sábado, 4 de maio de 2024

[Resenha] Quarto Mundo: A Revolução dos Quadrinhos Independentes no Brasil pela editora Heroica

 

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Sempre tem ao menos uma história para maiores numa coletânea do Quarto Mundo!


    Vamos por partes: Quarto Mundo: A Revolução dos Quadrinhos Independentes no Brasil NÃO É sobre a obra seminal de Jack Kirby pela DC; é sobre um grupo de criadores de quadrinhos que se reuniu em um coletivo chamado Quarto Mundo. Não se sabe ao certo se o nome foi uma homenagem a Jack Kirby ou se o resultado de uma brincadeira entre os membros “Se o Brasil é terceiro mundo, em termos de quadrinhos é o quarto, mais subdesenvolvido ainda.”, mas o fato é que o nome desse coletivo foi Quarto Mundo.

    Esse livro é dois em um. É uma reportagem (dossiê) sobre a história desse coletivo escrita por Jota Silvestre e é uma coletânea de quadrinhos publicados na época em que um grupo de autores de quadrinhos entre roteiristas, desenhistas e arte-finalistas se uniram para resolver problemas comuns de distribuição, visibilidade e publicação de quadrinhos independentes no Brasil. O coletivo foi de 2007 até 2012.

    Inicialmente, pensei em dividir essa resenha em duas partes, uma sobre as histórias em quadrinhos selecionadas para a coletânea e outra para a reportagem sobre esses escritores, desenhistas e arte-finalistas que resolveram chacoalhar o mercado editorial de quadrinhos independentes. Quem eram eles? Onde viviam? O que comiam?…, epa, me empolguei. Mas falar de todas as 37 histórias curtas não terá muito sentido, a maioria é curta demais para comentar direito sem falar os finais.

    O que fiz a esse respeito? Simples, fiz a lista dos autores desenhistas e arte-finalistas sem dizer quem fez o que e onde, direi quantas das 37 histórias em quadrinhos gostei, quantas não gostei e quantas ficaram naquele limbo do mais ou menos. Acho mais justo do que destacar apenas os títulos que mais gostei e os que menos gostei. “Mas você já fez resenha comentando conto a conto, história a história, de livros e quadrinhos de antologias!”. Sim, já fiz, e a real é que ninguém liga! A maioria das pessoas só quer uma impressão geral da antologia. Se alguns entre vocês quiserem que eu comente sobre algum autor específico do livro, seja desenhista, roteirista, arte finalista ou aqueles que fazem tudo sozinhos, peçam nos comentários.

    Os autores, escritores, desenhistas e arte-finalistas, das 37 histórias da coletânea são: A. Morais; Alex Mir; Alex Rodrigues; Alexandre Leonel; Ana Carolina Recalde; André Caliman; Antònio Éder; banda Garotos Podres; Cadu simões; Caio Majado; Carlos Eduardo; Carlos Francisco; Chicolam; Cris Drews; Daniel Esteves; Edu Mendes; Elthz; Fabiano Barroso; Fabio Marques; Felipe Cunha; Fernanda Chiela; Fred Hildebrand; Gil Tokio; Giorgio Galli; Hugo Nani; Jader Corrêa; Jean Okada; Joelson Souza; Jozz; Júlio Shimamoto; Laudo Ferreira; Leandro Robles; Leonardo Melo; Leonardo Santana; Marcelo Saravá; Marcos Venceslau; Mário Cau; Mário César; Marlon Tenório; Matheus Moura; Matias Streb; Omar Viñole; Pablo Casado; Pablo Mayer; Paulo Kielwagem; Piero Bagnariol; Reginaldo Minas; Sérgio Chaves; Viviane Cris; Wagner de Souza; Wanderson de Souza; e Will Sideralman, sendo que muitos se repetem em mais de uma das histórias.

    Uma lista mais completa (ou menos incompleta) de todos os participantes do coletivo Quarto Mundo está na página 243 do livro. E ainda há uma galeria de capas das publicações independentes dos participantes do Quarto Mundo (com ou sem o selo do coletivo) da página 244 até 254. O grupo se une em 2007 e se desfaz em 2012, uma curta história marcada por reconhecimento, muitos sucessos e muitas brigas internas.

    Antes de mais nada, a história que Jota Silvestre conta é um pouco confusa até pelo modo como os próprios membros do coletivo se apresentavam, eles se apresentavam pelo que não eram, não deixavam claro o que eles eram e desempenhavam papéis daquilo que diziam que não eram. É confuso, mas tentarei resumir.

    O Quarto Mundo não era uma editora, uma cooperativa, um selo de quadrinhos e uma distribuidora. A parte confusa da história vem agora. O problema de definir o coletivo pelo que ele não era esbarra no fato de que: o coletivo cumpriu os papéis de uma editora, no momento em que juntos conseguiram o primeiro stand em um evento, algo que só editoras tinham acesso. O coletivo atuou em nome de seus associados, ou seja, se comportou como uma cooperativa.

    O selo do Quarto Mundo estampou muitas publicações de seus associados; apesar do Daniel Esteves brigar comigo, a ABNT me obriga a tratar o selo do Quarto Mundo ou como selo, ou como coeditora ou como editora dependendo de cada caso, do modo como foi vinculado. Daniel Esteves, brigue com a ABNT. Um(a) leitor(a) que pega uma revista com o selo do Quarto Mundo impresso na capa pode achar que: a revista foi publicada pela editora Quarto Mundo; que a revista foi coeditada pela editora Quarto Mundo ou que Quarto Mundo era um selo que unia várias editoras.

    Mas outro ponto, e o mais relevante, é que o Quarto Mundo agiu como uma distribuidora, de forma improvisada e informal, mas, ainda assim, agiu como uma distribuidora. Ou seja, a parte confusa da história é que o coletivo Quarto Mundo executava todas as funções de tudo o que eles diziam que não eram.

    Mesmo tendo a informalidade como sua maior regra, diria até que foi um experimento anarquista no sentido real de anarquia, isso confundiu até mesmo alguns dos quadrinistas que se associaram a eles. Alguns se dispersaram e abandonaram o grupo justamente pelo excesso de informalidade, reivindicavam inclusive que o grupo se assumisse como uma cooperativa (ou editora, ou distribuidora etc.), o que não aconteceu. Em suma, apesar do selo, da mascote e de uma identidade visual para entrar nos eventos, o Quarto Mundo nunca se formalizou.

    Lendo o dossiê de Jota Silvestre nesse livro, fica claro que eles se comportaram predominantemente como cooperativa que agiu como se fosse uma pequena editora e uma pequena distribuidora. Afinal, é função de uma editora dar visibilidade aos títulos de seus autores e isso o Quarto Mundo conseguiu com louvor no Brasil, na França e na Espanha. Ou seja, apesar de todas as rusgas internas, o coletivo deu visibilidade nacional e internacional aos seus associados.

    Mas para além das divergências e tretas internas, de 2007 e 2012, houve um avanço das redes sociais, do YT, do financiamento coletivo no Brasil e tudo isso facilitou ainda mais a divulgação individual dos artistas independentes. A ação do Quarto Mundo fez os eventos verem a necessidade de disponibilizarem mesas para autores independentes e editoras menores, de modo que o preço de participação em eventos baixou.

    Da minha parte, tendo em vista este livro e as revistas com o selo Quarto Mundo estampado nas capas que li, eu realmente queria que eles tivessem se formalizado e se tornassem uma editora (ou uma cooperativa editorial) com autores e títulos espalhados por todo o Brasil. Triste é que a mesma informalidade anárquica e revolucionária que deu visibilidade a esses caras, também foi a responsável pela erosão interna e ruptura do grupo. De 2007 a 2012, o Quarto Mundo foi como as mãos de um carrasco, foi raso, largo e profundo. Guita, Guita, Guita…, epa, me empolguei de novo.

    Sobre as histórias em quadrinhos: das 37, gostei de 24, não gostei de 5 e 8 foram mais ou menos. Conclusão, o livro Quarto Mundo: A Revolução dos Quadrinhos Independentes traz uma ótima e variada coletânea de quadrinhos. Ainda que o senhor(a) leitor(a) não concorde comigo, acho que de alguma das 37 histórias em quadrinhos você gostará, além de narrar a história de um importante capítulo dos quadrinhos nacionais. É um livro de referência para todos os que gostam de quadrinhos brasileiros e que se interessam por seus bastidores. Na loja da editora Heroica, o livro está a R$ 68,90 (mais o eventual frete), vale o preço, confiem!

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos

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