segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

[Resenha] Comic Kill de R. C. Ramos e Marcelo Damm

 


+18


    O Minotauro é um personagem brasileiro de um quadrinho de sucesso que está prestes a virar filme. Dúvidas pairam sobre os direitos de sua criação e, em meio a uma grande convenção de quadrinhos no Brasil, um louco vestido como o personagem empunhando um machado de verdade espalha pânico e morte entre os funcionários que trabalham de madrugada para que a convenção ocorra durante os dias do evento.

    Comic Kill tem textos de R. C. Ramos e desenhos e cores de Marcelo Damm. É uma história de um louco matando geral como todo filme slasher. Não tenta reinventar a roda, diverte, é bem escrito, bem desenhado e honesto, cumprindo sua proposta. Seus extras possuem as pequenas biografias dos autores, de praxe, textos sobre o cinema de massacre e violência e um editorial.

    Para além do slasher, o fã de quadrinhos se deparará com referências aos quadrinhos nacionais e estrangeiros através dos costplayers, brigas por direitos autorais, mentiras, farsas e até com a triste realidade de fãs tóxicos que personagens específicos costumam ter. Como a trama tem poucos personagens, resolvi não me aprofundar neles para não arriscar um ou mais spoilers.

    É uma diversão honesta para quem curte filmes slashers no estilo de Sexta-feira 13, Halloween e tantos outros. Neste caso, o cenário é um pavilhão de eventos durante uma comic con no Brasil. Comic Kill é uma publicação da Ultimato do Bacon Editora, capa cartão, formato americano, em cores, preço R$ 42,00 (mais eventual frete). Comic Kill inaugura a série Escafandro Especial com uma história 100% original e inédita. Assim como a Escafandro, todas as histórias da Escafandro Especial serão completas, a diferença é que os formatos da série Escafandro Especial serão variáveis de acordo com as histórias e suas respectivas propostas.

Boas leituras!

Rodrigo Rosas Campos



domingo, 23 de fevereiro de 2025

[Resenha] A Odisseia de Gonçalo Bombom de Wander Antunes


 

+18


    A história deste quadrinho se passa num triste tempo em que as rinhas de galo eram permitidas no Brasil, sobretudo no interior do país. Gonçalo Bombom é um simpático pescador de uma cidade pequena que não gosta de ir a missa, mas obriga o filho a acompanhar a esposa na missa; bebe e esquece tudo o que fez durante as bebedeiras; e gosta de usar os serviços das mulheres da vida, principalmente da Sergipana. Eis que o galo de briga do coronel da região é roubado. Os jagunços desse coronel contratam Gonçalo Bombom para ajudá-los a encontrar o tal galo, uma vez que o nosso “herói” é conhecido e querido por todos e sua presença pode facilitar as buscas pelo galo perdido.

    Não, isso não é uma história de detetive; já alerto que o próprio autor, Wander Antunes, textos, desenhos e cores, mostra o que aconteceu ao galo no início da história e isso está até na sinopse da contracapa do quadrinho. O foco da história é ver uma verdadeira comédia de erros pela qual o protagonista passa, principalmente quando ele se lembra de quem foi que roubou, matou, preparou, serviu e almoçou o tal galo para pagar pelos “favores” da Sergipana.

    A Odisseia de Gonçalo Bombom é uma história de época, uma excelente comédia de erros em quadrinhos com uma crítica ácida ao coronelismo, regada a muita violência enquanto nosso “herói” tenta escapar da arapuca na qual se meteu, mas não é uma história de investigação e mistério; na verdade, não tem mistério nenhum, visto que Wander Antunes fez questão de não fazer nenhum mistério, e isso foi a única coisa que me decepcionou. Custava o autor começar a história no momento em que Gonçalo era contratado pelos jagunços e o destino do galo era mostrado em flashbacks durante as investigações?

    Justiça seja feita, ainda assim, é uma história escrita por Wander Antunes, é bem acima da média assim como Crônicas da Província e Contos de Honra e Sangue. A Odisseia de Gonçalo Bombom é uma publicação conjunta da Ultimato do Bacon Editora e da Trem Fantasma Editora. Capa cartão com orelhas, formato franco-belga, em cores, preço R$59,90 (mais eventual frete). Uma comédia rasgada carregada de brasilidade!

Boas leituras!

Rodrigo Rosas Campos

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Garimpando em Gibiterias Especial: Os 4 Primeiros Volumes da Série Gibi de Menininha Apresenta


+18 - Para Maiores

    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Fradim, Watchmen, Piratas do Tietê e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A coisa só piora para quadrinhos brasileiros. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    Em 2020, a coletânea Gibi de Menininha ganhou um desdobramento, a série Gibi de Menininha Apresenta. Ao contrário do Gibi de Menininha, que traz várias histórias cada, Gibi de Menininha Apresenta traz uma única história fechada. Aqui, neste garimpo especial, as pedras garimpadas são as 4 primeiras revistas da série Gibi de Menininha Apresenta:

    Patrícia por Germana Viana, nos conta a história de uma feliz criança passando um tempo na casa de seus avós que estão sendo coagidos a se mudarem por um bandido que se traveste de religioso. Mas as coisas não são exatamente como parecem e, para impedir que os bandidos machuquem seus avós, Patrícia terá que lidar com revelações tristes e com as consequências destas revelações. Falar mais é dar spoilers. A história é recheada de referências de filmes de terror trash, é divertida e o traço fofo da Germana não torna o terror menos assustador, muito pelo contrário, o enfatiza ainda mais.

    Antônio tem texto de Camila Suzuki e desenhos de Fabiana Signorini, que nos conta a história de Alessandra. Ela aluga uma casa já mobiliada, mas o que ela e sua namorada descobrirão na primeira noite no apartamento novo é que a mobília da casa foi feita por um marceneiro chamado Antônio que deixou uma estátua de Santo Antônio em madeira aparentemente inacabada e que todas as peças de madeira da casa parecem amaldiçoadas. Ir além daqui é dar spoiler, tendo em vista que a história só tem 20 páginas. Texto e arte se combinam e formam uma atmosfera assustadora com um final verdadeiramente surpreendente.

    Carla traz o roteiro de Clarice França e os desenhos de Kátia Schittine. A trama começa quando Carla recebe um espelho antigo de sua mãe. Junto vem um bilhete para deixá-lo coberto. Mas é claro que ela ignora as superstições de sua mãe e de seus irmãos e o pendura descoberto numa parede de sua casa. Eis que uma estranha entidade fantasmagórica passa a assombrar Carla mesmo quando ela vai passar a noite na casa de uma amiga. Conseguirá ela se livrar desse monstro? Responder isso é dar spoilers. Em Carla, texto e arte se harmonizam na intenção de deixar os leitores com medo de espelhos e do escuro.

    Dóris tem texto de Dani Taranha e desenhos de Roberta Cirne. Aviso: não leia Doris de estômago cheio! Rene trabalha com Dóris e eles são amantes. Ele tem um projeto revolucionário que vai ajudá-lo a ser promovido a sócio na firma. Mas ele acorda tarde depois de uma noite com Dóris. Ela apresenta um projeto e ele a acusa de roubo de projeto. Até aí, nada de sobrenatural. Até que uma mosca promete dar poderes a Rene para que ele se vingue de Dóris e a sanidade do protagonista passa a ser questionada na melhor tradição de Edgar Allan Poe.

    Se você estiver de estômago cheio, não é aconselhável ver os desenhos de Roberta Cirne que remetem em parte ao livro A Metamorfose de Franz Kafka e em parte ao filme A Mosca de 1986. Mesmo com os desenhos de Roberta Cirne dando lastro aos aspectos sobrenaturais da história, o roteiro de Dane Taranha dá margem a várias interpretações, todas desfavoráveis a Rene, mas explicar o porquê disso é dar spoilers. Dóris é uma história formadora de público? Entre os que tiverem estômago forte, com certeza.

    Todas as edições trazem histórias indicadas para quem gosta de quadrinhos, para quem gosta de terror e para quem é leitor casual, afinal, cada edição traz uma história fechada. Formadoras de público? Com certeza! Formato paraguaio (americano reduzido), 24 páginas, lombada canoa grampeada, miolo preto e branco. Também há a possibilidade de conseguir estas revistas nas lojas virtuais das autoras, procurem por elas no Google e nas redes sociais.

Boas leituras e até breve!

Rodrigo Rosas Campos



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

[Resenha] Gibi de Menininha: Damas da Noite

Desaconselhável Para Menores De 18 Anos.



    As menininhas do gibi voltaram no quarto Gibi de Menininha, continuando brilhantemente a tradição de Mary Shelley na escrita de histórias de terror. Desta vez elas trouxeram as damas da noite, vampiras e lobisminas (ou lobismulheres etc.). Uma coisa que deve ficar clara é que as histórias são curtas, muito curtas, curtíssimas. Falar muito sobre cada uma delas é correr o risco de spoilar, mas vou ao menos dizer os títulos, quem escreveu e quem desenhou.

    Já adianto que gostei de todas. Cada história é devidamente introduzida - ui - por Mama Jellybean, a anfitriã da revista. Nesta edição, nossa diabinha preferida passa um tempo como vampira e outro como lobismina. Antes de falar das histórias, esta é uma edição flip-flop, ou vira-vira, no meio, vira outra revista e tem duas capas, uma de ponta cabeça em relação a outra. De um lado, metade da revista, temos as histórias das vampiras, do outro, da outra metade da revista, temos as histórias das lobismulheres. As ilustrações centrais, que fazem a transição das duas partes, são duas páginas de Roberta Cirne.

    Você pode começar pela parte que bem desejar. Eu comecei pela das lobismulheres. Enluarar de Camila Suzuki nos textos e Germana Viana nos desenhos nos apresenta uma jovem mulher chamada Rita, que guarda um misterioso segredo. Sua avó, sem muitas opções, precisa mantê-la acorrentada em noites de Lua cheia, pois sua mãe morrera por ter o mesmo segredo e ter sido perseguida pela população raivosa de uma cidade pequena. Mas uma trupe de artistas chamada Enluarar pode mudar o destino de Rita para sempre. Como? Leia a história.

    Coração Eclipsal tem roteiro de Renata C. B. LZZ e desenhos de Mari Santtos. Essa é uma daquelas histórias que eu não consigo resumir sem contar o final. Fica o registro de título e dupla de criação. É boa!

    Sobre Aquele Segredo tem roteiro de Flávia Gasi e desenhos de Katia Schittine. No antigo Egito, uma guerra entre vampiros e lobisomens é travada em nome dos deuses Sekhmet e Anubis. Deste conflito, nasce um amor proibido, será que este relacionamento acabará bem?

    Virando para a parte das vampiras: Quarta-Feira tem roteiros de Germana Viana e desenhos de Rebeca Prado. Depois de um dia de trabalho, uma mulher volta para casa e vê seu marido e sogra reclamando dela e do filho do casal, que possui uma relação homo afetiva, mas o que de fantástico pode acontecer a partir dessa cena? Descubra lendo a história.

    Na Calada da Noite tem textos de Dane Taranha e desenhos de Renata C.B. LZZ. Num necrotério de um hospital público, um legista fará a perícia de 3 corpos, 2 mulheres e 1 homem, encontrados mortos num mesmo quarto de motel, numa aparente cena de crime passional seguido de suicídio. Eis que uma das mulheres se levanta revelando-se uma vampira. Será que alguém saberá o que aconteceu?

    Banquete Sangrento tem roteiro de Clarisse França e desenhos de Fabiana Signorini: No antigo Egito, uma guerra entre lobisomens e vampiros é travada em nome dos deuses Anubis e Sekhmet. Sim, essa é a mesma história de “Sobre Aquele Segredo” contada de outra perspectiva. Em qual perspectiva você acreditará?

    E se você começou pelas vampiras, vire a revista para ver as histórias das lobisminas. Em todas estas histórias temos personagens brilhantemente desenvolvidos em tramas que misturam erotismo e terror nas medidas exatas. Seres sobrenaturais não podem ser reduzidos a um conjunto de poderes, eles precisam de almas humanas, pois refletem os lados mais monstruosos da humanidade em todos nós. Estas escritoras e desenhistas de terror tendem a se lembrar muito bem disso. Prepare-se para se encantar e se amedrontar com essas histórias de vampiras e de mulheres que viram lobas.

    Como sempre, o talento destas mulheres é inquestionável, Gibi de Menininha: Damas da Noite merece estar nas melhores prateleiras de leitores de terror, de quadrinhos e de quadrinhos de terror do mundo. Que venham mais Gibis de Menininhas no futuro e eu sempre espero um pouco mais de putaria; a vida real já está aterrorizante demais!

    A edição ainda traz pequenas biografias das autoras, mas, para os leitores e leitoras que quiserem mais, todas as autoras possuem sites com quadrinhos na Internet, só dar um Google, confiram! Germana Viana é a organizadora, editora e coautora desta coletânea que foi lançada por ela e pela editora Zarabatana Books. Fácil de achar em livrarias e gibiterias reais e virtuais. Formato americano, lombada quadrada, capa cartão, 72 páginas e miolo preto e branco, R$ 60,00 (mais o eventual frete), vale cada centavo.

    Boas leituras, boa noite e bons sonhos! Huahahahahahahaha!

    Rodrigo Rosas Campos




domingo, 9 de fevereiro de 2025

Garimpando em Gibiterias Especial: Os Primeiros Três Volumes do Gibi de Menininha: Historietas de Terror e Putaria

Desaconselhável para menores de 18 anos.

    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Fradim, Watchmen, Piratas do Tietê e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    As pedras garimpadas de hoje são os três primeiros números da série Gibi de Menininha. Brasil, 2018, treze mulheres, autoras e desenhistas de quadrinhos, se reúnem para levar adiante a tradição de terror escrito por mulheres iniciada por Mary Shelley em Frankenstein, surge o primeiro Gibi de Menininha: Historietas de Terror e Putaria, que apresenta seis histórias em quadrinhos curtas, inéditas e fechadas; escritas, desenhadas e protagonizadas por mulheres. Nem sempre heroínas, nem sempre vilãs, nem sempre vítimas; cada história traz suas próprias surpresas.

    As histórias são curtas, muito curtas, curtíssimas. Falar muito sobre cada uma delas é spoilar, mas vou ao menos dizer os títulos, quem escreveu e quem desenhou. Já adianto que gostei de todas. Cada história é devidamente introduzida por Mama Jellybean, a anfitriã da revista. Vamos as histórias do volume 1.

    Por Eras e Eras te Amarei tem roteiro de Carol Pimentel e arte (e parte do roteiro) de Roberta Cirne. Esta é uma das mais complicadas de não spoilar, portanto nada devo comentar. Desculpem-me, meninas, fica para a próxima.

    Fome, com roteiro de Clarice França e arte de Mari Santtos: um casal vive feliz até que ela é atacada por um vampiro e sobrevive para se tornar uma vampira. Conseguirá ele continuar amando uma mulher cuja natureza mudou para uma predadora de humanos? Conseguirá ela controlar sua fome por amor a ele? Achei o texto dessa história brilhante e terrível.

    Para Sempre (ou um marinheiro que me contou), com roteiro de Germana Viana e arte de Renata C B Lzz: uma boa história de pescadores que não pode ser detalhada sem estragar as surpresas.

    A Última Comitiva, com roteiro de Ana Carolina Recalde Gomes e arte de Talessa Kuguimiya, narra a primeira comitiva de um aprendiz de peão de boiadeiro. O que pode dar errado? Gostei muito das seis histórias, mas, a meu ver, está é a melhor! A harmonia entre texto e arte é incrível, parece que a desenhista criou um estilo só para contar aquela história específica da roteirista. Lembrando, gostei de todas as histórias mas a harmonia entre texto e arte desta é impecável.

    Doce Inocência com roteiro de Milena Azevedo e arte das Senhoritas de Patins, Katia Schittine & Fabiana Signorini: quem pode resistir as receitas deliciosas de um simático velhinho? Qual será o preço desse lanchinho?

    Amarrados, com roteiro de Camila Suzuki e arte de Germana Viana: responda-me, você, que quer amarrar o amor eternamente, qual é o limiar que transforma o paraíso num inferno?

    Uma observação sobre o Gibi de Menininha 1 sé faz necessária: por motivos contratuais, uma das histórias foi substituída na atual reimpressão da edição 1, não sei qual das histórias. Este texto foi feito com base na publicação original de 2018.

    Agora vamos ao Gibi de Menininha 2: O Faroeste É Mais Embaixo: Estava receoso, afinal, são histórias ambientadas no Velho Oeste, EUA, feitas por brasileiras, não ambientadas no nosso quintal, nem no nosso tempo. Histórias feitas no Brasil com temática norte-americana. Já falei que isso me incomodava em uma resenha de outra publicação. Mas as menininhas do gibi tinham MUITO crédito comigo depois do primeiro Gibi de Menininha. Experimentei e elas entregaram, de novo!




    A primeira história é a origem polêmica e picante de nossa querida e amada anfitriã, a Mama Jellybean, com texto e arte de Germana Viana, a mãe da mama! Sim, ela veio da terra do tio San e surgiu no tempo das diligências. Este é, por sinal, o fio condutor das tramas deste novo volume.

    Em seguida vem Sob Nova Direção, escrita por Dani Taranha com desenhos de Sueli Mendes. A melhor e mais surpreendente do gibi! Frank faz muito sucesso com um Saloon para lá de modesto. John é um viciado em jogo que aceita trabalhar para Frank para pagar dívidas. Sem querer, John se vê as voltas com um macabro segredo de Frank. Mais que isso é estragar as surpresas da história.

    Luna de Sangre é uma típica história de vingança no velho oeste? Pode até ser, mas ao partir para sua jornada rumo a vingança, Selina descobrirá que seu pai tinha amigos poderosos que também estão dispostos a se vingar por ele. História escrita por Camila Suzuki e desenhada por Roberta Cirne.

    Monstros de Verdade tem roteiro de Clarice França e desenhos matadores de Renata CB Lzz. Um casal de mocinhas, sim, as heroínas são lésbicas, se vê as voltas com zumbis no velho oeste.

    Delilah, a Rubra: Fabiana Signorini e Kátia Schittine, as Senhoritas de Patins, assinam, de forma conjunta, o texto e a arte dessa história de forma coletiva, ou seja, ambas escreveram e desenharam. Mas vamos a trama; a irmã Mary Clarence deve levar órfãos a um novo orfanato em uma outra cidade, mas a carroça dela e das crianças se atrasa e fica afastada da caravana. Tentando achar a caravana, o grupo se vê as voltas com vozes misteriosas, sons de bandidos que não podem ser vistos e uma nuvem de poeira levantada na estrada sem que o bando de criminosos e seus cavalos possam ser vistos. Conseguirá a irmã levar as crianças em segurança ao novo orfanato na nova cidade?

    Vingança tem roteiro de Rebeca Puig e arte de Germana Viana. Uma daquelas histórias com poucas palavras em que contar muito é dar spoiler. Você quer spoiler? Foi o que pensei.

    Mato a Cobra e Mostro o Pau, com roteiro de Milena Azevedo e arte de Juliana Loyola, fala de uma índia, sobrevivente de uma tribo dizimada, que se une a um comerciante picareta para recuperar o ouro que os brancos pilharam da terra de seus ancestrais. Mal sabe o picareta de todas as intenções de sua parceira nativa.

    Como já disse, torço o nariz para histórias ambientadas fora do país dos escritores e desenhistas, nem gosto de Tex e companhia, me julguem! Mas as menininhas do gibi me surpreenderam, colocando o erotismo (e a putaria) típico(s) do terror brasileiro no tempero do oeste norte-americano. Gibi de Menininha 2 tem tudo para agradar a: quem gosta de terror; quem gosta de putaria; quem gosta de velho oeste; e quem gosta de quadrinhos tudo junto e misturado! As histórias são inéditas e completas, ou seja, perfeitas para leitores casuais.

    O terceiro Gibi de Menininha é Contos de Fodas, com fadas bem safadas e fatais. Bom, acho que algumas pessoas podem ainda não saber, mas os contos de fadas em sua origem eram contos de terror, feitos para aterrorizar crianças mesmo. Mas as fadas das menininhas do gibi não são apenas aterrorizantes, são muito, muito, mas muito safadinhas também! Cada história é devidamente introduzida - ui - por Mama Jellybean, a anfitriã da revista, as voltas com um príncipe que a tomou como princesa. Vamos às histórias:

    Como seria a história dos Três Porquinhos no mundo de hoje? É o que o roteiro de Dani Taranha e a arte de Roberta Cirne nos revelam.

    Caça e Caçadora, traz roteiro de Milena Azevedo e arte de Germana Viana. Uma humana e um anão são famosos caçadores de dragões e partem para ver por que há um dragão tão nervoso nas imediações da vila.

    Regente das Fadas é das Senhoritas de Patins; roteiro e arte de Kátia Schittine e arte-final de Fabiana Signorine. Numa vila que está queimando bruxas, um casal foge para tentar achar o portal do mundo das fadas e, talvez, libertar a rainha das fadas contra uma cruel inquisição. Será que eles conseguirão? Achei essa a melhor da edição 3.

    Abissal com roteiro de Camila Suzuki e arte de Renata CB LZZ traz a história de uma garota que estuda biologia marinha por sua grande atração pelo mar numa expedição onde ela descobrirá que certas lendas do oceano são reais. Teria ela algo de sobrenatural para escapar ao canto de sereias?

    Semente, com roteiro de Renata CB LZZ e arte de Mari Santtos traz uma convenção de quadrinhos e estranhos bombons. O que pode ser tão aterrador nesse contexto? Descubra lendo o texto.

    Seremos os Vilões, com roteiro de Clarice França e arte de Germana Viana, é a história de dois elfos que lutam na guarda de uma vila que não os aceitam. Até que um deles foge para o nosso mundo e os dois se encontram em São Paulo.

    Em todas estas histórias temos personagens brilhantemente desenvolvidos em tramas que misturam erotismo e terror nas medidas exatas. Seres sobrenaturais não podem ser reduzidos a um conjunto de poderes, eles precisam de alma humana, pois refletem os lados mais monstruosos da humanidade. Estas escritoras e desenhistas de terror se lembram muito bem disso. Prepare-se para se encantar e se amedrontar com essas histórias de terror, terror & oeste e terror & fadas safadas, todas com muita putaria.

    Para quem curte detalhes técnicos como narrativa gráfica, todas as tramas desses gibis são aulas de como fazer desenhos narrarem um texto com dinâmicas diferentes de acordo com a organização dos quadros e a diagramação de cada página. Cada uma destas seis histórias é uma aula prática da chamada narrativa gráfica e de como em espaços iguais pode-se conseguir dinâmicas diferentes. Cada história tem sua própria voz e seu próprio ritmo.

    Quebrando estereótipos e mostrando que mulheres também criam histórias aterrorizantes, Gibi de Menininha retoma duas tradições esquecidas nos quadrinhos nacionais: a tradição do terror e a tradição da putaria. Lembrando que terror e putaria foram hegemônicos em nossas bancas até meados dos anos 1980. O talento destas mulheres é inquestionável, Gibi de Menininha merece estar nas melhores prateleiras de leitores de terror, de quadrinhos e de quadrinhos de terror do mundo. Que venham mais Gibis de Menininhas no futuro e eu espero um pouco mais de putaria, a vida real já está aterrorizante demais!

    As edições ainda trazem pequenas biografias e bibliografias das autoras, mas, para os leitores e leitoras que quiserem mais, todas as autoras possuem sites com quadrinhos na Internet, só dar um Google, confiram! Elas também estão em todas as redes sociais

    Boas leituras e, se puder, boa noite e bons sonhos! Huahahahahahahaha!


    Rodrigo Rosas Campos


    P.S.: espero que essa iniciativa das menininhas inspire a Mythos a publicar os arquivos completos da Vampirella ou, pelo menos, o primeiro volume. Muitas das histórias que Vampirella narrou são tão boas ou melhores que a sua própria.

    Além do mais, o publico brasileiro gosta e aprova revistas temáticas com histórias que não possuem elenco fixo. O Gibi de Menininha é uma excelente prova disso. Histórias curtas e fechadas de terror, cada uma com seu próprio elenco de personagens, todas independentes entre si, cada uma por uma equipe criativa diferente, isso forma leitores e estas 3 edições foram financiadas pelo público que lê.

    Também espero que os editores olhem para os talentos de nosso próprio quintal, enfim não entendo o porquê dos editores de modo geral não olharem para iniciativas como essa!

Garimpando No Evento Eisner Week 2025: Em Cantos da Mata de Al Stefano

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