Juvenal, O Velho Hippier #48

Sem Ele de Mery Campos

Sem ele

Mery Campos

Andei pela igreja sentindo o perfume das flores.

Olhei para o homem que estava no altar,

estava bem mais branco que o normal,

mas parecia mais jovem que nunca.

Percebi que todos olhavam para mim,

mas não podia, não queria tirar os olhos dele.

Senti uma vontade irreal de beija-lo,

parecia ser minha ultima oportunidade.

Toquei seu rosto, estava frio.

Segurei sua mão e olhei para as alianças.

Como em tantas outras vezes me senti completa.

Lembrei de tudo que havia acontecido até aquele momento.

Era a igreja onde havíamos nos casado,

E ali deitado já sem vida o homem que jurei amar.

O homem com quem queria envelhecer.

O homem que me daria filhos

e que me faria feliz por toda uma vida.

Senti vontade de chorar.

Lembrei que havia acordado sozinha.

Por mais que as pessoas tentassem me distrair,

eu queria mandar todo mundo pro inferno.

Ninguém era ele

e sem ele, meu mundo não existia mais.

Sem ele, eu não existia.

Eu tinha medo de esquecer do amor que sentíamos.

Eu não queria esquecer ele.

Ouvi os comentários dos que estavam atrás de mim.

Não me importei.

Desviei os olhos dele e procurei na minha bolsa.

Não precisei olhar muito.

Só havia um objeto lá dentro.

O único que importava.

Tirei discretamente e o segurei junto do meu corpo.

Debrucei sobre o corpo e beijei os lábios.

As lagrimas começaram a rolar

sem que eu tivesse controle sobre elas.

Havia chegado o momento.

Levantei a arma devagar.

Olhei para ele pela última vez

e segurei sua mão:

"A morte não irá nos separar".

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Enquanto Isso, Na Fila da Reencarnação por Rodrigo Rosas Campos

Enquanto Isso, Na Fila da Reencarnação

Rodrigo Rosas Campos

O atendente grita: – Próximo!

O candidato a reencarnação vai até a bancada, senta-se e fala: – Eu!

O atendente pergunta: - Nome na última vida?

- José Siqueira da Silva. - o atendente digita. Passado um tempinho, pergunta:

- Profissão que deseja para a próxima vida?

Orgulhoso, o candidato responde: - Cirurgião plástico!

O atendente o olha e repete: - Cirurgião plástico...

O candidato o interrompe: - Sim, vou ganhar dinheiro com vaidades de madames a torto e a direit...

O atendente fala interrompendo-o grosseiramente: - Recusado, próximo!

Zé retruca: - Como assim? Recusado por quê?

O atendente o olha com desprezo e fala: - Não precisamos de mais um médico inútil na Terra! Pelo nosso cronograma, todos os tipos de câncer já deveriam estar curados 10 anos antes da AIDS ter sido descoberta, mas deixamos inúteis como você nascerem e olha como tudo está hoje. Depois o esporro vem para a gente. Agora rala, que temos mais o que fazer e há muitos cronogramas atrasados. Próximo!

E, não reencarnando, esse Zé ajudou muito só por não nascer de novo.

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Juvenal, O Velho Hippie #47