um padrasto abusivo, Tiago libera sua casa para a festa e chama amigos e até uma banda. Lisa, namorada de Bruno, descobre que está com AIDS e tem que contar isso ao namorado no dia do aniversário dele. Eles tem o hábito de transar sem preservativos, será que Lisa terá coragem de estragar a festa? Ir além e responder essas perguntas é dar spoilers.
Isaque Sagara retrata o cotidiano de uma época como poucos. O quadrinho é fantástico, pena que é tão curto. Se você não entender as gírias e expressões da época, não se preocupe, as expressões faciais e corporais dos personagens não deixam dúvidas da mensagem. Sagara é um artista de quadrinhos completo, igualmente excelente no texto e na arte. Depois desse quadrinho o autor também fez o texto e a arte de Tecnodrems.
A edição tem capa cartão, lombada quadrada, miolo em preto e branco, menor que o formato americano, maior que o formatinho. Quando a Música Acabar é da editora Mino e está disponível em catálogo, mas não é lançamento e essa é a primeira reimpressão. Quanto ao preço, comprei na promoção da Mino no Mino Day, não sei quanto está agora na loja virtual da Mino ou em outras lojas presenciais ou virtuais.
O livro Quando a Música Acabar é parte do projeto Narrativas Periféricas, financiado por via de financiamento coletivo em uma parceria da editora Mino, do Chiaroscuro Studios e do evento Perifacon, cuja edição de 2020 teve que ser cancelada por conta da epidemia do vírus Corona. Em função dos atrasos na vacinação contra a Covid 19, também não houve eventos presenciais em 2021. Que venha a Perifacon de 2022 e mais Narrativas Periféricas no futuro é o que todos desejamos.
Boas leituras!
Rodrigo Rosas Campos
Parece ser um quadrinho divertido e intenso. Tanto no quesito social da inflação, ou seja, pela dificuldade da população de maneira geral em ter poder de compra. Qt pela epidemia da AIDS que aterrorizou as gerações sexualmente ativas das décadas de 80/90. Sinto que hoje a a questão da AIDS tem sido um tema meio que esquecido. As pessoas em geral não acreditam na possibilidade real do contagio acontecer consigo. Fora que salvo engano com o tratamento o vírus fica meio que inativo representando pouco risco para outrem observando os cuidados básicos de prevenção. Imagino que seja um quadrinho muito de conscientização como de desabafo para os que contraíram a doença por comportamento de risco ou os filhos de soro positivo.
ResponderExcluirConcordo. Se um dia você ler esse quadrinho o autor adorará suas observações. Só com minha resenha, você foi longe.
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