sábado, 6 de novembro de 2021

[Resenha] Tetris: Os Jogos Que as Pessoas Jogam de Box Brown

   Aviso, não consigo deixar de ser apaixonado por Tetris e por quadrinhos. Até acrescentei informações que não estão no livro. Ou seja, não consigo ser imparcial com Tetris. Tetris e quadrinhos são as duas maiores paixões da minha vida! Por isso, tentarei escrever essa resenha sem babar, muito. Afinal, sou leitor de quadrinhos e um jogador apaixonado por Tetris.

    É claro que antes de Box Brown publicar este quadrinho, eu já conhecia a história do melhor videogame de todos os tempos, o Tetris, de várias reportagens lidas. Todas elas e este livro (inclusive) trazem informações complementares. Informações que estão em todas ou que estão em algumas ou que estão em só uma, fora o que não lembro se já li antes. Mas vou respirar e tentar falar deste quadrinho só pelo aspecto quadrinho. Se você já conhece a história do Tetris, pule a parte do resumo e vá direto para minha opinião sobre o quadrinho.

    Como o que importa aqui são os detalhes do meio da história e como tudo isso já foi notificada pela imprensa, quem nunca leu nada a respeito de Tetris e não quiser saber nada antes de ler o livro, o livro é bom, pode procurar e ler sem medo. Também acabei colocando coisas na resenha que não estão no livro pelas várias reportagens sobre videogames que li ao longo da vida em revistas de informática e jogos.

    A história começa na antiga URSS, 1984, Moscou, o Centro de Computação na Academia de Ciências. Alexey Pajitnov criou o Tetris tentando adaptar o jogo de encaixe de peças de madeira Pentaminós para computador. Como ele queria dar um movimento de queda para as peças, elas deixaram de ser formadas por cinco quadradinhos e foram reduzidas a quatro quadradinhos cada, assim surgiu o Tetris.

    O quadrinho ainda dá um panorama da história dos jogos pelo mundo e a da dos videogames como um todo antes de focar em Tetris. É impressionante como quase nada chegou ao Brasil e o próprio Atari 2600 aqui foi comercializado sem chegar sequer a 10% de seu potencial. Duvida? Pesquise Atari 2600 no Google.

    Voltando ao Tetris: a trajetória do maior e melhor videogame de todos os tempos é conturbada e confusa. A URSS não tinha a expertise de negociar direitos autorais e um empresário estadunidense saiu sublicenciando Tetris pelo mundo com base num fax com a intenção de fazer um negócio emitida por um órgão do governo soviético, um acordo que foi posto em frente antes de ser de fato fechado. Este mal entendido partiu de uma exposição de eletrônicos na Hungria. Todos os primeiros Tetris de PC, videogames e fliperamas eram ilegais fora da URSS. Quando a Nintendo percebeu o truque do primeiro empresário, caiu matando para negociar com os soviéticos pelos direitos oficiais.

    Quanto ao criador do jogo e seu melhor amigo que o ajudou a polir a versão original (e era considerado cocriador), eles só ganharam dinheiro depois da queda do regime socialista e quando se mudaram para os EUA. O livro também detalha como Tetris se espalhou rapidamente de mão em mão, disquete em disquete, HD em HD na URSS antes de chegar na Hungria e a confusão toda começar. Até a temida KGB entrou nesse jogo para investigar o que estava acontecendo com Tetris no resto do mundo. O humor do quadrinho as vezes soa melancólico, uma vez que Tetris foi o maior caso de roubo de diretos autorais da história e o maior caso de pirataria da história dos videogames.

    Alexey Pajitnov vê jogos como obras de arte e foi justamente o Tetris que elevou o videogame ao status de obra de arte, tornando-se parte permanente do acervo em exposição do Museu de Arte Moderna de Nova York. Tetris, esse jogo tão amado, tão subestimado pelas novas gerações, gerou filhos, jogos derivados, como o Joias, cuja versão mais famosa e infame é o detestável Candy Crush. Tetris, esse jogo que está acima de todas as polêmicas e disputas. Tetris é amor em forma de pixels, é vida, Tetris é Arte! Epa…, voltando: Atari, Nintendo, Spectrum Holobyte, Mirrorsoft (não está errado), foram muitas as empresas e pessoas envolvidas na conturbada história de Tetris que pode ser vista como uma grande comédia de erros em torno de diretos autorais e patentes.

    Agora que já resumi a história, vamos a minha opinião sobre o quadrinho em si: se você joga videogames e quer saber um pouco mais de como funciona os bastidores dessa indústria, Tetris: Os Jogos Que As Pessoas Jogam é fundamental. Se você for nintendista, mais ainda; a história do Tetris passa pela criação do Game & Wacth até sua evolução para Game Boy. Fora que, na guerra fria pelos direitos do Tetris, foi a Nintendo que levou a melhor.

    Os desenhos são cartunescos, lembrando Dilbert e Mundo Avesso. Em alguns momentos soam bem protocolares até, mas Box Brown usa isso a favor da história reproduzindo tecnicamente telas de jogos antigos, com destaque óbvio para as várias telas de Tetris ao longo dos anos e plataformas. É como se o leitor de hoje tivesse a experiência de olhar telas de videogames antigos como antigamente com a emulação das definições das épocas. Uma viagem no tempo imersiva e eficaz.

    Este quadrinho, Tetris: Os Jogos Que as Pessoas Jogam não chega a ser um Maus, mas cumpre seu objetivo com louvor: contar de forma divertida e agradável sem perder a objetividade (que eu perdi várias vezes nessa resenha) a história do maior e melhor videogame de todos os tempos, o Tetris! O que? Você não acha que Tetris é o maior e melhor videogame de todos os tempos? Certo, estamos numa democracia e eu sou um apaixonado completo confesso. Não acredite em mim, se informe. Vença a ignorância, pesquise no Google fora de sua bolha de jogos (seja ela qual for), leia este e outros livros sobre videogames e informática em geral e vá jogar Tetris como se deve, linhas de 10 quadrados aumentado a velocidade a cada 5 linhas eliminadas. O melhor jogador é o que joga por mais tempo, que elimina mais linhas e, por isso, faz mais pontos.

    As únicas cores usadas no livro são o preto e o amarelo, com detalhes azuis na capa, lombada e contracapa. Não possui extras, o formato é de livro, capa cartão com orelhas, 256 páginas. Publicado originalmente em 2016 nos EUA, Tetris foi publicado no Brasil pela editora Mino, ainda está disponível em catálogo, mas não é mais um lançamento. Quanto ao preço, comprei na promoção da Mino no Mino Day, não sei quanto está agora na loja virtual da Mino ou em outras lojas presenciais ou virtuais.


Boas leituras e bons jogos!
Rodrigo Rosas Campos

2 comentários:

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