quinta-feira, 5 de junho de 2025

[Matéria] Regras de Adaptações de Universos Ficcionais Para Sistemas de RPG Que Acho Prudente Seguir


Rodrigo Rosas Campos


    Um grupo de RPG gosta de um livro, quadrinho, série etc. que não possui adaptação oficial. Ou ainda, a fonte da obra tem adaptação oficial, mas o grupo não curtiu o sistema. Quais são as regras de adaptações de obras para um cenário de RPG que seria prudente que todos os grupos seguissem?

    A primeira é que todos tenham contato com a fonte e que gostem da fonte. Para exemplificar, vamos dizer que é um livro (ou série de livros) que será adaptado. Nenhuma ambientação será tão legal quanto a leitura da história e a discussão do grupo do que será feito na mesa de RPG. A leitura da fonte pode ser anterior a sessão zero do grupo. Se for um filme, o grupo pode, inclusive, marcar um dia para assistir junto e por aí vai. Ou seja, o ideal é que todos no grupo estejam familiarizados com a obra que será adaptada e a apreciem.

    Para evitar brigas entre os jogadores, todos os personagens publicados serão NPCs. Os jogadores terão que criar seus personagens do zero dentro do contexto da obra adaptada. Aqui, caberá ao mestre definir como os personagens iniciantes dos jogadores se encaixarão no contexto da obra adaptada pelo grupo. Isso variará de acordo com a história que serve de fonte.

    O grupo deve estar disposto a mudar a história da obra; a menos que a aventura parta de onde o livro, filme, série, quadrinho etc. tenha terminado, a história poderá mudar na mesa. Se alguém do grupo não estiver disposto a mexer na obra original de jeito nenhum, melhor criar um universo similar de uma vez, afinal, os dados são cruéis tanto para os jogadores quanto para o mestre.

    Se o mestre quiser permitir que os jogadores interpretem os personagens da história, eu sei que existem pessoas teimosas, a sessão zero será mais longa e terá que estabelecer que: o jogador não poderá ser um personagem publicado escolhido pelo mestre como um NPC; e que dois jogadores não poderão interpretar o mesmo personagem.

    Agora se o mestre permitiu que os jogadores sejam personagens publicados e todos os jogadores querem ser o Conan, isso pode evidenciar um mestre sádico que quer transformar a sessão zero numa arena de gladiadores para ver quem será o Conan? Pode. Se o mestre estiver com um balde de pipocas e um copo de refrigerante do lado antes de iniciar a sessão zero, isso é um indício grande de que ele será um sádico. Melhor fugir de mestres que permitem que os jogadores sejam personagens publicados. Até por que, a graça do RPG é cada jogador criar e evoluir seu próprio personagem. Até porque nem só de bárbaros viveu a era hiboriana.




    Para alguém que não teve contato com a obra original que queira entrar no grupo deve estar avisado de que: poderá tomar spoilers. O grupo pode decidir que só entra na mesa quem leu o livro (ou o quadrinho), quem viu o filme etc. Ou seja, o grupo no meio da aventura ou campanha pode decidir que só entra no grupo quem conhece e gosta da obra adaptada.

    Mesmo que o cenário permita multiverso, melhor não usar esse recurso nas primeiras aventuras e campanhas. Fora isso, o bom e velho bom senso.


    Boas leituras e bons jogos!

terça-feira, 27 de maio de 2025

Garimpando em Gibiterias Especial Revisado: Projeto Superpowers: Um Filho de Watchmen com Super-heróis de Domínio Público

Por Rodrigo Rosas Campos

    Projeto Superpowers é uma série de minisséries que foi publicada nos EUA pela editora Dynamite. No Brasil, a Devir trouxe apenas a primeira minissérie direto para o formado encadernado e é esta edição que será resenhada e revista aqui. A Dynamite, uma editora dos EUA, queria um universo para chamar de seu (e de quebra um genérico de Watchmen também). Muitos de seus títulos são de propriedade dos próprios autores ou vindos de licenciamentos. Assim sendo, a editora chamou o já consagrado Alex Ross para criar o que ele desejasse usando super-heróis que caíram em domínio público nos EUA e fundar um universo para a editora no esquema “work for hire”. Ross topou o desafio.

    No mundo de Projeto Superpowers, os super-heróis ajudaram a vencer a segunda grande guerra, logo depois, despareceram e foram esquecidos. Mas o que aconteceu de fato é o que ficamos sabendo nas páginas da série. Acreditando que poderia salvar a humanidade de todo o Mal do mundo, o Combatente Yank trai e aprisiona quase todos seus aliados na urna mística conhecida como a Caixa de Pandora, pois o Mal só poderia ser contido definitivamente, se a esperança também estivesse confinada e os super-heróis fantasiados representam a esperança encarnada. O próprio Combatente Yank é recusado pela urna, pois, segundo essa crença, deixara de fazer parte da esperança quando viu o Mal com seus próprios olhos.

    Mas o Lama Verde se refugia em Shangri-La antes de ser capturado pelo Combatente e, por alguma razão, somente o Dinâmico e sua família não são aceitos pela urna. Mal sabia o ingênuo Combatente Yank e seu mentor fantasma que tudo não passava de uma grande armadilha. Com os super-heróis aprisionados na urna de Pandora e os supervilões livres do lado de fora, o mundo é dominado por uma grande conspiração.

    Quando o Combatente Yank já se encontra em idade avançada, um indignado Espírito Americano o convoca para destruir a Caixa de Pandora e libertar os heróis aprisionados para restaurar a liberdade ao mundo. Nesse momento vemos a rivalidade entre o Espírito Americano e o fantasma mentor do Combatente Yank, rivalidade esta que só será explicada no decorrer da trama.

    O Combatente Yank precisa da ajuda do Lama Verde para começar a executar seus planos de resgate. O Dinâmico é desmascarado como um robô a serviço da organização invisível que domina o mundo. A urna é quebrada pelo Yank, mas os heróis voltam em lugares aleatórios do mundo e modificados pelas décadas de aprisionamento na urna. Agora, um debilitado Combatente Yank, o Lama Verde e o Terror Negro precisam percorrer o mundo em busca de seus antigos aliados.

    Os heróis foram modificados pela caixa de Pandora e muitos que eram só vigilantes voltaram com superpoderes e os que já eram superpoderosos voltaram com modificações, esses novos poderes são muitas vezes bizarros. Puristas torcerão os narizes com o que foi feito com eles. Certo, no Brasil, ninguém liga, mas os americanos conhecem bem mais do que DC e Marvel e são bem chatinhos. O ponto é que: Ross teve total liberdade de modificar os personagens, alguns podem não gostar, mas a história fica até boa (não excelente) só por isso.

    A história é boa? Até é. Não é original no sentido de nova, mas prova que não existem personagens menores e sim escritores menores ou inapropriados. Há muita referencia a autocensura dos quadrinhos estadunidenses, o Comics Code Authority, pois em alguns ângulos a caixa de Pandora remete ao selo do código. Alex Ross desenvolveu a história com a ajuda do roteirista Jim Krueger só para chutar o então cachorro morto Comics Code Authority. Nesse sentido, há um certo mau gosto em chutar cachorro morto.

    Apesar do plot de “heróis retornarem num mundo aonde está tudo errado e tudo terá que ser consertado” padrão sombrio e realista já estar desgastado em 2008 (no lançamento original), a trama é até boa. Mas a esta altura o público já esperava mais de Alex Ross e Jim Krueger, eles fizeram uma reconstrução para personagens que nem chegaram a era de prata e que nunca foram desconstruídos depois.

    Mas o que fez de Projeto Superpowers um alvo fácil de crítica e público foi o fato de que, Ross teve a pior equipe possível para cuidar da arte interna. Alex Ross escreveu a história que foi transformada em um roteiro mais elaborado por Jim Krueger, fez toda a direção de arte, concepção visual dos personagens, as capas da série original, mas os artistas que cuidaram dos quadrinhos internos não tinham talento para emular o estilo de Ross e as colorizações por computador de época só pioraram a situação. Se, pelo menos, a arte interna fosse boa, o roteiro cheio de furos de Projeto Superpowers seria, ao menos, relevado. Seria uma história divertida, mas não memorável, se a arte interna fosse bem cuidada.

    Há uma cena com ondas em que elas parecem mais esculturas em resina (totalmente estáticas) do que fotos de ondas do mar; o Demônio Desafiador aparece pela primeira vez parecendo um Hulk bicolor e, no quadro seguinte, parece que foi usado um boneco do He-Man original como modelo numa cena em que o personagem está de perfil. Quem olha as capas do Ross e as concepções visuais dos personagens reconhece que, Ross usou no Demônio Desafiador o mesmo modelo vivo que serviu para o Batman em seus trabalhos para DC. Tudo isso se perde com a equipe de desenhistas que fazem o interior de Projeto Superpowers.

    Nem vale a pena escrever os nomes dos ilustradores internos. Em relação aos encadernados da Dynamite há aquela carência de extras textuais, não culpem a Devir nem os demais editores nacionais. Temos páginas e páginas de desenhos de Ross, mas pouquíssimas informações sobre as histórias pregressas dos personagens, tanto de suas origens e motivações na ficção, quanto da caminhada editorial de seus títulos.

    Apesar de todas essas falhas, vale pelas capas de Ross e a história é até boa se você não pensar muito. Deve ser fácil encontrar em lojas virtuais e em promoções. Reconheço que tendemos a esperar mais de Ross, mas Projeto Superpowers vale a pena pelo simples fato de ser melhor que muitas revistas mensais de super-heróis de hoje. Traz personagens desconhecidos do grande público em situações em que os escritores tiveram total liberdade de trabalhar, isso é legal de se ler.

    Fora que foi a primeira vez que o Daredevil original da Era de Ouro teve um reconhecimento mundial devido, ainda que só pelo nome do Alex Ross. Embora ele tenha sido rebatizado pela Dynamite nos EUA para não bater de frente com a Marvel, aqui teve a tradução correta que seu homônimo famoso não tem e nunca teve, Demônio Desafiador, que agora é um nome associado a um personagem de domínio público no Brasil e que, certamente, a Marvel/Disney relutarão em usar por aqui no futuro por isso mesmo.

    Apesar da arte à Image e da história meio fraca, seus olhos não cairão se você conferir. Boas leituras.

terça-feira, 20 de maio de 2025

[Matéria] Nedor no Brasil, História Rápida de Uma Vida Curta

Rodrigo Rosas Campos

    Das editoras de super-heróis que mais sofreram com o Comics Code Authority, a que detinha o maior número de títulos e personagens famosos era a Nedor Comics. Apesar da grande popularidade do Daredevil original da Lev Glesson nos EUA, era a Nedor que mais rivalizava com a National Periodics e com a Timely Publications, atuais DC e Marvel respectivamente, desde os primeiros anos dos super-heróis.

    Com efeito, os heróis da Nedor foram publicados inclusive aqui no Brasil. A editora La Selva publicou um mix da Nedor no Brasil em que o Terror Negro deu nome ao título. A revista se chamava Cômico Colegial apresenta o Terror Negro. Porém, devido a baixas vendas e do fim do licenciamento do material da Nedor, que, apesar de ter sido fechada nos EUA, ainda tinha os direitos dos personagens, o nome Terror Negro foi mantido numa revista de terror bem famosa.

    Os heróis da Nedor que participaram do mix eram: o Terror Negro, que, na verdade, pouco aparecia; Detetive Fantasma; Combatente Ianque; Homem Miraculoso (o Wonder Man original) entre outros. A revista, nessa primeira série foi do número 1 ao 8, todas em 1950, ao tornar-se um título de terror/horror, voltou ao 1. A moral do Terror Negro era tão baixa que seu número 1 contou com o Homem Miraculoso/Wonder Man na capa.

    Apesar da pouca fama no Brasil, Terror Negro é um dos personagens de domínio público com o maior número de releituras. Fique à vontade para pesquisar na Internet. Mesmo sem os seus irmãos da Nedor, ele é um dos personagens mais revisitados pelos autores e desenhistas de quadrinhos independentes nos EUA. Duvida? Pesquise Black Terror no Google imagens.

    Porém, ainda antes de ser transformada em um título de terror, a revista que teve o personagem Terror Negro, Cômico Colegial apresenta, passou a ter outros personagens nas capas, sobretudo cowboys, que, na época, faziam mais sucesso que super heróis.

    Enquanto isso, nos quadrinhos estadunidenses, a influência da Nedor é sentida até hoje. Seus personagens caíram em domínio público pelas leis dos EUA e muita coisa foi feita com eles e a partir deles.

    A Terra Obscura de Alan Moore foi criada como uma série derivada de Tom Strong, utilizando somente os personagens da Nedor para o selo ABC da Ws. Esta foi comprada pela DC, estas séries entraram no selo Vertigo e, hoje, pertencem a DC pelo acordo que Alan Moore fez com Jim Lee antes da Ws ter sido comprada pela DC.

    Alan Moore fez um contrato com Jim Lee cedendo direitos. Estas séries foram planejadas para serem fechadas (ter início, meio e fim), em todo caso, não iriam além do contrato original de Moore em função das brigas deste com a DC (até hoje) e com Jim Lee (na época).

    Aqui, a Terra Obscura foi publicada pela Devir e pela Panini, mas somente como parte de Tom Strong. Suas histórias próprias nunca chegaram aqui. Como o contrato de Moore com Jim Lee previa a cessão dos direitos autorais, tanto Tom Strong como Terra Obscura foram continuadas após a saída definitiva de Moore da Ws, depois Vertigo, e agora somente DC.

    Aparentemente, o Projeto Superpowers da Dynamite tinha o objetivo de unificar todos esses personagens que caíram em domínio público em um único universo, ou seja, os da Nedor não foram os únicos. As baixas vendas devem ter interrompido o projeto original. Alex Ross, o idealizador da série cedeu os direitos. No Brasil, a Devir só publicou o primeiro encadernado contendo a primeira minissérie mais a edição zero de prelúdio.

Quase esqueço,Terror Negro (Black Terror) foi criado por Richard E. Hughes e Don Gabrielson em 1941. Alguns outros personagens da Nedor são: Captain Future de Kin Platt em 1940; Fighting Yank (Combatente Yank) foi criado por Richard E. Hughes e Jon L. Blummer em 1941; Miss Masque de Autor desconhecido, possivelmente Alex Schomburg e Frank Frazetta em 1941; Wonderman (Homem Miraculoso) criado em 1944 por autor desconhecido; Pyroman de Jack Binder em 1942; Front Page Peggy de Autor desconhecido em 1946; Phantom Detective (o Detetive Fantasma) de D. L. Champion em 1933. Tem mais, mas a lista é enorme e esta história rápida de uma vida curta é só um resumo que acaba aqui.

     Imagens das capas extraídas do Guia dos Quadrinhos, vide fontes. Outras imagens de outros sites, vide fontes também.

Fontes


    Comic Book Plus (+)
    http://comicbookplus.com

    Comic Vine
    http://www.comicvine.com

    The Digital Comics Museum
    http://digitalcomicmuseum.com

    Grand Comics Database
    http://www.comics.org

    Guia dos Quadrinhos
    http://www.guiadosquadrinhos.com/
    http://www.guiadosquadrinhos.com/capas/comico-colegial/co050199

    Internet Archive
    http://archive.org

    Wikia - Public Domain Super Heroes
    http://pdsh.wikia.com/wiki/Public_Domain_Super_Heroes

    Wikipedia
    http://www.wikipedia.org

sábado, 3 de maio de 2025

Leitura Recomendada: Noite Na Taverna de Álvares de Azevedo


 

Falar de certos livros e elogiá-los é como chover no molhado. São obras que já foram lidas, relidas, comentadas, resenhadas e recomendadas inúmeras vezes. Mais uma resenha de um desses livros não faria a menor diferença. Entretanto são leituras que não podem deixar de serem recomendadas. São livros fundamentais.

   Esta série, Leitura Recomendada, trará alguns desses livros em periodicidade indefinida. Sempre acompanhada de uma frase ou paráfrase ou citação para mostrar aos que seguirem a recomendação que o livro recomendado foi realmente lido por quem recomenda.

  Não se preocupe, a frase, paráfrase ou citação não se tratará de spoiler, mas de algo que só os leitores que lerem realmente o livro recomendado entenderão.

    A leitura recomendada de hoje é Noite Na Taverna de Álvares de Azevedo. A edição usada aqui é da editora L&PM, de bolso, R$21,90.

    Frase, paráfrase ou citação, na verdade, um parágrafo de comentário: a escola romântica é subestimada, nem todo texto romântico é água com açúcar. Neste livro, de apenas 90 páginas, cinco homens bebem, fumam e conversam numa taverna. Cada um deles com um crime passional nas costas, finais nada felizes. Leia na ordem, pois há uma história maior. E paro aqui, antes de spoilar.

   Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos

[Matéria] Regras de Adaptações de Universos Ficcionais Para Sistemas de RPG Que Acho Prudente Seguir

Rodrigo Rosas Campos     Um grupo de RPG gosta de um livro, quadrinho, série etc. que não possui adaptação oficial. Ou ainda, a fonte da obr...