terça-feira, 26 de outubro de 2021

[Matéria] Azzo Von Klatka, um Vampiro de Domínio Público NPC Para 3D&T

Adaptação livre por Rodrigo Rosas Campos

Desaconselhável para menores de 18 anos.

Introdução

    Azzo Von Klatka é o vampiro do conto The Mysterious Stranger escrito por um alemão Anônimo anos antes do famoso Drácula (e Stoker copiou muita coisa daqui). Já chegou a ser publicado no Brasil sendo uma das publicações mais recentes a do livro Contos de Vampiros 14 Clássicos Escolhidos de 2009. Esta é uma adaptação livre em versão NPC, afinal, não reli o conto, adaptei de memória e quem disse que ele foi destruído completamente? Hahahahaha!

A Ficha de 3D&T


    3D&T – Defensores de Tóquio 3ª Edição Alpha -Ficha de Personagem
    Nome: Azzo Von Klatka
    Pontos: 30
    Características:
    Força: 3
    Habilidade: 3
    Resistência: 3
    Armadura: 1
    Poder De Fogo: 1
    Pontos de Vida: 15
    Pontos de Magia: 15
    Pontos de Experiência:
    Vantagens: sobrevivência (2 pontos); esportes (2 pontos); forma de névoa (1 ponto); Aceleração (1 ponto); adaptador (1 ponto); paralisia (1 ponto); imortal (1 ponto); invulnerabilidade (3 pontos); telepatia (1 ponto); controle de animais (1 ponto); controle emocional (2 pontos); controle mental (2 pontos); riqueza (2 pontos) ele é dono de seu castelo; manipulação (2 pontos); audição aguçada, faro aguçado e radar (1 ponto).
    Desvantagens: vampiro (-1 ponto); dependência (0 ponto) sangue; maldição (0 ponto); fobia (-1 ponto); vulnerabilidade a químico (-1 ponto); munição limitada (-1 ponto).
    Tipos de Dano:
    Força: esmagamento.
    Poder de Fogo: perfuração (flechas).
    Magias Conhecidas: nenhuma.
    Dinheiro e Itens: castelo e arredores.
    História: The Mysterious Stranger – Anônimo – domínio público (https://souo.fandom.com/wiki/Full_Text:_Mysterious_Stranger). Já foi publicado no Brasil no livro Contos de Vampiros 14 Clássicos Escolhidos de 2009 da editora Pocket Ouro (https://www.skoob.com.br/contos-de-vampiros-27621ed30012.html).

Boas leituras, bons jogos e até breve!

sábado, 23 de outubro de 2021

[Resenha] Tecnodreams de Isaque Sagara

    Sem dar muitos spoilers, Tecnodreams de Isaque Sagara, texto e arte, é uma ficção científica em que a realidade virtual é a estrela. Será? Como toda boa ficção científica, Tecnodreams é sobre a nossa realidade, mas num pano de fundo futurista. Nesse caso, nem tão futurista aqui, uns 10 a 20 anos no futuro mais ou menos. Com influências do cyberpunk, o mundo de Tecnodrems é bem parecido, quase igual, ao nosso. As protagonistas são Cida, a empregada doméstica que mora na periferia, e Viviane, a patroa rica que é tenista, mas que conseguiu sua fortuna por herança.

    Em Tecnodreams, Cida acaba sendo voluntária para os primeiros experimentos em conectar o cérebro de forma direta com a máquina. Nesta história, a empresa quer estudar um novo tipo de entretenimento, um indutor de sonhos. Mas ir além daqui é dar spoilers. O maior objetivo da ficção científica é nos fazer refletir sobre nossa própria realidade e o texto desse quadrinho é certeiro neste aspecto.

    Nos desenhos estão pontuados os detalhes de que a trama se passa não muito longe em nosso futuro. Lembra do “será?” no início destas linhas? Pois é, as relações sociais são as estrelas e o realismo só dá espaço para a fantasia futurista bem aos poucos mesmo. Difícil dizer que é um excelente quadrinho sem dar spoilers para justificar. Digamos que Isaque Sagara está mais perto de Luís Fernando Veríssimo e de Nélson Rodrigues do que de Isaac Asimov. Acho, inclusive, que Isaque Sagara faz um texto passando a mensagem no meio da história de forma irretocável e excelente.

    Outro ponto brilhante são os desenhos e a narrativa gráfica de Sagara. Os desenhos são precisos e a leitura é lisa. E é um desenho que você voltará para apreciar de novo e de novo e de novo. Um desenho bonito e uma narrativa que conduz o seu olhar. Referências a cultura pop estão por toda a parte, mas se você não as reconhecerem, não se preocupe, você entenderá a história e, um dia, elas farão sentido e você relerá esta história com os olhos de quem pescou a referência. É uma história que ganha nuances com o passar dos anos de qualquer leitor(a).

    Lembrando que a história maior não é sobre uma máquina capaz de induzir sonhos, isso é só um dos panos de fundo para uma história que se passa entre uma humilde empregada doméstica e sua patroa tendo todos os arredores dessa relação mostrados em desenhos e diálogos brilhantes.

    A revista foi publicada por financiamento coletivo e estará disponível em gibiterias físicas e na Amazon a R$ 32,00 (mais o eventual frete) assim que os apoiadores da campanha receberem seus exemplares. Capa cartão, formato americano, miolo preto e branco, história completa, alguns extras em textos de convidados, pequena biografia do autor, lombada canoa grampeada. Foi publicada pela editora Ultimato do Bacon e pelo selo Negro Geek.

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos



sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Garimpando Em Gibiterias Especial – Astro City Volumes 6 e 7 – A Era Das Trevas Completa


Desaconselhável para menores de 18 anos.


    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Watchmen, Fradim, Maus e Piratas do Tietê ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    As pedras garimpadas de hoje são Astro City – Volumes 6 e 7 – A Era das Trevas de Kurt Busiek (texto); Brent Anderson (arte); Alex Ross (concepção visual dos personagens e capas); e Alex Sinclair (cores); publicadas aqui pela Panini.


Bem-vindo a Astro City!


    Astro City é a cidade que serve de principal cenário (e de título) para a série de minisséries e edições únicas de super-heróis escrita por Kurt Busiek. Normalmente, cada encadernado dessa série traz uma história fechada ou um conjunto de histórias fechadas com o mesmo tema - dentro da temática maior que é um universo de super-heróis.

    Mas, de todas as minisséries e edições únicas que compõe as histórias fechadas da série maior que é Astro City, A Era das Trevas durou bem mais que seis edições americanas originais de 24 páginas. Basicamente, foram 4 partes de 4 capítulos cada, totalizando 16 edições originais fora os extras e complementações da trama que compuseram os dois encadernados. Então veio a Panini e começou a publicar (e a republicar) Astro City no Brasil.

    A editora optou por trazer direto as versões encadernadas para tirar o atraso; republicar o que outras editoras já haviam publicado antes e acelerar o que faltava. Porém, cometeu um erro de cálculo terrível com A Era das Trevas. Como já dito, suas versões originais geraram dois encadernados para uma única história nos EUA.

    Alguém na Panini não reparou isso e, em 2016, publicou o volume 6 e esqueceu que, justamente essa trama em especial só terminava no seguinte, o 7. Só em 2018, a conclusão saiu. Hoje, 2021, com os Correios atrasando as minhas encomendas, resolvi reler A Era das Trevas, até porquê, já passou a raiva pela Panini por ela ter levado mais de um ano para terminar de publicar a história; então pude reler a história com calma; experiência essa que a Panini me negou no passado, ou alguém fica calmo esperando por mais de um ano o fim de uma única história?

    Voltando: aqui, falarei de Astro City: A Era das Trevas como um todo. Ela foi publicada originalmente nos EUA entre 2005 e 2010, mas se passa entre as décadas de 1970 e 1980, sendo que o início da trama é, especificamente, em 1972 com direito a flashbacks anteriores aos anos 1970.

    Quem acompanha Astro de muito tempo, sabe que algo terrível aconteceu ao Agente de Prata e que a população da cidade sente-se envergonhada pelo seu destino. A Era das Trevas é a trama que conta o que aconteceu da perspectiva de dois irmãos, um policial - Charles Williams - e um criminoso - Royal Williams.

    Os irmãos eram crianças e estavam juntos quando as ações da Piramide incendiaram o apartamento da família. O Agente de Prata estava por perto, mas não viu os garotos que escaparam do fogo sozinhos, enquanto os pais morriam queimados. Por terem se desiludido com os vigilantes e os super-heróis, um se torna policial, por achar que a lei deve ser feita e executada por humanos normais; o outro, motivado por niilismo, entra numa carreira criminosa. A Era das Trevas é narrada da perspectiva desses dois irmãos, pessoas comuns, sem poderes. Um do lado da lei e outro fora da lei.

    Tudo o que é preciso saber dessa história está nos volumes 6 e 7 de Astro City, mas vamos a uma contextualização mais abrangente, para este post não parecer tão largado em relação a série maior. Nos encadernados 1 ao 5 de Astro City, o destino do Agente de Prata é tido como de conhecimento de todos os habitantes da cidade e é um motivo de vergonha para os astrocitadinos. Em meio ao dia a dia de um policial e de um criminoso, é exatamente a história do Agente de Prata, permeada por outros personagens e suas histórias, que será contada.

    O agradecimento que Alex Ross faz a Bob Scheck, na época, editor da editora independente Dark Horse, é revelador. A Era das Trevas foi concebida para ser a PRIMEIRA história e foi apresentada a Bob Scheck que a recusou. Busiek e Ross queriam iniciar a série pela desconstrução dos super-heróis e mostrar a reconstrução aos poucos, mas todos os cenários e personagens eram inéditos.

    Scheck lembrou aos dois que nenhum leitor compraria uma trama similar a Watchmen com personagens totalmente inéditos em plenos anos 1990, mesmo depois do sucesso da dupla em Marvels e aproveitando parte da premissa desta, a perspectiva de seres humanos sem poderes, uma vez que os novos heróis mais sombrios, realistas e violentos já estavam bem banalizados nos anos 1990.

    Assim, Busiek, Ross e Anderson se concentraram no presente de Astro City, quando a imagem dos heróis já havia sido reconstruída. Ao longo das histórias iniciais, pistas foram sendo dadas para que o leitor soubesse que algo muito grave aconteceu ao Agente de Prata e que isso começou um pouco antes da morte do herói e repercutiu por muito tempo depois.

    Por mais que a viagem no tempo e outros elementos típicos de tramas de super-heróis estejam presentes na Era das Trevas, o leitor casual não se perde, justamente por acompanhar tudo isso da perspectiva de dois personagens sem poderes que não viajaram no tempo.

    Note que a série Astro City estreia na década de 1990 e, só em 2005, Busiek começa a contar para os leitores a história que é um marco para o cenário desde o início da série. Todas as pessoas comuns de Astro sabem o que aconteceu ao Agente de Prata, mas os leitores não sabiam. Vamos lembrar que as primeiras edições de Astro City foram publicadas nos EUA sob o selo Image antes de Reino do Amanhã da (na época) distinta concorrente e que Jim Lee, o editor, fazia parte da Image.

    O que aconteceu depois, a separação da Wild Storn da Image, a venda do estúdio de Jim Lee para a DC, Astro City sob o selo Ws e depois Vertigo, não vem ao caso agora. Mas Astro City foi um sucesso já no selo Image conquistando crítica, prêmios e público nos EUA. Sucesso que, infelizmente, não se repetiu no Brasil.

    Mas calma, você não precisa ler os cinco primeiros volumes. Se decidir, poderá fazê-lo até fora de ordem. Pode até ler os volumes seguintes sem problemas (neste caso, spoilers eventuais por sua conta e risco). Mas os volumes 6 e 7 DEVEM ser lidos nessa ordem. São os únicos volumes de encadernados de Astro que verdadeiramente dependem um do outro. O final do 6 está no 7 e o início do 7 é o 6. Aqui, não há negociação possível.

    Voltando: Charles, o policial, se vê no meio de uma corporação corrupta e é ameaçado de morte caso não aceite se corromper. Por outro lado, Royal é um batedor de carteiras pé de chinelo que, eventualmente, faz bicos para grandes chefões traficantes e está diante da possibilidade de uma promoção. Todavia, para que esta promoção aconteça, Royal terá que aceitar o que ele abomina, usar armas de fogo e matar.

    E para você, marvete, que acha que a Marvel é a casa das ideias, note a Estelaria combatendo uma invasão alienígena grávida muitos anos antes da Mulher-Aranha! E você DCnauta, continue quieto, pois Astro não pertence nem a DC, nem a Vertigo, pertence aos seus criadores! Sim, Astro City é 100% autoral!

    Mas a gravidez de Estelária não é a única surpresa de Astro para com seus leitores: como já disse, a história do Agente de Prata contada pelos dois irmãos é permeada por outros heróis, afinal, Astro City está em um universo de super-heróis maior. Kurt Busiek consegue surpreender com o uso de velhos arquétipos e clichês virando-os do avesso. Fica claro que Ross ouviu as ideias de Busiek até em relação a alguns visuais de personagens. Afinal, até os buchas de canhão precisam de visuais legais!

    Aqueles que julgam obras pela capa se surpreendem com a parte da história que apresenta o personagem Hellhound (Cão do Inferno na tradução da Panini). Os leitores que respeitam Busiek ficam curiosos para saber o que o autor fará com aquele arquétipo aparentemente manjado.

    As cores digitais são algo que me incomodam e isso está presente em A Era das Trevas. Os relâmpagos em torno da Veludo Negro são mais reluzentes e ofuscantes do que uma fotografia genuína de uma tempestade elétrica seria, por exemplo. A cor digital em quadrinhos quase sempre soa muito falsa. São pouquíssimos os coloristas que sabem como o efeito produzido numa tela de PC, num emissor de luz, ficará quando impresso num papel, um refletor de luz. E olha que Sinclair nem é dos piores.

    Bom, ir além daqui é dar spoilers. Você encontra os volumes 6 e 7 de Astro City fácil, fácil, em qualquer livraria ou gibiteria com site na Internet. Pode ser até que sua gibiteria favorita, mais perto de sua casa ou trabalho, tenha ambos. Compre os dois juntos se puder. Faça pesquisa de preços, vale a pena pesquisar preço mais barato? Sempre!

    Os dois volumes de Astro City: Era das Trevas são diversões garantidas para leitores de quadrinhos casuais, novos ou antigos de super-heróis. Bom, agora é torcer para que Astro City como um todo seja completada no Brasil, que ela não amargue as estatísticas de séries incompletas em nosso país. A Panini prometeu ir até o volume 12 e cumpriu, mas nos EUA, Astro City foi além.

    Quer conhecer mais deste garimpo de gibis? Na área de pesquisa deste blog, digite “Garimpando em Gibiterias” e clique no botão “Pesquisar”. Faça a mesma coisa no site Literakaos.

Você está deixando Astro City, dirija com cuidado! Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos


Para Saber Mais: Astro City no Brasil


    Astro City nunca foi vendida no Brasil da forma correta. Todos os editores enfatizaram suas promoções nas capas de Alex Ross, mas Alex Ross só é responsável pelas capas e pela concepção visual dos personagens que aparecem nas capas; é a maioria, mas não são todos. Isso criou uma expectativa nos leitores brasileiros de que achariam as páginas pintadas de Ross no interior das edições, e isso não aconteceu.


    Assim, os leitores ignoraram Astro, apesar de Brant Anderson seguir os parâmetros estabelecidos por Ross e usar os mesmos modelos vivos deste, sim Alex Ross usa modelos vivos. Antes de Astro City, Brant Anderson foi o responsável pela mais importante graphic novel dos X-Men, Deus Cria, o Homem Mata, escrita por Chris Claremont; publicada no Brasil tanto pela Abril quanto pela Panini. Anderson conhece e sabe usar anatomia, perspectiva, proporção e escala. Seu traço é impecável! Nos EUA, ele figura como um dos grandes, tão reconhecido quanto George Perez, Mike Grell, Frank Miller, Brian Bolland entre outros.


    Astro City é o universo de super-heróis criado por Kurt Busiek: ele criou um novo universo para mostrar a evolução dos super-heróis, tudo o que eles podem ser e todos os públicos DIFERENTES que eles podem atingir. É uma série que NÃO merece ficar conhecida por ser a série em que Alex Ross só faz as capas. Respeitem os textos de Busiek e os desenhos de Anderson. Sem eles, todos os super-heróis correriam o risco de terem acabado nos famigerados anos 1990, lembrando que originalmente, Astro City começou a ser publicada ANTES do Reino do Amanhã.


    Agora sim, você está deixando Astro City, dirija com cuidado!

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

[Resenha] Os Mitos de Lovecraft da Editora Skript Reúne Histórias Curtas Nacionais e Estrangeiras Baseadas na Obra de H. P. Lovecraft

 +18

    Os Mitos de Lovecraft da Editora Skript de 2020 não é mais um lançamento, mas é fácil de encontrar na Amazon e em várias lojas reais ou virtuais. Só consegui ler esse livro recentemente e este post demorou um pouco, pois não acho justo falar só sobre as histórias que mais gostei. Falarei um pouco de cada história, ainda que só o nome da história, autor e desenhista para não dar spoilers se ela for curta demais.

    O livro tem formato americano, capa dura, conta com autores e desenhistas nacionais e estrangeiros em uma só coletânea. Foi editado por Douglas P. Freitas e possui prefácio de Alexandre Callari (Pipoca & Nanquim), posfácio do editor, capa de Amaury Filho, agradecimento aos apoiadores do financiamento coletivo (terminado em 25/07/2020) e pequenas biografias dos autores, desenhistas e arte-finalistas.

    Como já visto no título da resenha, trata-se de uma antologia de histórias baseadas na obra de H. P. Lovecraft no universo criado por ele para o horror cósmico de Cthulhu e os outros monstros alienígenas/deuses ancestrais de sua família. Preciso ler algo anterior para entender as histórias desse livro? A resposta é depende.

    Para 5 das 15 histórias, sim, você precisará ser um iniciado nas obras de H. P. Lovecraft para embarcar nas propostas dos autores. Para 10 destas 15, não; vocês podem ler sem medo. Sem mais delongas, vamos as histórias na ordem em que aparecem no livro.

    Aeons por Salvador Sanz, o desenho é primoroso, o texto é bom, mas parece mais um prólogo do que uma trama curta completa. Falta uma história depois dessa introdução. Logo a primeira história é uma daquelas em que o leitor já precisa estar por dentro dos mitos, não é para novatos.

    Piloto por Julius Kcvalheiyro: no meio da guerra, um piloto é encontrado com um estranho ferimento. Conseguirá o grupo de soldados salvar o piloto da morte? É uma boa história. Curta, básica, despretensiosa, bem-feita e que não requer nenhuma leitura prévia.

    The Other Things por Danilo Beyruth. Ele fez texto e arte do que seria uma adaptação bem livre do conto Nas Montanhas da Loucura de H.P. Lovecraft. Mas apesar da reflexão da história ser passada, parece que falta algo, como se ele tivesse deixado um prólogo de uma história e não temos o resto, no caso, não temos o resto da adaptação específica dele. Enfim, quem leu o conto original encarará como um complemento. Quem não leu o conto original entenderá, mas verá uma história incompleta. Afinal, “o que aconteceu depois?” será a pergunta, pois a grande reflexão da história é entregue de bandeja antes do fim, ou melhor, da interrupção abrupta da narrativa. Essa é uma daquelas propostas para iniciados. “Você não gostou?” - Até gostei, mas eu já li Nas Montanhas da Loucura.

    O Abismo por Diego Moreau (texto) e Verônica Berta (desenhos). 1986, auge da guerra fria, um submarino russo leva um cientista civil alemão ao fundo das fossas Marianas. Estranhas vozes começam a aparecer nas cabeças da tripulação e o capitão começa a questionar quem será que realmente os enviou até lá. Mais uma vez estamos diante de uma trama cujo final parece um início de uma história maior que não será contada. Outra das histórias para já iniciados, minimamente, o leitor deve entender os elementos visuais da trama para entender o contexto maior.

    Lovecraft 2088 por Fred Rubim. Aqui, somos transportados para um futuro cyberpunk. Nesse contexto pode uma realidade virtual baseada numa ficção levar seus usuários a loucura real? É isso que dois espiões hackers estão prestes a descobrir. Mais um ponto para o básico bem executado. Essa é um ponto de partida para quem não conhece nada de H. P. Lovecraft ou de cyberpunk.

    Sob as Trevas por Douglas Freitas (texto) e Chairim Arrais (desenhos). Na era hiboriana, um cimério e uma ruiva estão entre soldados querendo recuperar uma pedra preciosa roubada por eles e um segredo monstruoso adormecido numa caverna. O segredo parece ser desconhecido de todos, pois nenhum deles estava preparado. Será que eles sobreviverão? Arte muito bem-feita! E o que os brasileiros fazem pela era hiboriana que os gringos não fazem? A deixam bem mais quente! Essa é para maiores! O melhor de tudo é que você, leitor ou leitora, não precisa conhecer nem os mitos de Cthulhu, nem a era hiboriana para entender. Essa história ressalta as interligações das obras de H. P. Lovecraft com as obras de Robert E. Howard e os pontos onde seus mundos fictícios convergiram. Mas quem fez o quê? Amei essa história, mas o título e os créditos deveriam estar na primeira página inteira do quadrinho. Seguindo as convenções com base no sumário e que foram confirmadas no posfacio, o primeiro nome é de quem escreve, o segundo é de quem desenha.

    Acórdão da Corte de Azathoth por Caio Henrique Amaro (texto), Rob Saint (desenhos) e Daielyn Cris Bertelli (arte-final). Essa é uma excelente paródia no melhor estilo Mad in Brazil! O que levaria seres alienígenas superiores ancestrais julgarem a humanidade indigna de continuar existindo? Que grande atrocidade foi cometida por um representante da espécie humana e quem foi essa pessoa? As respostas serão hilárias, bem como o desenrolar do julgamento! Segunda melhor do livro! Não requer nenhum conhecimento prévio.

    Um Passo Além do Umbral do Passado por Cayman Moreira. Tentar resumir essa história é dar spoilers. Os desenhos são incrivelmente bonitos, o texto é muito bom, cumpre o papel da antologia, gostei muito mesmo, mas faltou ir além da inspiração de H. P. Lovecraft. Faltou um toque mais pessoal do autor no texto. Ela tem um final aberto, pois dá elementos para o leitor imaginar possibilidades do que vem depois. Essa não requer nenhuma leitura prévia.

    Lave Bem Sues Pulmões por Fábio Ochoa (textos) e Camila Raposa (desenhos). Excelente, não requer leituras prévias. Confie em mim, é curta demais para eu comentar sem spoilers. Tem um tom inicialmente satírico, mas aborda a atual cultura do ódio e do cancelamento. Me lembrou o Pasquim.

    O Portal por Ally Ribeiro, depois da morte dos pais, uma menina vai morar com o tio, mas as relações dela com o tio não eram muito amigáveis e ela sai da casa de seu tutor. Anos depois, o tio morre em circunstâncias misteriosas e ela herda toda sua fortuna e a casa. O único quarto trancado e sem chave é o ateliê, onde ela nunca pôde entrar enquanto morava lá. Essa não requer leitura prévia. É boa.

    Crossroads por Terrance Grace (texto) e Sílvio DB (desenhos). Esta parte da premissa que Lovecraft intuía uma verdade na qual não acreditava e o trata como personagem fictício. Aqui, o(a) leitor(a) precisa ser iniciado dentro dos continuadores de Lovecraft para entender. É boa? Só se você já estiver no clima e muito mais pelos desenhos. O texto é clichê, bem ruim mesmo. Sem querer comparar e já comparando, Alan Moore fez melhor.

    Poppa Mamba por Yuri Perkowski Domingos; nas selvas do Vietnã, durante a guerra, um filho de político em uma busca exotérica vai para a selva do sudeste asiático e dá trabalho para um grupo de soldados veteranos, que lutam na guerra e deveriam estar de folga, mas tem que ir resgatá-lo. O que mais pode dar errado? Um dos melhores textos do livro com um desenho que parece propositalmente desleixado para enfatizar os absurdos das situações. Os personagens são desenhados de forma caricata e parece haver uma influência do saudoso Ota no texto de Domingos. Não precisa de leitura prévia para se entender.

    Éons por Alice Monstrinho requer que você já saiba o que é o Necronomicon e que ele já teve uma capa parecida com a desse livro em um filme antigo, embora nas histórias originais, ele se parece com um livro comum, vulgar e inofensivo. Esta é uma para iniciados entre iniciados. Na verdade, perece o meio de uma história maior.

    A Chegada do Vazio por Alexandre Callari (texto) e Leonardo da Silva Felipe (desenhos) uma menina sobrevivente num apocalipse zumbi tenta salvar um menino. Logo descobrirá que os vivos também podem ameaçar os vivos. O que a tona uma sobrevivente? Descubra lendo este conto que não precisa de leituras prévias.

    Cthulhu!? por Orlandeli é a história de alguém tão invisível que nem com um polvo na cabeça é visto. Não precisa de pré-requisitos, poética, triste, só não será entendida pelos que não são  capazes de nenhuma empatia. Até é a melhor do livro, mas apresenta uma abordagem tão nova que comparar com as demais é injusto.

    Sobre o livro como um todo: Vale a capa dura e o acabamento de luxo? Pelos desenhos até que sim. Mas é o tipo de edição que só vai agradar em cheio quem já gosta de H. P. Lovecraft, de quadrinho independente, de quadrinho nacional, de quadrinho estrangeiro e de terror nos quadrinhos. É um livro nichado demais. Mesmo com 10 histórias brilhantes e que não precisam de contextualização prévia, 5 de suas histórias não ajudam. Lovecraft tinha vários defeitos, mas ele sabia escrever histórias fechadas em si mesmas e ainda assim conectadas entre elas. Caso tenha se interessado, espere baratear.

    Perguntas que não querem calar: Gostei do livro? Das 15 histórias em quadrinhos, gostei de 10, logo, achei bom. Qual história mais gostei? Seria injusto falar de uma só pois Cthulhu!? por Orlandeli está muito fora da curva em todos os quesitos! É impecável e perfeita. Logo depois dela, destaco Acórdão da Corte de Azathoth por Caio Henrique Amaro, Rob Saint e Daielyn Cris Bertelli, uma excelente paródia no melhor estilo Mad in Brazil!

    Qual história menos gostei? Aqui também seria injusto falar de uma só, uma vez que as cinco que não gostei muito foram pelo mesmo motivo: usam o universo compartilhado de Lovecraft como muleta para não terem uma coerência interna própria. Se você não entender é porque não é um iniciado em Lovecraft e em seus continuadores antes das respectivas leituras. São elas: Aeons, The Other Things, O Abismo, Crossroads e Éons.

    Dessas, Crossroads foi a pior. Mesmo com um desenho fantástico, surreal e psicodélico, ela traz um texto horroroso que não passa de uma colagem de clichês Lovecraftianos que não agradará nada nem a novos nem a antigos leitores do autor. Em todas essas histórias me senti pegando uma edição de revista de meio de saga de super-heróis do eixo Marvel/DC. Só entendi estas cinco por estar familiarizado com o contexto maior. Lovecraft tinha vários defeitos, pessoais até, mas ele sabia escrever histórias fechadas em si mesmas e ainda assim conectadas entre elas. Você não precisa ter lido nada de Lovecraft anteriormente para iniciar a leitura de qualquer uma de suas histórias.

    É um livro que poderia ser melhor, mas em média os desenhos estão muito superiores ao texto e isso deixa as histórias desbalanceadas. Ainda assim o saldo final foi positivo, são 10 histórias que valem a pena num total de 15!

    Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

[Matéria] Astro City no Brasil Será Mais Uma Série Incompleta?

Rodrigo Rosas Campos

    Astro City é a série autoral de super-heróis com textos de Kurt Busiek, concepção visual e arte das capas de Alex Ross e a arte interna de Brent Anderson. Em Astro City há heróis representantes de todas as tendências e de todas as eras dos quadrinhos. Aqui no Brasil, a série passou por quatro editoras e os editores daqui nunca acertaram a mão com ela.

    Mas vamos ao contexto: aqui, a editora Abril publicou Marvels. Com o sucesso de Marvels, muito mais pela arte de Alex Ross, o Reino do Amanhã da DC foi publicado pela mesma editora pouco depois. E isso foi antes de Astro City ser publicada no Brasil. Entretanto, originalmente, Astro City saiu nos EUA entre Marvels e O Reino do Amanhã. Isso fez toda a diferença na recepção da série por aqui.

    O pouco sucesso de Astro City no Brasil se deveu ao nome de Alex Ross, mas, nessa série, ele só fez as capas e as concepções visuais dos personagens que apareceriam nas capas. Assim, muitos leitores brasileiros se ressentiram ao não ver suas pinturas em aquarelas foto realistas no interior das revistas. Nenhuma das editoras nacionais que trouxeram Astro City ao Brasil teve o cuidado de divulgar a proposta original da série, em que as ideias são predominantemente do escritor Kurt Busiek. A sensação de traição que o leitor brasileiro sentiu ao não ver a arte de Ross no interior das edições foi quase inevitável. Nos EUA, todos sabiam que Ross faria a concepção visual dos personagens e as capas, somente. Mais precisamente, Ross faria a concepção visual dos personagens que apareceriam nas capas. Mas vamos por partes.


    A primeira editora brasileira a trazer esse material foi a Pandora Books de 2002 até 2005. A segunda foi a Devir em 2006, que publicou dois encadernados. A terceira foi a Pixel Media, de 2007 até 2009, republicando muita coisa em mais de um especial e terminando por colocar Astro City num mix mensal sob o título Fábulas, que só durou quatro edições. Depois disso, Astro City ficou sem publicação no Brasil entre 2010 e 2014.

    A quarta editora foi a Panini, que assumiu a série de 2015 até 2019. Além de já ter republicado todo o material anteriormente publicado pelas demais. Ela foi a editora no Brasil que mais publicou Astro City com 12 volumes da série de encadernados, interrompendo a saga maior do Homem Quebrado, que fica incompleta, apesar de não afetar a sensação de conclusão dos volumes publicados. Busiek sabe escrever sem que o leitor se sinta no dever de assinar contratos vitalícios, isso é raro.

    Lá fora, a série primeiro foi publicada pela Image que se fragmentou, ficando com a Ws. Esta foi comprada pela DC, mas manteve o selo. A compra da Ws pela DC foi a verdadeira troca de editora, pois, quando os personagens de Jim Lee foram para o universo DC e o selo Ws acabou, Astro City foi transferida para o selo Vertigo, que era um selo que pertencia a DC. Lembrando que a DC/Vertigo não é proprietária nem de Astro City, nem de Vampiro Americano, nem de Y, o Último Homem, nem de Fábulas etc. Entretanto, a Vertigo (o selo Vertigo), hoje, acabou.

    O selo que substitui a Vertigo só publica (ou republica) a parte da Vertigo que é propriedade intelectual da DC, o que não é o caso de Astro City, que é de seus 3 autores. E como está Astro City lá fora hoje? Não sei. O que sei é que, originalmente, Astro City tem 17 volumes encadernados, aqui só vieram 12, e ainda foi prometida uma série de graphics novels que, até onde sei, não saíram nem lá fora.

    Voltando para o Brasil: a Pandora Books publicou a primeira série em formato de minissérie em três partes, com duas edições originais em cada edição nacional. Esse material foi republicado no volume 1 encadernado da Panini.

    A Devir lançou os dois encadernados mais adultos da série até então: Inquisição e o Anjo Caído. Estes foram republicados pela Panini com os títulos mudados para Confissão e o Anjo Maculado, respectivamente.

    A Pixel fez edições especiais enfocando personagens antes de pôr a série num mix de Fábulas que só durou quatro edições e apresentou uma história do Caixa de Surpresas. Esse foi o ponto louvável da Pixel: separar as edições por personagens. Assim a história de Astra pôde ser contada sem a advertência “desaconselhável para menores de 18 anos” que acompanha os encadernados da Panini.


    Acontece que Astro City têm personagens para todas as idades e gostos, mas na hora de encadernar, uma ou outra história mais pesada aumenta a classificação etária da edição inteira. Entretanto a Pixel, antigo selo do grupo Ediouro, resolveu não investir na série a longo prazo, abrindo mão de tudo o que era da DC que estava publicando até aquele momento. As revistas da editora traziam material dos selos Vertigo e Wild Storm, lembrando que, na época, Astro City era do selo Ws e Fábulas era do selo Vertigo. As edições da Pixel são memoráveis, mesmo não tendo publicado muito material, eles lançaram o guia turístico de Astro City para apresentar uma gama maior de personagens, bem mais do que a Pandora e a Devir juntas na época.

    A Panini, em sua série de encadernados, republicou tudo o que as editoras anteriores publicaram e foram além. Na época, ela alternava os encadernados entre o material mais antigo e da fase até então mais atual nos EUA, que, até então, era inédita no Brasil. Ao todo a Panini publicou 12 volumes de Astro City. Mesmo não completando a série, é a editora que mais publicou Astro City no Brasil.

    E agora? Agora, não sei. Há o risco real de Astro City prosseguir como uma das muitas séries de quadrinhos inacabadas no Brasil. Ou pior, ser completada em edições de luxo que estrangulem o potencial de formação de publico leitor que a série verdadeiramente tem. Uma vez que tudo no Brasil encareceu e se os quadrinhos simples estão mais caros, os de luxo estão mais caros ainda.

    Como Astro City é uma série de super-heróis autoral, com um só escritor enfocando a história da cidade e só mostrando o que é realmente relevante, ela é uma série de super-heróis sem pré-requisitos, cada encadernado é uma porta de entrada para qualquer leitor que nunca leu nada de super-heróis na vida. Ou seja, é uma série formadora de público. Com efeito, somente as edições 6 e 7 devem ser lidas nessa ordem. Com efeito, Heróis Locais (O volume 5) e a Era das Trevas I e II (os volumes 6 e 7 respectivamente) são ótimas portas de entrada tanto para os super-heróis em geral, quanto para o universo de Astro City especificamente.

    Quase todos os volumes da série (1, 2, 3, 4, 5, 8, 9, 10,11 e 12) trazem histórias completas e fechadas e podem, inclusive, serem lidos fora de ordem. É claro que há riscos de spoilers se você ler fora de ordem, mas o ponto fundamental é que o passado não é pré-requisito para entender as histórias presentes, poucos autores de quadrinhos conseguem fazer isso com super-heróis e ainda manterem uma cronologia; Busiek consegue utilizando o conceito de legado, personagens protagonistas se revezam com o tempo, alguns mantendo as identidades de seus antecessores, outros com identidades próprias, mas os arquétipos passam de geração em geração em legados.

    Restam aos leitores e leitoras que quiserem conhecer este universo o garimpo de gibis em sebos e gibiterias reais ou virtuais. Comprando edições nacionais ou importadas. As principais fontes de informação desse post, além dos encadernados lançados no Brasil são: o verbete em inglês de Astro City na Wikipédia e o site Herocopia, sancionado pelos autores de Astro City. Para um pouco mais sobre Astro City, clique aqui.

Boas leituras e até breve!



quinta-feira, 7 de outubro de 2021

[Resenha] Histórias Assustadoras Para Contar à Noite Traz 10 Contos Escritos por 10 Autores do Terror e do Horror

 

     Lançado aqui no Brasil pela editora Pipoca e Nanquim, Histórias Assustadoras Para Contar à Noite é uma antologia de contos de terror publicada originalmente em 2019 pelo editor inglês Stephen Jones e ricamente ilustrada por Randy Broecker, no melhor estilo dos quadrinhos da EC, com o título original de Terrifying Tales to Tell at Night: 10 Scary Stories to Give You Nightmares!

    A proposta do livro é exatamente a que está no título, histórias de terror para entreter crianças antes de dormir a luz de uma lanterna embaixo do rosto do narrador ou para serem contadas por adolescentes ao redor de uma fogueira em um acampamento. São histórias bem inteligentes. Oito destes textos foram originalmente publicados em revistas literárias, mas o livro também conta com dois contos até então inéditos feitos para ele em 2019, A Dama do Lado e A Química dos Fantasmas.

    Os autores são Neil Gaiman, R. Chetwynd-Hayes, Lynda E. Rucker, Stephen King, Ramsey Campbell, Manly Wade Wellman, Robert Shearman, Lisa Morton, Michael Marshall Smith e Charles L. Grant. Esta resenha não seria justa se eu falasse apenas dos contos de que mais gostei ou só dos autores mais famosos por aqui, por isso ela demorou para ser feita e postada.

    Outro ponto a ser lembrado com esse tipo de publicação é que estilos diferentes de escrita podem influenciar a velocidade de leitura dos leitores de acordo com os respectivos gostos pessoais. Não se assustem se demorarem mais em um conto do que em outro, isto não está vinculado só ao número de páginas, mas ao quanto o(a) autor(a) te prendeu na história mais do que o(a) anterior ou o(a) próximo(a). Uma dica é tentar resistir a busca pelos títulos e autores que mais te atraírem e tentar ler de forma linear, na ordem do livro. Acabei dando pulos, mas os contos são comentados abaixo na ordem do livro. Cada conto é uma história diferente e eles não são interligados mesmo. É um livro que pode ser interrompido sem culpas e retomado sem problemas. Sem mais delongas, os contos são:

    Clique-Claque, o Saco de Chocalho foi escrito por Neil Gaiman e publicado originalmente em 2013. Um monstro que toma a forma daquilo que você menos espera pode ser mais perigoso que um monstro que assume a forma daquilo que você mais teme? É o que descobriremos nesta curta e brilhante história de Neil Gaiman que justifica todo o sucesso e fama deste genial autor de contos, romances, quadrinhos, biografias etc.

    Monstro de Fabricação Caseira foi escrito por R. Chetwind-Hayes e publicado originalmente em 1976. Nessa história, um descendente de Frankenstein aperfeiçoa o método de seu antepassado e teme que o escoteiro intruso que entrou em sua casa para se proteger da chuva escreva sobre o experimento, como uma garotinha fez muitos anos antes com o experimento de seu tataravô.

    Muitos conhecem esse autor e não sabem, R. Chetwind-Hayes é o autor do livro que deu origem ao filme de televisão Clube dos Monstros de 1981. O filme de baixo orçamento compensa pelo talento dos atores, números musicais, uma boa base literária, o livro, e um roteiro adaptado impecável. Revi o filme antes de ler o livro e achei que ele continua genial apesar do tempo, do baixo orçamento e dos efeitos da época. Entretanto, a história desse livro, Monstro de Fabricação Caseira, não me pareceu ser uma das mais inspiradas histórias de R. Chetwind-Hayes. A expectativa é o pior dos monstros, talvez se eu fosse bem mais novo e nunca tivesse visto o filme, até tivesse gostado.

    A Dama de Lado foi escrito por Lynda E. Rucker e publicado originalmente em 2019. Chegamos na primeira história escrita para ser publicada pela primeira vez no próprio livro. Aqui, vemos que um ato banal como virar-se de lado pode ser terrível se quem o executa é uma criatura sobrenatural maligna quando quatro adolescentes resolvem invadir uma casa com fama de assombrada no dia das bruxas.

    Aqui Há Tigres foi escrito por Stephen King e publicado originalmente em 1968. E se um tigre aparecesse no banheiro da escola, o que aconteceria? Surreal? Um pouco. Curta, simples e direta. Me surpreendi com Stephen King escrevendo uma história realmente curta e foi a primeira história dele que gostei de ler. Esta já havia sido publicada num livro só de contos do autor no Brasil.

    A Chaminé foi escrito por Ramsey Campbell e publicado originalmente em 1977. Imagine quando o lugar mais assustador do mundo é o seu grande quarto, um quarto maior com uma lareira própria que parece uma boca assustadora. Será apenas um medo infantil? Quem acreditará na palavra de um menino? É bem escrita? O suficiente para não ser abandonada, mas a narração em primeira pessoa é arrastada e por vezes enfadonha. A pior do livro.

    Escola Para os Inomináveis foi escrito por Manly Wade Wellman e publicado originalmente em 1937. Um jovem chega em uma cidade desconhecida para entrar numa renomada escola. Mas é interceptado e levado por um estranho vestido de aluno veterano em uma charrete para um lugar que talvez seja a escola errada. Será apenas um trote? A mais antiga do livro, escrita por um autor que chegou a conhecer H. P. Lovecraft em vida.

    O Sorriso da Vovó foi escrito por Robert Shearman e publicado originalmente em 2009. O primeiro Natal da vovó depois da morte do vovô pode ser uma experiência inesquecível, principalmente para a garotinha e seu irmão mais novo diante da perspectiva de presentes bem específicos. Já disse que as expectativas são os piores monstros? Nem todos os presentes foram os esperados e nem todas as surpresas serão agradáveis. Uma história aterradora, quero mais Robert Shearman publicado no Brasil. Essa é a história que vale sozinha o preço do livro com o mais aterrador dos finais, estejam avisados.

    A Química dos Fantasmas foi escrita por Lisa Morton e publicada originalmente em 2019. Chegamos na segunda história escrita para o livro, inédita até então. É excelente! O fantasma de um professor de química assombra uma universidade e um garoto desaparece tentando investigar o caso sobrenatural. Cabe ao melhor amigo e a irmã mais velha do melhor amigo (que gosta que química) desvendarem o mistério e achar o garoto desaparecido. No caminho, o fantasma do professor que propõe um desafio com conhecimentos de química em todo seu potencial transdisciplinar envolvendo mitologia e história. Espero que mais de Lisa Morton seja publicado no Brasil. Adoraria jogar um videogame de mistério com roteiro escrito por ela.

    O Homem Que Desenhava Gatos foi escrito por Michael Marshall Smith e publicado originalmente em 1990. Tom é um homem misterioso que passa a morar em uma cidade pequena e ganha a vida desenhando e pintando quadros em praças. Ele também desenha em giz no asfalto alguns desenhos que parecem vivos, sobretudo de gatos. Tom é assustadoramente alto e seu passado será revelado aos poucos. Billy é um garoto local que sofre agressões do padrasto. O que acontecerá de tão estranho quando destinos aparentemente tão comuns se encontrarem? Ir além é dar spoilers.

    Vocês Têm Medo do Escuro? foi escrito por Charles L. Grant e publicado originalmente em 1984. Os três mais endiabrados garotos das redondezas esperam na casa de um deles a decisão que seus pais tomarão em relação aos três. Há uma babá tomando conta deles e nenhum deles gosta da garota. Há uma tempestade feia do lado de fora da casa e a babá resolve fazer um jogo novo com os três pequenos vândalos valentões. Como eles reagirão quando a escuridão se abater sobre eles? É isso que o leitor descobrirá ao ler o conto. Esse é bom, mas pareceu-me faltar alguma coisa. Até gostei.

    Voltando a falar da edição como um todo: há uma lista final com informações sobre todos os contos incluindo títulos originais, em que revistas foram publicados e as datas de publicações originais, sendo que os de 2019 foram inéditos para o livro. Aqui no Brasil, Neil Gaiman e Stephen King foram os grandes chamarizes de leitores. Lá fora, Stephen Jones, o editor original inglês, é famoso por editar livros de terror e horror na Inglaterra a ponto de suas coletâneas lá venderem pelo nome dele na capa.

    Ele é um dos poucos editores famosos por serem editores e prima por contos bem escritos, e quando digo “bem escritos” isso não significa que todos os leitores gostarão de tudo; gosto é pessoal. “Bem escrito” significa que, mesmo que você não goste de uma história ou outra, dificilmente ela será desagradável ou arrastada o bastante para que você queira abandonar a leitura no meio.

    Outra coisa a ser destacada em relação a edição original de Stephen Jones que a Pipoca & Nanquim manteve na edição nacional são as ilustrações. O editor original contratou um baita desenhista com um humor de quadrinhos da EC para ilustrar o livro em cada conto numa média de 3 ilustrações por história sendo um delas de página inteira e duas se referindo a cada uma das histórias específicas. Isso é um modelo que muita editora brasileira devia seguir. Uma diagramação sem firulas, mas com ilustrações competentes por história, isso é uma ambientação bem-feita.

    Mas nem tudo são flores na edição. A Pipoca & Nanquim esqueceu de pôr o título original em inglês do livro. Mas é só dar uma busca no Google que você acha rápido. Eu sou daqueles que acha que os contos deviam estar na ordem de publicação original, mas Stephen Jones pensa diferente e faz do jeito dele, fica legal também. E convenhamos, eu raramente sigo qualquer ordem quando leio um livro de contos. Mas para os que quiserem ler os contos na ordem cronológica de publicação original, fiz a tabela abaixo para ajudá-los:


    A edição é capa dura, bem produzida, padrão Pipoca e Nanquim, feita para durar. Lembra os livros do saudoso Circulo do Livro. Poderia ter uma versão mais econômica? Sim, afinal as histórias são formadoras de público. Poderia ser mais barata ainda tirando as ilustrações fantásticas de Randy Broecker? Por favor, não. Entre ilustrações gerais e mais específicas, a melhor foi a de página inteira para A Dama de Lado. Agora vamos para as perguntas que não querem calar:

    Alguns contos fazem parte de séries maiores? Não. Todos os contos são independentes e autocontidos.

    Eu gostei do livro? Sim. Dos 10 contos, gostei de 8, então achei o livro muito bom.

    Qual conto que mais gostei? O Sorriso da Vovó foi escrito por Robert Shearman, a mais aterradora história do livro. Editores, mais histórias dele, por favor. Mas nesse caso, eu não seria justo de destacasse apenas um dentre os que mais gostei. O segundo que mais gostei foi A Química dos Fantasmas, escrito por Lisa Morton. Me fez gostar de personagens que eu normalmente não gostaria e me fez gostar de aprender coisas interessantes sobre química que os professores escolares negligenciam. Quero mais Lisa Morton publicada no Brasil. Menção honrosa para O Homem Que Desenhava Gatos de Michael Marshall Smith, também quero ler mais histórias dele.

    Qual conto eu menos gostei? A Chaminé de Ramsey Campbell possui uma narração em primeira pessoa de um personagem enfadonho e prolixo. Poderia ter sido cortado em bem mais que a metade. Excesso de detalhes desnecessários não é amedrontador, é entediante. Segue a tradição de Edgar Allan Poe em que você pode questionar se os fantasmas existem ou se são só criações das imaginações perturbadas dos personagens, mas sem um estilo poderoso, só uma cópia barata e desonesta. Neste conto, o autor, Ramsey Campbell, não passa de um embuste.

    Vale o alto preço (mais o eventual frete)? Essa é uma pergunta com várias respostas: pela qualidade gráfica, sim. Se você gosta de terror e horror em geral, sim. Se você já é fã de um ou mais autores presentes no livro, sim, afinal, o único conto que já tinha sido publicado por aqui, que eu saiba, foi o do King num livro só dele. Se você quer experimentar vários autores ao mesmo tempo, sim. Vale ressaltar aqui que: parte dos contos e dos autores, apesar dos dois mais famosos, era inédita no Brasil.

    Há versão digital disponível? Sim, mais barata. Não sei qual é o preço dele hoje, afinal, a editora Pipoca e Nanquim trabalha prioritariamente com a Amazon e esta tem promoções o tempo todo, no final, o preço pode variar de acordo com a data em que você chegou aqui.

Boas leituras!? É um livro de terror e horror, bons sustos e pesadelos, hahahahaha!

Rodrigo Rosas Campos

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

[Resenha] Ménage #3 - Marcatti, Germana Viana e Laudo Ferreira Estão de Volta Com um Saca-rolha na Ménage

Desaconselhável para menores de 18 anos!

    Ménage #3 traz 40 páginas, 3 autores e 12 páginas por autor(a). Os três são encarregados tanto dos respectivos textos quanto dos desenhos e das arte-finais. Mas antes de continuar, vale lembrar que Ménage #03 é uma revista em quadrinhos erótica, seus maldosos! A palavra da vez é saca-rolha. Para os qua ainda não conhecem a série Ménage, que absurdo, cada revista tem um tema e o tema é um objeto, um substantivo concreto não vivo, e o dessa edição é saca-rolha.

    A primeira história deste segundo número é Nós Quatro em Sobre Medos e Cowboys de Germana Viana. A saga dos casais continua em pleno carnaval. Benedito e Ernesto precisam buscar um saca-rolha para a festa na casa deles. No caminho, porém, um garoto sofre agressões de valentões. É claro que nossos heróis, um Zorro e um Cowboy podem se atrasar um pouquinho para ajudar um inocente. Como isso termina? Aí tem que ler, ou você quer spoilers?

    Em seguida vem Cadê Meu Saca-rolha? de Marcatti. Dois amigos, um dono de bar e seu cliente de longa data falam da perda de seus casamentos. Então o dono decide fechar o bar e abrir um vinho de uma safra especial para o amigo, mas não encontra o saca-rolha. Como eles abriram o vinho e como foi o resto da noite? Você não quer spoilers, quer? Foi o que pensei. História de 6 páginas.

    Depois temos Assim Caminha a Humanidade de Laudo Ferreira. A louca história de que um dos pregos que crucificou Cristo foi transformado em um saca-rolha para que mãos erradas não o possuam é passada de geração em geração até o tal objeto ser encontrado. Mas será isso verdade, picaretagem ou só uma questão de fé? É o que nossos ambiciosos caçadores de tesouros estão prestes a descobrir. São tantas camadas nesta história desde a aventurona pulp estilo Indiana Jones até um final que faz pensar.

    “Mas a conta não bate, como a história do Marcatti tem 6 páginas se cada autor tem 12 páginas?” E, terminando esta segunda edição, temos a outra história do Marcatti com 6 páginas mostrando como foi produzida uma certa Safra Especial de vinho. Me pergunto se outros litros dessa safra aparecerão no futuro da revista Ménage. Espero que sim.

    A história da Germana é mais erótica, as do Marcatti são mais pornográficas. A história do Laudo começa como uma aventura com um pouco de tudo e termina filosófica. O preço da edição é de R$ 20,00 (mais eventual frete), miolo preto e branco, grampeada, formato paraguaio (americano reduzido). Nesta edição, Marcatti faz a capa e a ilustração na segunda capa. São histórias primorosas de três grandes nomes atuantes nos quadrinhos nacionais contemporâneos. O próximo Ménage será numa piscina…, digo, o tema da edição quatro da revista Ménage será piscina. Mais sobre os autores? Então vamos!

    Germana Viana também é coautora, editora e organizadora da série de terror erótico Gibi de Menininha (germana.iluria.com).

    Laudo Ferreira é o criador da Tianinha desde os tempos em que ela aparecia na revista Sexy (https://laudoferreira.com/categoria-produto/publicacoes/).

    Marcatti é o criador do impagável Frauzio (https://www.marcattihq.com.br).

    Os gibis também se encontram em algumas gibiterias virtuais, caso se esgotem nas lojinhas dos autores. Estarão disponíveis a todos, depois que os apoiadores do financiamento coletivo tiverem recebido seus exemplares. Se você já está no futuro, as edições estão disponíveis.


Boas leituras!

Rodrigo Rosas Campos

[Resenha] Diário Macabro RPG Versão Beta

    Sim, isso é uma resenha de um RPG em fase beta. Descobri esse sistema ao consultar o site da editora do quadrinho Ink Madness . Diário ...