segunda-feira, 1 de abril de 2024

[Resenha] Ozob Vol. 1 Protocolo Molotov de Leonel Caldela e Deive Pazos


Desaconselhável para Menores de 18 anos!


    Caso você ainda não conheça o Ozob, ele foi criado em um RPG obscuro de temática cyberpunk por Deive Pazos. Todavia, a vida aconteceu e o grupo se dispersou. A ficha de personagem chegou a ser preenchida, mas Ozob nunca foi jogado no sistema de RPG em que nasceu. Anos mais tarde, Deive Pazos se torna o Azaghal do site Jovem Nerd e Ozob é retomado em outro sistema para participar do Nerd Cast RPG Cyberpunk partes 1, 2 e 3 e interpretado pelo próprio Pazos.

    Mesmo com outros personagens incríveis, o palhaço albino incendiário com uma granada no lugar do nariz fez tanto sucesso entre os ouvintes que Deive Pazos se uniu a Leonel Caldela para ampliar a história de Ozob neste livro. Se você não conhece o Jovem Nerd, o Nerd Cast RPG etc., acho difícil, mas vai que, e gosta de histórias com crítica social e violência, seria interessante que você parasse aqui e lesse o livro sem saber muito o que esperar. Neste caso, comente o que achou se quiser.

    Para evitar mais perguntas vamos a três considerações: você não precisa ouvir os respectivos episódios do podcast para entender o livro, mas se quiser, todo o Nerd Cast RPG Cyberpunk (e muito mais) está disponível de graça no site Jovem Nerd; para quem ouviu o Nerd Cast RPG, tudo o que está no livro é anterior a história do Nerd Cast RPG Cyberpunk; e caso você não saiba o que é cyberpunk, trata-se de um tipo de futuro distópico mais consagrado a partir do livro Neuromancer de William Gibson. O conceito de humanos sintéticos modificados vem de Philip K. Dick no livro “Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?”, que deu origem ao filme Blade Runner. Mas vamos agora nos focar nesse livro: Ozob Vol. 1 Protocolo Molotov.

    O mundo de Ozob é um mundo cyberpunk típico onde todos os governos foram privatizados e as corporações são literalmente donas até das pessoas. Apesar de Ozob Vol. 1 Protocolo Molotov tomar muitas liberdades em relação a ciência, coisa que a ficção científica hard não faz, o clima essencial de distopia e a crítica social e política típicas do cyberpunk são mantidas.

    O livro conta a história de Ozob desde a infância do cientista que o criou junto com a sua família de palhaços. Leonel Caldela e Deive Pazos adicionam muitos elementos de terror e horror a essa mistura de influências, sobretudo Frankenstein de Mary Shelley. Sem dar spoilers, o criador dos replicantes palhaços faz de si mesmo uma aberração e cria seus “filhos” como seres considerados monstruosos e deformados mesmo entre alguns dos outros pós-humanos (replicantes). Se bem que num mundo onde modificações corporais extremas são comuns, o que seria um palhaço albino com uma granada no lugar do nariz?

    Quando completa dois anos de vida e já ilegal na Terra, Ozob se encontra e se une aos War Roadies, enquanto os eventos de seu presente o fazem lembrar de seu passado. Ele só tem dois anos de vida pela frente. Tudo ia relativamente bem, até que o irmão mais perigoso de Ozob quer reunir a família e fazer Ozob se voltar contra seus novos amigos do War Roadies. A parte mais perigosa do plano é que a “família” de palhaços trabalhará para a corporação que a criou, a Data Dyne, uma armadilha dupla, com certeza.

    Os executivos da Data Dyne enxergam em suas planilhas que colocar um grupo de seus renegados contra outro grupo de seus renegados é mais barato que contratar mercenários independentes. Afinal, Hans Gropp, o enlouquecido cientista criador dos palhaços replicantes, é o que mais almeja o perdão e a aceitação de seus antigos senhores.

    Os War Roadies são Jhonny Molotov, um músico que descobriu uma frequência perigosa para as corporações; Vivika, uma guerreira ciborgue; e Califórnia, uma hacker. Eles lutam contra a corporação que os criou ao lado de Ozob. O que eles não sabem é que o passado do pai de Ozob e dos “irmãos” de Ozob também está ligado a Data Dyne.

    Hans Gropp é o cientista enlouquecido que criou Ozob e seus irmãos com formas bizarras de palhaços. Os quatro replicantes foram considerados defeituosos e a “família” teve que fugir para o espaço e trabalhar em planetas e asteroides de mineração das concorrentes da Data Dyne de forma clandestina. Algo não muito seguro, mas que um dia foi bem menos arriscado que ficar na Terra ou tentar um acordo com a Data Dyne.

    Por fim, os irmãos de Ozob são: Rizzo, um anão criado para ser um piloto, tem personalidade de criança e acha que a vida é um videogame; Guzzo, uma assassina transgênero, a Data Dyne não queria uma mulher, então Gropp produziu um cérebro feminino num corpo masculino; e o mais perigoso de todos, Zatati Ratata, um soldado de duas cabeças e dois braços direitos.

    Completando a lista dos personagens mais importantes do livro tempos o próprio Ozob, que por sua vez, foi criado para ser especialista em explosivos e demolição para trabalhar na mineração fora da Terra. A relação entre Ozob e Zatati Ratata lembra muito a do Wolverine e do Dentes de Sabre, salvo o fato de Ozob se lembrar bem até demais de todo o passado.

    Falar além daqui é dar spoilers. Ozob é criação de Deive Pazos, mas a autoria do livro é de Leonel Caldela e Deive Pazos, não há especificações de quem escreveu o quê exatamente. Até pelo modo como o Caldela narra mesas de RPG no canal da Jambô e no próprio Nerd Cast RPG temos algumas pistas da parte dele e, por eliminação, da do Azaghal (Deive Pazos). Creio que as partes do Caldela sejam as mais sádicas e perturbadoras, enquanto as do Pazos são aquelas que deixam os cientistas reais loucos e as piadas de tio que o Ozob manda fora de hora, mas posso estar enganado.

    Entretanto, é bom salientar que estamos vendo uma parte da história de como o Ozob se tornou o Ozob do Nerd Cast RPG. Nesse contexto, de seus primeiros dias, vemos mais a amargura por trás do palhaço do que a graça que ele causa no picadeiro, ou melhor, no podcast. Não que não haja acidez no humor do Ozob na aventura do Nerd Cast RPG, há e muita, mas nesse livro temos um Ozob diante de relações distintas, é o Ozob se tornando o personagem que conhecemos no podcast. O livro está salpicado de referências da cultura pop do cinema, da literatura, videogames (Tetris está lá!), quadrinhos, do RPG, é claro, da TV aberta dos anos 1980 e até dos reality shows.

    O ponto alto do livro é como as coisas acontecem. Ozob e seus irmãos estão com dois anos de vida e vemos o presente e o passado se intercalarem da perspectiva de Ozob; o que lembra antigas histórias em quadrinhos, sobretudo as do Wolverine. Apesar do foco no Ozob, a narração em terceira pessoa é real e temos vislumbres das perspectivas de todos os personagens. De fato, o contexto onde eles estão inseridos os definem e aquele mundo cyberpunk específico é muito bem apresentado, um mundo que muitas vezes é fantasioso até demais, mas sempre puxado para o terror e o horror, misturando elementos de vários livros, quadrinhos, videogames, programas de TV e filmes.

    Como em toda obra cyberpunk, o contexto político é evidente. Estamos em um mundo em que até pessoas são tratadas como mercadorias e que corporações controlam governos. O livro é bom. Preferia que a história fosse no nosso quintal? Preferia, mas o livro é bom. Até agora os Nerd Casts RPG apresentam histórias no melhor estilo bang-bang italiano, feitas por brasileiros, mas ambientadas fora do Brasil. Enfim, o livro é divertido! Mas ratifico a advertência de que é bom ter mais de 18 anos para lê-lo. Com efeito, a violência é tão extremada como nos filmes do Tarantino e companhia; foi o que me impediu de ler mais rápido, precisei tomar fôlego depois de algumas partes.

    Num ponto importante, temos que parabenizar Pazos e Caldela, os autores. Eles sabem caprichar nos recheios como em uma boa história em quadrinhos. Vários personagens orbitam Ozob e, eventualmente, roubam a cena. Isso é excelente, tendo em vista que o livro foi inicialmente escrito para quem acompanhou a história de um podcast que se passa depois. Você sabe que Ozob sobreviverá aos eventos do livro, mas se preocupa e se afeiçoa verdadeiramente com os demais personagens com quem Ozob se importa.

    Mas aí também reside o ponto fraco do livro, sua linguagem lembra muito histórias em quadrinhos de super-heróis, mesmo sendo um distopia e com toques de contracultura. Quem não curte o estilo do gênero super-heróis pode não gostar muito do modo como o livro é escrito alternando o presente e o passado da narrativa entre outras características típicas de super-heróis entre os anos 1980 e 1990. O livro é chamado de volume 1, mas a história é fechada em si mesma e, até o fechamento dessa resenha, não houve continuações.

    Últimas considerações: o livro é divertido, mas não chega aos pés de suas inspirações na literatura de ficção científica, distopia e cyberpunk, mas leia-o. Eu garanto que é realmente divertido. Demorei para publicar essa resenha (que pode ser encarada como um garimpo de sebos), mas comprei o livro na época em que o Jovem Nerd fez uma parceria com a Jambô Editora, a pré-venda da Coleção Nerd Cast RPG Cthulhu. Com isso a edição do Ozob pela Jambô estava muito cara e eu o comprei pela Nerd Store, uma edição de 2015 (mas muito provavelmente uma reimpressão) por R$ 25,90 sem frete (a Nerd Store estava limpando o estoque antigo). Isso prova que vale a pena gastar tempo procurando possibilidades de se gastar menos.

    “Você demora para publicar essa resenha por considerá-la pauta fria; critica o massa velho que no fundo curtiu; e ainda dá aulinha de economia; tu é BABACA, CARA! Tu é babaca!”

    Mas Ozob, eu admito que gostei do livro, que o achei divertido até. A propósito, quanto tempo se passou desde o último Nerd Cast RPG cyberpunk? Você só tinha 4 meses de vida, não? Lembranças para o Oleg e o certo é “Tu és babaca, cara!”.

“Viagem no tempo e multiverso, seu babaca! BABACA! BABACA! BABACA!”

    Não é possível agradar a todos, mas se for comentar, seja bem-educado. Boas leituras e até breve!

    Rodrigo Rosas Campos

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