Rodrigo Rosas Campos
Astro City é a série autoral de super-heróis com textos de Kurt Busiek, concepção visual e arte das capas de Alex Ross e a arte interna de Brent Anderson. Em Astro City há heróis representantes de todas as tendências e de todas as eras dos quadrinhos. Aqui no Brasil, a série passou por quatro editoras e os editores daqui nunca acertaram a mão com ela.
Mas vamos ao contexto: aqui, a editora Abril publicou Marvels. Com o sucesso de Marvels, muito mais pela arte de Alex Ross, o Reino do Amanhã da DC foi publicado pela mesma editora pouco depois. E isso foi antes de Astro City ser publicada no Brasil. Entretanto, originalmente, Astro City saiu nos EUA entre Marvels e O Reino do Amanhã. Isso fez toda a diferença na recepção da série por aqui.
O pouco sucesso de Astro City no Brasil se deveu ao nome de Alex Ross, mas, nessa série, ele só fez as capas e as concepções visuais dos personagens que apareceriam nas capas. Assim, muitos leitores brasileiros se ressentiram ao não ver suas pinturas em aquarelas foto realistas no interior das revistas. Nenhuma das editoras nacionais que trouxeram Astro City ao Brasil teve o cuidado de divulgar a proposta original da série, em que as ideias são predominantemente do escritor Kurt Busiek. A sensação de traição que o leitor brasileiro sentiu ao não ver a arte de Ross no interior das edições foi quase inevitável. Nos EUA, todos sabiam que Ross faria a concepção visual dos personagens e as capas, somente. Mais precisamente, Ross faria a concepção visual dos personagens que apareceriam nas capas. Mas vamos por partes.
A quarta editora foi a Panini, que assumiu a série de 2015 até 2019. Além de já ter republicado todo o material anteriormente publicado pelas demais. Ela foi a editora no Brasil que mais publicou Astro City com 12 volumes da série de encadernados, interrompendo a saga maior do Homem Quebrado, que fica incompleta, apesar de não afetar a sensação de conclusão dos volumes publicados. Busiek sabe escrever sem que o leitor se sinta no dever de assinar contratos vitalícios, isso é raro.
Lá fora, a série primeiro foi publicada pela Image que se fragmentou, ficando com a Ws. Esta foi comprada pela DC, mas manteve o selo. A compra da Ws pela DC foi a verdadeira troca de editora, pois, quando os personagens de Jim Lee foram para o universo DC e o selo Ws acabou, Astro City foi transferida para o selo Vertigo, que era um selo que pertencia a DC. Lembrando que a DC/Vertigo não é proprietária nem de Astro City, nem de Vampiro Americano, nem de Y, o Último Homem, nem de Fábulas etc. Entretanto, a Vertigo (o selo Vertigo), hoje, acabou.
Voltando para o Brasil: a Pandora Books publicou a primeira série em formato de minissérie em três partes, com duas edições originais em cada edição nacional. Esse material foi republicado no volume 1 encadernado da Panini.
A Devir lançou os dois encadernados mais adultos da série até então: Inquisição e o Anjo Caído. Estes foram republicados pela Panini com os títulos mudados para Confissão e o Anjo Maculado, respectivamente.
A Pixel fez edições especiais enfocando personagens antes de pôr a série num mix de Fábulas que só durou quatro edições e apresentou uma história do Caixa de Surpresas. Esse foi o ponto louvável da Pixel: separar as edições por personagens. Assim a história de Astra pôde ser contada sem a advertência “desaconselhável para menores de 18 anos” que acompanha os encadernados da Panini.
A Panini, em sua série de encadernados, republicou tudo o que as editoras anteriores publicaram e foram além. Na época, ela alternava os encadernados entre o material mais antigo e da fase até então mais atual nos EUA, que, até então, era inédita no Brasil. Ao todo a Panini publicou 12 volumes de Astro City. Mesmo não completando a série, é a editora que mais publicou Astro City no Brasil.
E agora? Agora, não sei. Há o risco real de Astro City prosseguir como uma das muitas séries de quadrinhos inacabadas no Brasil. Ou pior, ser completada em edições de luxo que estrangulem o potencial de formação de publico leitor que a série verdadeiramente tem. Uma vez que tudo no Brasil encareceu e se os quadrinhos simples estão mais caros, os de luxo estão mais caros ainda.
Como Astro City é uma série de super-heróis autoral, com um só escritor enfocando a história da cidade e só mostrando o que é realmente relevante, ela é uma série de super-heróis sem pré-requisitos, cada encadernado é uma porta de entrada para qualquer leitor que nunca leu nada de super-heróis na vida. Ou seja, é uma série formadora de público. Com efeito, somente as edições 6 e 7 devem ser lidas nessa ordem. Com efeito, Heróis Locais (O volume 5) e a Era das Trevas I e II (os volumes 6 e 7 respectivamente) são ótimas portas de entrada tanto para os super-heróis em geral, quanto para o universo de Astro City especificamente.
Restam aos leitores e leitoras que quiserem conhecer este universo o garimpo de gibis em sebos e gibiterias reais ou virtuais. Comprando edições nacionais ou importadas. As principais fontes de informação desse post, além dos encadernados lançados no Brasil são: o verbete em inglês de Astro City na Wikipédia e o site Herocopia, sancionado pelos autores de Astro City. Para um pouco mais sobre Astro City, clique aqui.
Boas leituras e até breve!
triste! mas bela matéria parabéns muito necessaria
ResponderExcluirObrigado, desculpe a demora. Olhando as redes do Busiek, ele fechou um novo contrato levando tudo para a Image. É uma esperança para nós também que não ficamos dependentes só da Panini. Abraço!
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