segunda-feira, 29 de março de 2021

[Matéria] O Chamado de Cthulhu e Outros Contos de H. P. Lovecraft – Um Título, Duas Formas de Publicar


Antes de mais nada, este texto é destinado a mostrar duas opções de edições de livros para quem quer experimentar o autor H. P. Lovecraft, mas não sabe por onde começar e já ouviu falar em um tal de Cthulhu. Se você já é fã de Lovecraft e seu horror cósmico, estas linhas não acrescentarão nada ao que você já sabe. E acho que nem preciso dizer que a obra de Lovecraft não é aconselhada para menores de 18 anos. Ops, já disse.

Outra coisa que faço aqui, é compartilhar minha humilde reflexão sobre duas formas de publicar um mesmo conteúdo. Como vocês verão, não há uma forma mais certa e outra mais errada, uma melhor e outra pior. Cada uma delas depende do objetivo da editora e de como o público quer chegar naquela obra.

Um mesmo título e duas edições diferentes de duas editoras diferentes resultando em dois livros diferentes. É sempre interessante ver como duas editoras trabalharam o mesmo material, principalmente levando em conta que as duas edições tiveram o mesmo título “O Chamado de Cthulhu e Outros Contos”, mas com alguns contos diferentes e alguns contos repetidos de uma edição/editora para outra. No caso de H. P. Lovecraft, isso se dá porque o autor publicou sua obra, originalmente, em revistas literárias pulps de terror/horror no formato de contos. Como sua obra caiu em domínio público, cada editor pode pegar esse material e editá-lo como bem entender.

Nesta matéria não será feita uma comparação de traduções, eu não reli o que eu já tinha lido e isso não traria nada para a discussão que pretendo fazer nessa matéria. Como já disse e repito, cada editor tem liberdade para publicar e republicar o material de Lovecraft como bem entender, o que quero comparar aqui são as duas abordagens de publicação tendo em vista estes volumes específicos da Hedra e da L&PM. Também não será feita uma resenha conto a conto, isso já tem aos montes na Internet, em livros e revistas (especializadas em literatura ou não). Pode procurar.

O que pode ser dito inicialmente sobre essas duas editoras em relação a Lovecraft? A L&PM é uma editora mais antiga e consolidada. Foi, durante muitos anos, a editora de Luís Fernando Veríssimo no tempo em que ele era um dos maiores vendedores de livros do país, se não o maior. Quando, nos anos 1990, a L&PM desenvolveu sua linha de livros de bolso, a coleção L&PM Pocket, já colocou O Caso de Charles Dexter Ward de Lovecraft como o volume 25 da coleção. Hoje, publica 6 livros de bolso com contos de Lovecraft.

Inicialmente, a coleção L&PM Pocket trouxe reedições econômicas de títulos que já estavam no catálogo da L&PM. Hoje, os livros de bolso são o carro-chefe da L&PM. Em suma, por parte da L&PM, nunca houve uma preocupação de focar em Lovecraft, ele era (e ainda é) apenas um autor que podia ser colocado para fazer volume numa linha maior.

A Hedra é uma editora mais recente e parece ter entrado no mercado para preencher o segmento de terror e livros econômicos. Fez de Lovecraft seu carro-chefe (ou, ao menos, um de seus carros-chefes). Consultando em 05/11/2020 o site da editora, parece que Lovecraft não é mais a prioridade deles agora, mas, os livros de bolso da Hedra mais conhecidos hoje são coletâneas de Lovecraft. São baratos e fáceis de achar em sebos, feiras do livro, livrarias reais e virtuais, novos ou usados e em bibliotecas públicas. Esta é a maior vantagem das edições da Hedra hoje.

Ambas as editoras publicaram os livros de bolso de forma que eles fossem o mais barato e atraentes possíveis ao público brasileiro. Apesar do formato de bolso ser popular no país, o público brasileiro é avesso a páginas de papel-jornal (polpa). Quem já viu ou comprou livros importados sabe que os autores dos mais desconhecidos aos mais célebres, dos mais atuais aos caídos em domínio público, vendem livros em formato de bolso e com papel de polpa no miolo. Enfim, triste verdade, as editoras brasileiras que tentaram lançar linhas de livros de bolso com miolo de polpa de papel não foram muito longe pois os poucos leitores que existem no Brasil são superficiais ao ponto de recusarem os formatos mais baratos do livro impresso. O formato comum dos livros nas duas editoras demonstra que ambas querem popularizar a obra o máximo possível dentro da realidade do mercado brasileiro e seus leitores. Neste aspecto, as edições da Hedra são mais baratas que as da L&PM em função da qualidade gráfica superior desta última.

Antes de continuar, vale lembrar que várias editoras publicaram e publicam volumes com as obras completas de Lovecraft e que eles estão nas livrarias brasileiras tanto em português como em inglês (edições importadas). Todavia, são obviamente edições bem caras e comprar uma obra completa sem antes experimentar um autor(a), qualquer que seja ele (ou ela) é um risco. Você não sabe se vai gostar de ler Lovecraft, nem se gostará ao ponto de querer ler tudo o que ele escreveu. Fora que você tem o direito de não gostar de qualquer escritor(a) por mais consagrado(a) que ele(a) seja. Isso vale para Lovecraft e para qualquer outro(a) autor(a).

Como a L&PM e a Hedra lidam com as polêmicas em torno de Lovecraft? A obra de Lovecraft é cercada de algumas polêmicas: ele era racista e não gostava de sexo são as mais notórias. Isso fica evidente em sua obra e nem a L&PM, nem a Hedra passam pano para isso, mas lidam com esse fato de diferentes formas.

A Hedra se preocupou em acrescentar textos introdutórios explicando e contextualizando a obra de Lovecraft. Em sua edição de O Chamado de Cthulhu e Outros Contos de 2012, este texto introdutório é assinado pelo próprio tradutor, Guilherme da Silva Braga.

Nesse aspecto, a L&PM optou por aquela biografia protocolar do autor, Lovecraft, de 2 páginas e sem assinatura do autor do texto, que não entra em pormenores e é sem juízos de valores. Bem chapa branca. A tradução de Alexandre Boide não tem censura e demonstra de forma escancarada o racismo de Lovecraft, do autor, sobretudo em “Herbert West – Reanimador” e “Os Ratos Nas Paredes”, presentes neste volume nas páginas 42 até 114. O racismo de Lovecraft também se mostra presente em Nyarlathotep. Sem dúvida esta edição da L&PM está recheada das “facadas no coração” mencionadas no livro Território Lovecraft de Matt Ruff.


Como a L&PM já era uma editora com história e público próprios há décadas, talvez houvesse (e haja) o consenso de que Lovecraft já era (seja) conhecido em todos os seus aspectos e ela contasse (conte) com o bom senso de seus leitores na hora de ler o texto. Em todo caso, a série L&PM Pocket simplesmente publica livros de bolso mostrando os conteúdos da forma mais crua possível, sem nenhuma preocupação didática em relação a obra, mas como um produto de entretenimento o mais acessível possível a quem procurar.

Vamos lembrar que a L&PM iniciou sua linha de bolso como versões econômicas do que ela já publicava nos anos 1990, ou seja, O Chamado de Cthulho e Outros Contos da L&PM se destina aos leitores da L&PM ou aos leitores de Lovecraft na L&PM, não a novos leitores de fato e nem a leitores de Lovecraft mais aficionados.

Bom, vamos agora dar uma visão geral das duas edições com suas respectivas referências bibliográficas. A L&PM publicava Lovecraft a mais tempo, mas a Hedra fez um livro com o título O Chamado de Cthulhu e Outros Contos em 2012 e a L&PM só fez em 2018, com efeito, é o volume 1.241 da coleção L&PM Pocket. Logo, vamos começar pela edição da Hedra:

LOVECRAFT, Howard Phillips. O Chamado de Cthulhu e Outros Contos. São Paulo: Hedra, 2012.

A tradução da Hedra foi de Guilherme da Silva Braga, com introdução do tradutor e dois textos de Lovecraft sobre literatura fantástica: Carta a R. Michael; e Notas Sobre a Escritura de Contos Fantásticos. Estes textos do Lovecraft sobre histórias fantásticas e a introdução do tradutor mostram o investimento que a Hedra fez na obra do Lovecraft, um autor de domínio público, com um público nichado, mas fiel, que poderia trazer leitores (e dinheiro certo) para a editora, até então, nova.

Entretanto cabe notar aqui, que a introdução escrita pelo tradutor se preocupou em alertar novos leitores sobre os eventuais elementos espinhosos do texto de Lovecraft em função do racismo do autor. Na possibilidade de trazer novos leitores, que estes novos leitores não se sintam enganados.

Os contos da edição da Hedra são: Dagon; Ar Frio; O Que a Lua Traz Consigo; A Música de Erich Zann; O Modelo de Pickman; O Assombro das Trevas; e O Chamado de Cthulhu.

São 7 histórias e um total de 156 páginas. É claro que outros autores de domínio público fizeram parte do catálogo inicial da Hedra, mas os livros que mais vi (e vejo) da editora são os de Lovecraft e de terror em geral.

Agora vamos olhar O Chamado de Cthulhu e Outros Contos da L&PM de 2018:

LOVECRAFT, Howard Phillips. O Chamado de Cthulhu e Outros Contos. Porto Alegre: L&PM, 2018.

A tradução da L&PM foi de Alexandre Boide. Como já dito, há uma biografia protocolar (chapa branca, de 2 páginas) de Lovecraft sem identificação do autor deste texto biográfico. Não há textos do autor sobre os bastidores de sua obra e nem como ele entende o horror/terror e a ficção científica, essa não era a proposta da L&PM, Lovecraft nunca foi o carro-chefe da editora.

Os contos da edição da L&PM são: Nyarlathotep; A Cidade Sem Nome; A Música de Erich Zann; Herbert West – Reanimador; Os Ratos nas Paredes; Ar Frio; O Chamado de Cthulho; O Modelo de Pickman; A Cor Vinda do Espaço; A História do Necronomicon; e O Horror de Dunwich.

São 11 histórias e um total de 304 páginas.

Ambas as edições trazem catálogos com outros títulos nas páginas finais, o que é bem normal em livros de bolso. Quatro contos se repetiram em ambas as edições, foram eles: Ar Frio; A Música de Erich Zann; O Modelo de Pickman; e O Chamado de Cthulhu, obviamente.

Uma observação que julgo pertinente, pois evidencia a diferença com que as duas editoras trabalharam um mesmo material, é que um dos contos publicados pela edição da L&PM ganhou uma edição exclusiva pela Hedra em 2012, A Cor Que Caiu do Espaço. A edição d´A Cor Que Caiu do Espaço da Hedra também teve tradução de Guilherme da Silva Braga, introdução do tradutor e três textos de Lovecraft falando sobre o seu trabalho e de como ele pensava a ficção científica de sua época, além, claro, da história título do livro.

 Obviamente, a Hedra queria o público do Lovecraft mais do que a L&PM, pois apesar da menor quantidade de páginas por edição, há um material extra destinado a fãs: fãs específicos de Lovecraft; de horor/terror em geral; e de ficção científica em geral. Um público que anseia por informações além das histórias propriamente ditas. Porém, as introduções do tradutor nos volumes da Hedra mostram uma preocupação da editora em contextualizar a obra com a época e o lugar em que ela foi escrita para que eventuais novos leitores não se sintam traídos, enganados ou mesmo ofendidos com os editores e o tradutor, afinal, o autor é que era racista. O livro Território Lovecraft de Matt Ruff aborda, ainda que de forma ficcional, o racismo na obra de Lovecraft trazendo protagonistas e heróis negros, vale a pena ler.

O racismo em Lovecraft é uma parte espinhosa de sua obra. Sua aversão a sexo o colocava entre os mais retrógrados e reacionários entre os conservadores ainda em sua época. Mas porque ler, ainda hoje, a obra de alguém assim? As ideias nos textos de Lovecraft influenciam tudo o que temos hoje na cultura pop, não haveria Os Caça-Fantasmas, Alien, Arquivo X, The Walking Dead, só para citar alguns dos exemplos mais notórios hoje, sem a obra de Lovecraft.

Mesmo quando os personagens e nomes do universo de Cthulhu não estão presentes na obra dos influenciados por Lovecraft, as ideias dele estão lá, os conceitos estão lá, muitos papéis de personagens e monstros se repetem.

E qual seria essa grande influência? Lovecraft decidiu que todas as suas histórias aconteciam num mesmo mundo e a trama maior era de que a Terra, em sua insignificância cósmica, não passava de um planeta sendo cultivado para alimentar alienígenas que eram considerados deuses por povos mais antigos. Cthulho, o mais conhecido destes deuses alienígenas, seria apenas o que despertaria os mais poderosos. Os “heróis” Lovecraftianos lutam para adiar esse destino inevitável o máximo possível.

Mas este horror cósmico não foi a única influência de Lovecraft na cultura pop atual. O autor colaborava para uma revista pulp de terror/horror e, em vida, permitiu que os demais autores da revista usassem seus personagens e cenários. Ou seja, Lovecraft criou o primeiro universo ficcional compartilhado por autores e personagens da história. Isso antes dos super-heróis que ainda surgiriam.

Não se tratava apenas de vários personagens de histórias distintas que se encontravam. Agora, autores diferentes produziram histórias com um mesmo núcleo de personagens e cenários ampliando a obra de Lovecraft com a autorização do mesmo. Isso foi e é a base para os universos de super-heróis das gigantes DC e Marvel, bem como da narrativa compartilhada dos jogos de RPG de mesa.

Assim sendo, temos: a obra de Lovecraft propriamente dita, os textos escritos por ele; a obra dos autores que usaram o universo de Lovecraft com a autorização dele em vida; os autores que deram (e dão) continuidade ao universo de Lovecraft; autores de outras mídias que adaptaram a obra de Lovecraft (sobretudo para cinema, quadrinhos e jogos); autores que até usam o material de Lovecraft, mas com interpretações renovadas, releituras de fato, como é o caso de Matt Ruff, Alan Moore e tantos outros; e autores que, mesmo não usando nomes e cenários de Lovecraft, usam as ideias e conceitos deixados por ele. Mas esse multiverso Lovecraft talvez vire assunto para um próximo texto.

Voltando ao foco deste texto e concluindo: vemos então duas formas diferentes de publicação de um mesmo material. Dois livros diferentes com um mesmo título, de um mesmo autor, mas com propostas editoriais bem diferentes. “E qual é a melhor?”, você me pergunta. E eu respondo, depende do que você, como leitor(a), quiser na hora de experimentar Lovecraft pela primeira vez. Você quer uma edição mais barata possível? Hedra. Você quer uma edição barata, mas caprichada? L&PM. Você quer edições fáceis de achar em bibliotecas? Ambas as editoras e muito mais. Você quer informações para além do texto de ficção, uma contextualização maior? Hedra. Você não quer se influenciar pela opinião do tradutor ou do editor? L&PM. Você não está preparado para levar facadas no coração? Hedra.

Fora que Lovecraft está em domínio público, Hedra e L&PM não são as únicas editoras que publicam este material, várias editoras publicam ao mesmo tempo O Chamado de Cthulhu no Brasil e no mundo, você pode verificar várias opções nas livrarias reais e virtuais e até em bibliotecas públicas. Fora que, se você tiver uma boa leitura em inglês, ou se você estiver aprendendo inglês, os textos originais estão disponíveis gratuitamente na Internet, pois são de domínio público. Ou seja, a Hedra e a L&PM são duas opções num mar de possibilidades quando o assunto é a inicialização da leitura de um(a) autor(a) caído(a) em domínio público, como é o caso de Lovecraft, mas de muitos outros, tanto estrangeiros, quanto brasileiros.

E antes de terminar, se algum leitor quiser começar a ler Lovecraft pela ordem original de publicação de seus contos, há uma lista na Wikipedia, tanto em inglês (https://en.wikipedia.org/wiki/H._P._Lovecraft_bibliography), quanto em português (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_obras_de_H._P._Lovecraft). Tendo em vista eventuais mudanças de traduções de títulos, talvez o voluntário da versão em português tenha optado por manter os títulos dos contos em inglês.

Boas leituras, até breve!

Rodrigo Rosas Campos


quarta-feira, 24 de março de 2021

[Matéria] Atormentados Para Tormenta 20


Algumas Fichas Prontas de Personagens Criados (ou Adaptados) por Rodrigo Rosas Campos


Introdução


    Estas fichas estão fora de ordem. O motivo? Simples: preferi colocar primeiro os personagens que eu criei e depois os personagens que eu adaptei livremente para Tormenta 20, assim, as primeiras fichas que você verá aqui são de personagens meus. De fato, Pé de Vento foi a primeira ficha que comecei a preencher e a primeira que terminei, mas isso foi só uma coincidência. Ele já existia como um personagem pensado para ser criado em vários sistemas (e cenários) de RPG que dessem suporte para fantasia medieval/espada e magia fossem esses sistemas genéricos ou específicos; foi feito para ter versões em vários universos/reinos (cenários). Ele não foi o único personagem que criei para ser usado em qualquer mesa, mas, depois da minha guilda do multiverso, comecei a pensar em personagens mais específicos para o cenário de Tormenta mostrado no T20.


    Depois, para pegar um embalo maior, resolvi adaptar personagens de outros vistos da Internet. Do canal e site Nerd & Nerd, a impagável dupla Torun e Illariel; do site/canal da própria Jambô, diretamente da Guilda do Macaco, resolvi adaptar aquele que ganhou um cantinho em nossos corações, o Goblin do Cantinho e por aí foi.


    Criando ou adaptando as fichas desses personagens meio que fora de ordem, percebi algumas coisas: primeiro, criar uma ficha em Tormenta 20 é muito fácil. Não se assuste com o número de páginas do livro, ele tem muita figura (e figuras grandes) e o texto é bem explicativo. É como se um avô paciente estivesse ensinando um netinho a jogar RPG. Só o arcano que está meio chatinho, mas é só ler com calma! Querendo colocar bruxo, feiticeiro e mago numa mesma classe, arcanista ficou muito limitado. Outro detalhe é que é a classe que mais demora para ficar pronta, são muitos detalhes para pouca efetividade inicial. Quer ser um arcanista (um feiticeiro, um bruxo ou um mago)? Escolha outra classe que lida com magia de um jeito ou de outro, bardo, druida, clérigo ou mesmo paladino e depois invista em multiclasse.


    A origem é um combo obrigatório. Toda origem potencializa uma ou mais classes específicas e toda origem é uma multiclasse inicial em potencial. Exemplo, o guerreiro foi curandeiro na juventude, logo ele também pode evitar a morte de um aliado se o clérigo do grupo estiver sobrecarregado. O clérigo começou sua carreira como curandeiro, logo ele será ainda mais eficiente ao curar os aliados. Quando criei Pé de Vento, pensei num ladino em uma campanha em que os personagens passariam tanto tempo na estrada quanto em cidades. Logo, além de ser um ladino típico, ele já foi um taverneiro, ou seja, sabe cozinhar até em situações adversas. Se a comida do grupo for escassa numa estrada ou mesmo numa mata, ele pode até não saber caçar, mas será o melhor cozinheiro para preparar a carne da caça que vier.


    Rolar dados é melhor do que usar a regra dos 20 pontos na hora de você definir os atributos dos personagens. A menos que você tenha muita má sorte, e só tire 4 rolando 4 dados de 6 faces, dificilmente os dados serão tão carrascos com os atributos de seu personagem. Você rola 4 dados de 6 faces, retira o de menor valor, soma o resto, faz isso 6 vezes e distribui esses resultados pelos atributos como você quiser. Os modificadores de raça e classe cuidarão de melhorar o seu personagem naturalmente, muitas vezes evitando até um modificador negativo. Mas, se a sua mão for de pântano, há a regra da distribuição dos 20 pontos. Agora, as fichas:


Prata da Casa: Personagens Criados por Mim


    Guilda do multiverso: estes personagens existem em vários universos. Podem ser adaptados para qualquer cenário ou sistema e usados em qualquer mesa.

Caso queira, clique nas imagens das fichas para ampliar.

Pé de Vento




Isolda

 
Nessa classe, eu poderia ter escolhido 3 caminhos: bruxo, feiticeiro e mago. Se tivesse escolhido o caminho do(a) feiticeiro(a), teria que escolher também uma ascendência mágica para ela e teria algumas outras vantagens, ou seja, ou você tem um(a) arcanista nerfado(a) ou uma criação de personagem bem burocratizada. Ainda assim, mestre, tenha paciência com o(a) jogador(a) que quiser ser um(a) arcanista, pois alguém tem que ser o(a) arcanista do grupo e, dentre as opções do T20, o(a) feiticeiro(a) é o(a) mais eficiente no longo prazo. Grupo, tenha paciência com o(a) mágico(a) de primeiro nível. Jogador, preste atenção nas possibilidades oferecidas pelas origens, e isso vale para qualquer classe.


Teresa

    

Grawlix, um bárbaro humano, boca suja, que existe em vários cenários de RPG de fantasia medieval e costuma estar no grupo do Pé de Vento em quase todas as realidades.

 
 Fazer um(a) bárbaro(a) é a coisa mais fácil que tem em T20, com a origem artesão, você escolhe o ofício armeiro e ainda tem direito a uma arma de até T$50,00 que você possa fabricar, fora o kit do armeiro para consertar suas armas e a de seus companheiros ao longo da campanha. Pequei o montante, foi o próprio Grawlix quem fez.


Bruna

  Nessa ficha, rolei os atributos tão mal que estou quase aderindo a regra dos 20 pontos de atributo. Entretanto, como a raça humana oferece +2 em 3 atributos, isso a salvou de modificadores negativos. Fora os atributos rolados aleatoriamente, a única diferença dela para Brenda é a ausência de devoção a Tanna-Toh.

Serena

Parece qua as perícias estão roubadas? Não estão. Serena é o exemplo de como uma origem pode turbinar uma classe. Duvida? Refaça essa ficha no passo a passo: rolagem de atributos; escolha da raça; escolha da classe; escolha da origem; equipamentos e rolagem do dinheiro. Outra opção seria o que fiz com Pé de Vento e outros, tendo perícias comuns a origem e a classe, escolhi novas perícias de classe para compensar.

Tamara

Parece qua as perícias estão roubadas? Não estão. Novamente, a origem turbinou o treinamento da classe. Duvida? Refaça essa ficha no passo a passo: rolagem de atributos; escolha da raça; escolha da classe; escolha da origem; equipamentos e rolagem do dinheiro. Outra opção seria: tendo perícias comuns a origem e a classe, escolher novas perícias de classe para compensar.

 

 Guilda dos Devotos de Arton: os personagens a seguir foram criados por mim, mas pensados exclusivamente para o contexto de Arton, cenário de Tormenta com as mudanças trazidas pelo livro Tormenta 20.

Zayn

Brenda de Arton
Osvaldo
Note que estes personagens potencializados pelos deuses de Arton estão subordinados aos deuses dos quais são devotos e estes são NPCs. Ou seja, o personagem jogador ganha poderes, mas o mestre pode interferir a qualquer momento forçando o jogador a fazer algo ou punindo o jogador por não ter cumprido determinado dogma ou obrigação. Os deuses de Arton não abençoam de graça.

Personagens Adaptados

Goblin do Cantinho, criado por Guilherme Dei Svaldi para a Guilda do Macaco.

    Nessa minha interpretação bem livre do Goblin do Cantinho para T20, parti do princípio que, antes de ter sido forçado a lutar na arena clandestina, o Goblin foi criminoso e, posteriormente, tornou-se ladino. Depois eu vi que tinha opções melhores de origens, que combariam até melhor com ladino ou com a história narrada na Guilda do Macaco e no podcast Dragão Brasil. Bem feito para mim! Antes de começar a criar qualquer coisa em um RPG é bom ler o livro inteiro antes.


Torun e Illariel, Personagens criados e interpretados por Thaís Colacino e Bueno Neto do canal e site Nerd & Nerd


Illariel

    Começando por Illariel, para que devoto tivesse eficiência, tive que escolher uma deusa, escolhi Allihana. Entretanto, Illariel é do mundo caótico do canal Nerd & Nerd, ou seja, mesmo mantendo as regras mecânicas de Allihanna para Tormenta 20, deveremos interpretar como deus elemental da Terra na hora de jogar no mundo caótico do canal N&N. Também deixei o amigo especial em aberto; neste caso, pode ser o próprio cavalo ou outro bicho que o(a) jogador(a) quiser.

Torun
 
Os itens iniciais de Torun não couberam no campo equipamento da ficha simples de 1 página.

 

Dica Final Sobre Devotos e Clérigos


    Antes de ser devoto ou clérigo de um deus de Arton, leia atentamente sobre o deus que será um NPC ao qual seu personagem estará subordinado(a). Principalmente se o mestre estiver usando o cenário de Tormenta e levando com rigidez o que está escrito no livro. Ser devoto é opcional para a maioria das classes, mas druidas, paladinos e clérigos não tem como não escolher uma divindade. Mestres, se forem mudar o cenário e manter o sistema (as regras mecânicas), não esqueçam de renomear certos tipos de deuses chave que estão em todos os cenários de fantasia, deuses da natureza, dos mares, elementos etc. O sistema d20 e suas variações são de licença aberta, os cenários e personagens pertencem aos seus respectivos autores.


Dicas Finais Sobre Origens


    Quer que seu mago seja guerreiro como em Senhor dos Anéis, onde todos os magos também sabem usar a espada? Role os atributos, escolha a raça, escolha a classe arcanista, escolha mago dentro de arcanista, escolha a origem Soldado.


    Quer que seu mago seja um mago melhor logo de início? Role os atributos, escolha a raça, escolha a classe arcanista, escolha mago dentro de arcanista, e agora temos várias origens que potencializam a magia, são elas: acólito; assistente de laboratório; curandeiro (se você quiser que seu mago ajude o clérigo do grupo); estudioso; e seguidor (você teve um mago como mestre e ainda tem um certo contato com ele, esta origem potencializa qualquer classe).


    As origens em Tormenta 20 não só te dão uma noção do passado do personagem como podem ser uma primeira multiclasse ou potencializadoras da classe escolhida. E ainda tem gente que diz que a magia foi nerfada! Se não puder ler o livro inteiro, leia ao menos tudo o que diz respeito ao personagem que deseja construir. Se você for mestre, é poque gosta muito de ler e já deve ter lido o livro inteiro.


Concluindo


    Sei que errei um tantinho, esqueci algumas armaduras básicas, mas você, leitor(a) irá ler o livro com mais atenção, usar lápis para preencher a ficha, corrigir minhas eventuais falhas e refazer os cálculos de forma mais correta. Essas fichas são apenas modelos para dar uma noção de como preenchê-las. Cabe a você superar seu mestre! Fora que se eu não passasse a caneta, o scanner não digitalizaria direito.




    Boas leituras e até breve!

quarta-feira, 10 de março de 2021

[Resenha] Caronte: A Crônica dos Penitentes – um RPG de Horror de Alan Rozante


RPG Para Maiores de 18 Anos!


    Caronte, A Crônica dos Penitentes é um RPG de horror escrito por Alan Rozante. Nele, os jogadores interpretam os agentes da morte, conhecidos como penitentes, e precisam colher as almas dos que acabaram de morrer conduzindo-as aos seus destinos no pós-vida. A parte inusitada dessa situação sobrenatural é exatamente o que qualifica o(a) personagem jogador(a) para ser um(a) ceifeiro(a): todos os agentes da morte são pessoas que em vida desperdiçaram seus talentos e não realizaram nada. Não foram bons, nem maus e foram recusados tanto pelo céu, quanto pelo inferno.


    Agora eles precisam coletar 30 moedas para fazer a passagem definitiva colhendo almas. Mas é claro que, em se tratando de um RPG, nada é tão simples. Existem ameaças e riscos a existência e a sanidade dos ceifeiros, sendo que a procissão das almas, os vampiros, os necromantes, os obsessores, o corpo seco, a pisadeira e as bruxas são só os mais emblemáticos. O que me lembra de que não devemos confundir a Bruxa com uma bruxa e me leva ao cenário propriamente dito: Sete Além.


    Sete Além é a cidade dos penitentes. Parece o nosso mundo, mas numa versão abandonada, em ruínas, ligeiramente diferente. Achou o nome do cenário familiar? O autor se baseou em livros e nas creepy pastas para desenvolver o cenário. Logo os leitores encontrarão muitos elementos familiares e referências ao longo da leitura do livro ou do jogo propriamente dito. Além de seres sobrenaturais, bruxas e necromantes, vivos comuns também podem aparecer como NPCs interessantes. Fora aqueles vivos que estarão a beira da morte e cujas almas os ceifeiros terão que coletar. E esse é um ponto crucial do jogo, os ceifeiros não devem matar, eles separam o espírito do corpo depois da morte para que a passagem seja feita, eles apenas cortam o fio de prata.


    O cenário é muito bem ambientado, os contos e as histórias de alguns ceifeiros são bem envolventes. Do ponto de vista narrativo e interpretativo, jogadores e mestres terão a exata noção de como é o cenário e de como ele deve ser interpretado. O livro também traz uma aventura pronta para o grupo iniciar os jogos. Nem é preciso lembrar que cabe ao mestre ler o livro todo para dominar cenário e sistema de regras. Mas, se você é um(a) jogador(a) e quer ter surpresas, leia a página 31 antes de criar seu primeiro personagem, uma vez que os passos de criação do personagem são um pouco diferentes da ordem de leitura corrida do livro.


    Com efeito, os elementos de criação (e as primeiras ambientações) de personagens jogadores vão do início do livro até a página 31 pulando para o capítulo 4; sim, essa mecânica é um pouco confusa, logo a página 31 é o guia rápido de criação de personagem jogador. Aqui, darei um breve exemplo de como criar um penitente iniciante, preenchendo uma ficha.


    A ficha precisará de um apêndice, que pode ser o verso da folha da ficha ou uma folha de caderno. O primeiro passo da criação de personagem é responder ao questionário da página 30. Vamos a ele:


    1) Como foi a vida do personagem? Boa. Altair Tales teve uma vida mediana, não foi de todo feliz, mas não pode se considerar triste, sofrido ou amargurado. Teve seus desafios, mas nenhum aborrecimento ou dificuldade maior. Nasceu em 1961, em São Paulo, capital e, fora algumas fases, lá viveu e morreu. Típica família classe média, tinha facilidade com matemática e na adolescência percebeu que tinha uma fascínio por eletrônica e pelos primeiros computadores pessoais. Decidiu ser um programador e parte de sua formação foi no exterior. Sua maior qualidade técnica era manter-se atualizado. Deixou em suas gavetas e HDs muita coisa não mostrada, afinal, arriscar-se numa empreitada para quê se já era um profissional bem pago e disputado no mercado. Algumas dessas ideias teriam sido consideradas geniais e precursoras, muitas delas estão defasadas para os dias de hoje e as melhores não passam de melhorias para programas e jogos que ele não desenvolveu. Descobriu-se ateu logo no colégio, quando percebeu que só conseguia acreditar no que poderia ser experimentado e duplicado. Teve um choque ao morrer e continuar existindo. Foi bom filho, mas um marido e um pai distante. Dois divórcios e um filho em cada casamento. Quando sua segunda ex-mulher descobriu que o filho era gay, eles se impressionaram com a naturalidade que Altair demonstrou ao proteger o filho de parentes e conhecidos preconceituosos. Essa aproximação deixou o primeiro filho enciumado, a ponto deste tomar atitudes homofóbicas para com o meio-irmão só por birra. Felizmente, nem seu mais velho  votou na chapa extremista que venceu as eleições em 2018.


    2) Como é seu personagem? Sua aparência é mediana em tudo. Branco, hétero, cis, nunca sofreu nenhum tipo de preconceito ou discriminação, mas nunca foi favorecido para além disso.


    3) Como foi sua morte? Morreu na pandemia da COVID 19 de COVID 19 em 6 de março de 2021. Mesmo com bons médicos, histórico saudável e recursos financeiros. Pelo menos viu a mãe, ainda viva, tomar a primeira dose. Seus filhos não se conformam, afinal, ninguém havia votado mal em 2018, ninguém tinha culpa daquele desgoverno.


    4) Como você se comporta enquanto Ceifeiro? Tentando ser o mais objetivo possível diante da situação. Ele compreende o choque do recém-falecido, mas acha que deve agir de acordo com a situação.


    5) O melhor e o pior sobre você? Meu melhor sempre foi minha objetividade e sangue frio. Isso tornou-me bem-sucedido e não me levou a grandes vícios, apesar de ser um hedonista convicto.

    Meu pior é uma certa soberba e indiferença. Se por um lado nunca agredi ninguém, por outro, os únicos agredidos que defendi foram parentes, um filho, colegas de trabalho e amigos.


    Como já dito, estas perguntas e respostas não cabem na ficha, mas podem estar no verso da ficha ou numa folha de caderno a parte. Agora você distribuirá 100 XP em potências segundo a tabela na página 17. Distribuindo 100 nos campos XP, colocando os valores correspondentes nos campos intelecto, psique e matéria e preenchendo os respectivos modificadores.


    Depois é distribuir outros 75 XP nas habilidades básicas de acordo com a tabela na página 21 combinada com a da 17. Daí calcular os modificadores com base no que a ficha pede com relação a distribuição destes 75 XP e dos modificadores das potências acima. Depois disso o jogador distribui 50 em habilidades especializadas, eu escolho computação e eletrônica, ponho 25 XP em cada e depois calculo os modificadores. Eu quero que Altair possa encontrar qualquer pessoa na Terra via meios eletrônicos. Não tenho medo de deixar meu personagem “quebrado”, pois penso que a longo prazo, ele pode melhorar.


    Agora vamos escolher as dádivas (os poderes) do ceifeiro. Todo ceifeiro tem epílogo e colheita, devemos escolher mais 3 na lista que começa na página 53. Eu escolho o capuz, em pele de fantasma e passo de Morpheus. Equipamentos os jogadores terão que conquistar, mas nosso hacker do além vai precisar de eletrônicos. E o oitavo são as habilidades profissionais/especializadas dele, como já disse, computação e eletrônica. Cálculos feitos, a ficha inicial dele segue abaixo. Lembrando que passei a caneta para o scanner captar, as fichas de RPG devem ser preenchidas a lápis ou eletronicamente em situações online.

    Em todo caso, o livro também traz fichas de personagens prontas para o uso dos jogadores que, ou chegaram atrasados, ou não gostam de criar personagens. Dica! Caso você fique em dúvida sobre como criar um personagem, tente recriar um dos personagens prontos. Se for um pouco mais experiente em RPG e ainda assim não entender direito, use uma (ou mais) ficha(s) pronta(s) como guia.


    A diagramação do livro e suas ilustrações são belíssimas. Ele possui um cenário e uma história bem envolventes e desafiadores. A regra é meio truncada, vide a ordem em que elas aparecem e a criação do personagem jogador por exemplo, mas nada que um grupo experiente não possa resolver. O maior problema disso é que mesmo com a temática sendo madura, o RPG é para maiores de 18 anos, o jogo não prevê que maiores de 18 anos podem ter em Caronte: A Crônica dos Condenados um primeiro RPG. Ou seja, a regra é hostil para com jogadores e mestres iniciantes no hobby.


    Concluindo, é um bom RPG com cenário e sistema entrosados, mas que nasce nichado, tanto em relação a faixa etária inicial, mais de 18 anos, quanto em relação a experiência que jogadores e mestres devem ter para jogá-lo, muita. Não é um RPG para quem nunca jogou RPG antes dos 18 anos.


    Caronte: A Crônica dos Penitentes está a venda no site da editora Macaco Dumal, ao preço de R$55,00 em versão digital e R$155,00  mais o eventual frete para a versão impressa. Também está disponível no Dungeonist, neste, com um fastplay e algumas aventuras grátis. Ou seja, se estiver sem dinheiro, não está fácil para ninguém, vá ao Dungeonist, procure por Caronte: A Crônica dos Penitentes e experimente!

Boas leituras, bons jogos e até breve!
Rodrigo Rosas Campos



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