segunda-feira, 7 de julho de 2025

Garimpando No Evento RPG & Boardgames no Condado: Ser ou Não Ser… André Soares de Raichel


     O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Por esse motivo, os eventos de quadrinhos no Brasil, por menores que sejam, precisam ser estimulados e divulgados. São momentos em que leitores e criadores de quadrinhos (escritores e desenhistas) podem interagir sem intermediários. A série “Garimpando No Evento...” fala de quadrinhos que foram comprados diretamente com os criativos nos eventos.

    A pedra garimpada de hoje é Ser ou Não Ser… André Soares de Raichel, texto adaptado da obra de Machado de Assis, desenhos e arte-final, e foi garimpada no evento RPG & Boardgames no Condado na Fellow Beer. O mangá saiu a R$25,89 na banquinha da Ultimato do Bacon Editora no local. E você não leu errado, Ser ou Não Ser… André Soares é uma adaptação do conto To Be Or Not To Be de Machado de Assis para os nossos dias em estilo mangá ambientado entre o Rio de Janeiro e Niterói.

    André Soares é um sujeito desiludido que decide se matar se jogando da barca entre Rio e Niterói. Mas, na barca, ele conhece Cláudia e os dois começam um estranho namoro. O irmão de Cláudia ajuda André a conquistar a irmã por achar que André é rico e há outro pretendente que aparentemente desistiu do casamento, mas que pode voltar.

    Complicando a situação, André está em apuros financeiros e muito frustrado por não conseguir um aumento no emprego. Cláudia é viúva e herdeira de um sobrado e de uma pequena fortuna, enquanto o irmão de Cláudia, Justino, tem dívidas e fará de tudo para arrancar o máximo de dinheiro de todos os pretendentes que aparecerem para a irmã.

    Ao trazer este conto esquecido para os dias de hoje em traço de estilo mangá, Raichel, Raquel Gomes, resgata os elementos que fizeram o contista Machado de Assis ser verdadeiramente popular em seu tempo e, ao mesmo tempo, ressalta a universalidade e a atualidade do texto do bruxo do Cosme Velho. Tem diferenças em relação ao original? Claro, não havia celulares na época de Machado. A autora do mangá trouxe a história para os dias de hoje, mas o cerne da trama se mantém fiel de forma atualizada e dinâmica.

    O quadrinho fala de insegurança em relação ao futuro, frustrações com a vida adulta e os labirintos dos desejos e sentimentos, tudo isso é inerente ao ser humano, seja no tempo e no conto original de Machado de Assis ou no tempo e na releitura presente de Raichel, no nosso tempo por meio de um mangá. Seres humanos de todas as épocas se sentiram impotentes e com medo do futuro. É disso que essa história se trata.

    Raichel também desenha e faz isso em estilo mangá. Não sou muito do mangá, reconheço, mas posso garantir que o traço da artista é excelente. Rio de Janeiro e Niterói estão muito bem representadas. Os personagens são bem expressivos e há até uma dose de humor que quebra a tensão até dos momentos mais tristes. Gostei muito MESMO do desenho.

    Quanto a edição em si, é em formato mangá, capa em cores, lombada quadrada, miolo em preto e branco. A UB editora nunca coloca os autores das obras originais em suas adaptações, e eu ainda acho que um “Adaptação livre da obra de Machado de Assis” deveria estar na capa, mas isso não muda o que eu disse antes. Ser Ou Não Ser… André Soares é uma excelente porta de entrada para mangás, quadrinhos, literatura, Machado de Assis e, assim espero, para muitas obras futuras da Raichel. Lamento dela não ter estado no evento para eu tê-la conhecido e pegar um autógrafo.

    A última página da publicação traz um QR code para o leitor ler o conto original de Machado de Assis completo. Se a grana estiver muito curta e você quiser ler o conto original, procure uma biblioteca pública porque o site do Domínio Público estava zoado no momento desta postagem.

    Mas antes de ir embora, preciso lembrar que o evento não foi só de quadrinhos e eu joguei um jogo em protótipo, participei do play test do jogo Dia da Caça da Ludo Via Studio. No jogo, um grupo de caçadores de monstros precisa acabar com um monstro antes que este mate mais inocentes, faça mais crias ou mate um dos caçadores. O jogo é para 3 a 5 jogadores, sendo que 1 jogador é o monstro e o grupo tem 2 a 4 caçadores.


    O monstro vence a partida se seu jogador ficar sem cartas, se matar ao menos um caçador ou se matar um número x de inocentes, o que acontecer primeiro. Os caçadores ganham quando matam o monstro. Na minha mesa joguei com uma médica caçadora de vampiros contra um lobisomem. O tabuleiro é modular e randômico, de modo que cada jogo é num cenário diferente.

    A escolha do monstro é, idealmente, aleatória também. Os outros monstros disponíveis são a vampira, o gênio e a aracna, mulher aranha. Cada monstro tem suas particularidades, assim como cada caçador. Os caçadores devem trabalhar de forma coordenada para derrotar o monstro. Falar sobre o que achei de jogar com o próprio desenvolvedor do jogo foi uma experiência bem legal, afinal, também tive informações dos bastidores de um jogo, espero que o Dia da Caça siga em frente.

    São momentos como estes que mostram que vale muito a pena prestigiar pequenos eventos. Este evento teve entrada franca e valeu uma bela tarde. Prestigiem os pequenos eventos de quadrinhos (jogos etc.) nas suas respectivas cidades. Uma vez me perguntaram como ficar sabendo desses eventos, simples: acompanhem e sigam seus autores e suas editoras preferidos nas redes sociais.

    Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “garimpando” e clique no botão “pesquisar”. Assim, você verá tanto os outros garimpos de eventos como o “Garimpando em Gibiterias”.

    Boas leituras!



    Rodrigo Rosas Campos


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