terça-feira, 27 de maio de 2025

Garimpando em Gibiterias Especial Revisado: Projeto Superpowers: Um Filho de Watchmen com Super-heróis de Domínio Público

Por Rodrigo Rosas Campos

    Projeto Superpowers é uma série de minisséries que foi publicada nos EUA pela editora Dynamite. No Brasil, a Devir trouxe apenas a primeira minissérie direto para o formado encadernado e é esta edição que será resenhada e revista aqui. A Dynamite, uma editora dos EUA, queria um universo para chamar de seu (e de quebra um genérico de Watchmen também). Muitos de seus títulos são de propriedade dos próprios autores ou vindos de licenciamentos. Assim sendo, a editora chamou o já consagrado Alex Ross para criar o que ele desejasse usando super-heróis que caíram em domínio público nos EUA e fundar um universo para a editora no esquema “work for hire”. Ross topou o desafio.

    No mundo de Projeto Superpowers, os super-heróis ajudaram a vencer a segunda grande guerra, logo depois, despareceram e foram esquecidos. Mas o que aconteceu de fato é o que ficamos sabendo nas páginas da série. Acreditando que poderia salvar a humanidade de todo o Mal do mundo, o Combatente Yank trai e aprisiona quase todos seus aliados na urna mística conhecida como a Caixa de Pandora, pois o Mal só poderia ser contido definitivamente, se a esperança também estivesse confinada e os super-heróis fantasiados representam a esperança encarnada. O próprio Combatente Yank é recusado pela urna, pois, segundo essa crença, deixara de fazer parte da esperança quando viu o Mal com seus próprios olhos.

    Mas o Lama Verde se refugia em Shangri-La antes de ser capturado pelo Combatente e, por alguma razão, somente o Dinâmico e sua família não são aceitos pela urna. Mal sabia o ingênuo Combatente Yank e seu mentor fantasma que tudo não passava de uma grande armadilha. Com os super-heróis aprisionados na urna de Pandora e os supervilões livres do lado de fora, o mundo é dominado por uma grande conspiração.

    Quando o Combatente Yank já se encontra em idade avançada, um indignado Espírito Americano o convoca para destruir a Caixa de Pandora e libertar os heróis aprisionados para restaurar a liberdade ao mundo. Nesse momento vemos a rivalidade entre o Espírito Americano e o fantasma mentor do Combatente Yank, rivalidade esta que só será explicada no decorrer da trama.

    O Combatente Yank precisa da ajuda do Lama Verde para começar a executar seus planos de resgate. O Dinâmico é desmascarado como um robô a serviço da organização invisível que domina o mundo. A urna é quebrada pelo Yank, mas os heróis voltam em lugares aleatórios do mundo e modificados pelas décadas de aprisionamento na urna. Agora, um debilitado Combatente Yank, o Lama Verde e o Terror Negro precisam percorrer o mundo em busca de seus antigos aliados.

    Os heróis foram modificados pela caixa de Pandora e muitos que eram só vigilantes voltaram com superpoderes e os que já eram superpoderosos voltaram com modificações, esses novos poderes são muitas vezes bizarros. Puristas torcerão os narizes com o que foi feito com eles. Certo, no Brasil, ninguém liga, mas os americanos conhecem bem mais do que DC e Marvel e são bem chatinhos. O ponto é que: Ross teve total liberdade de modificar os personagens, alguns podem não gostar, mas a história fica até boa (não excelente) só por isso.

    A história é boa? Até é. Não é original no sentido de nova, mas prova que não existem personagens menores e sim escritores menores ou inapropriados. Há muita referencia a autocensura dos quadrinhos estadunidenses, o Comics Code Authority, pois em alguns ângulos a caixa de Pandora remete ao selo do código. Alex Ross desenvolveu a história com a ajuda do roteirista Jim Krueger só para chutar o então cachorro morto Comics Code Authority. Nesse sentido, há um certo mau gosto em chutar cachorro morto.

    Apesar do plot de “heróis retornarem num mundo aonde está tudo errado e tudo terá que ser consertado” padrão sombrio e realista já estar desgastado em 2008 (no lançamento original), a trama é até boa. Mas a esta altura o público já esperava mais de Alex Ross e Jim Krueger, eles fizeram uma reconstrução para personagens que nem chegaram a era de prata e que nunca foram desconstruídos depois.

    Mas o que fez de Projeto Superpowers um alvo fácil de crítica e público foi o fato de que, Ross teve a pior equipe possível para cuidar da arte interna. Alex Ross escreveu a história que foi transformada em um roteiro mais elaborado por Jim Krueger, fez toda a direção de arte, concepção visual dos personagens, as capas da série original, mas os artistas que cuidaram dos quadrinhos internos não tinham talento para emular o estilo de Ross e as colorizações por computador de época só pioraram a situação. Se, pelo menos, a arte interna fosse boa, o roteiro cheio de furos de Projeto Superpowers seria, ao menos, relevado. Seria uma história divertida, mas não memorável, se a arte interna fosse bem cuidada.

    Há uma cena com ondas em que elas parecem mais esculturas em resina (totalmente estáticas) do que fotos de ondas do mar; o Demônio Desafiador aparece pela primeira vez parecendo um Hulk bicolor e, no quadro seguinte, parece que foi usado um boneco do He-Man original como modelo numa cena em que o personagem está de perfil. Quem olha as capas do Ross e as concepções visuais dos personagens reconhece que, Ross usou no Demônio Desafiador o mesmo modelo vivo que serviu para o Batman em seus trabalhos para DC. Tudo isso se perde com a equipe de desenhistas que fazem o interior de Projeto Superpowers.

    Nem vale a pena escrever os nomes dos ilustradores internos. Em relação aos encadernados da Dynamite há aquela carência de extras textuais, não culpem a Devir nem os demais editores nacionais. Temos páginas e páginas de desenhos de Ross, mas pouquíssimas informações sobre as histórias pregressas dos personagens, tanto de suas origens e motivações na ficção, quanto da caminhada editorial de seus títulos.

    Apesar de todas essas falhas, vale pelas capas de Ross e a história é até boa se você não pensar muito. Deve ser fácil encontrar em lojas virtuais e em promoções. Reconheço que tendemos a esperar mais de Ross, mas Projeto Superpowers vale a pena pelo simples fato de ser melhor que muitas revistas mensais de super-heróis de hoje. Traz personagens desconhecidos do grande público em situações em que os escritores tiveram total liberdade de trabalhar, isso é legal de se ler.

    Fora que foi a primeira vez que o Daredevil original da Era de Ouro teve um reconhecimento mundial devido, ainda que só pelo nome do Alex Ross. Embora ele tenha sido rebatizado pela Dynamite nos EUA para não bater de frente com a Marvel, aqui teve a tradução correta que seu homônimo famoso não tem e nunca teve, Demônio Desafiador, que agora é um nome associado a um personagem de domínio público no Brasil e que, certamente, a Marvel/Disney relutarão em usar por aqui no futuro por isso mesmo.

    Apesar da arte à Image e da história meio fraca, seus olhos não cairão se você conferir. Boas leituras.

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