quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

[Resenha] Frankenstein ou o Moderno Prometeu de Mary Shelley

     Eu sei, esta edição de bolso da L&PM não traz o subtítulo na capa, mas a história é integral. Considerada pioneira da literatura de terror e ficção científica ao mesmo tempo, em Frankenstein ou o Moderno Prometeu, Mary Shelley nos conta uma história sobre injustiças. Só mesmo lendo a obra integral para sentir todas as nuances colocadas pela brilhante autora que, usando um pano de fundo de macabro e sobrenatural, aborda injustiças sociais reais de seu tempo. Tanto em relação ao papel da mulher quanto em relação a distribuição da riqueza.

    Frankenstein, ou melhor, Victor Frankenstein cria um monstro com restos de cadáveres e lhe dá vida. O monstro, que com o tempo passou a ser conhecido pelo nome de seu criador, nem é nomeado no livro e sofre todo tipo de injustiças perpetradas pelo seu criador contra ele. O verdadeiro monstro da história é o inconsequente doutor Victor Frankenstein que cria um ser e o abandona a própria sorte.

    Com efeito, e apesar do elemento ficcional de dar vida a um ser construído a partir de restos de cadáveres, a criação do monstro já aponta uma discussão sobre a ética na ciência, ou seja, nem tudo o que pode ser feito deveria ser feito. Tal discussão se faz atual tendo em vista as possibilidades de manipulações genéticas em humanos e até a possibilidade da clonagem humana.

    Mas a atualidade do livro não fica só no campo científico, o modo como as mulheres são retratadas mostra uma sociedade extremamente misógina que não dá muitas opções sociais a elas. Esposas, criadas, protegidas, elas sempre são colocadas de forma passiva ante os homens. Incrível que um retrocesso desses ainda precise ser discutido em 2021, século XXI, quando a autora aponta a sociedade de 1818, século XIX, quando o livro foi publicado pela primeira vez. Com efeito, Frankenstein é um alerta contra o retrocesso e da hipocrisia dominante da época.

    Tentando se aproximar dos humanos, o monstro só encontra desprezo e terror diante de sua hedionda fisionomia. Mesmo tentando fazer o bem, ele é perseguido e caçado até se voltar contra a família de seu criador, o irresponsável Victor Frankenstein. Ir além daqui é dar spoilers. - “Como assim, ‘spoilers’, eu já vi vários filmes!” - Muitos filmes mudaram consideravelmente o texto do livro. Me pergunto quantas dessas mudanças não foram porque os diretores e roteiristas queriam um pouco mais de justiça para a criatura?

    A escrita de Mary Shelley é brilhante e muito a frente de seu tempo. O livro é narrado por perspectivas em primeiras pessoas que se revezam e todos personagens são muito bem escritos e descritos. Os diálogos são um espetáculo a parte, mesmo levando em conta os maneirismos da época. Não é uma leitura fácil e rápida, mas fará o leitor se divertir e refletir como poucas obras conseguem.

    Frankenstein é um livro antigo, em domínio público, publicado e republicado por todas as editoras todos os anos para os mais variados bolsos. Pesquise na Internet a edição que você pode comprar e, se estiver estudando inglês, busque o texto original que está em domínio público. Esta edição de bolso da L&PM possui um posfácio de Harold Bloom. Boas leituras e até breve.

    Rodrigo Rosas Campos

Um comentário:

  1. Frankenstein é um favorito da vida. De fato a história é muito envolvente. A gente acaba tendo uma empatia com a criatura por perceber seu sofrimento. Qt ao Dr. Franke eu só senti raiva e abuso. Um livrinho que nos faz pensar sobre a ética e tt outras coisas da vida... = )

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