sábado, 1 de março de 2025

[Resenha Compacta] Contos Macabros: 13 Histórias Sinistras da Literatura Brasileira de Nove Autores Consagrados

 

   Livros que trazem contos de vários autores, por mais temáticos que sejam, sempre mostram tonalidades diversas. Alguns trazem muitas palavras para pouca história, outros, muita história em poucas palavras, raros são os escritores que conseguem equilibrar informação e texto, mas certamente de algum estilo de escrita, você, leitor, gostará. Se você quiser a resenha completa conto a conto, clique aqui. Caso contrário, esta é mais uma resenha compacta.

    Neste volume da editora Escrita Fina com 256 páginas, Lanister de Oliveira Esteves reuniu 13 contos de terror de 9 escritores brasileiros que muitos de vocês sequer imaginam que escreveram terror. Ok, o livro é de 2010, mas quantos de vocês sabiam dele? Os autores são: Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Thomaz Lopes, João do Rio, Gonzaga Duque, Humberto de Campos e Lima Barreto. Vocês não leram errado, todos os nomes estão certos.

    Provavelmente você deve ter lembrado dos mais conhecidos: Álvares de Azevedo, Machado de Assis, Aluísio Azevedo e Lima Barreto da escola, do vestibular, do ENEM. E deve estar se perguntando: “Como assim! Contos de terror, deles?”. Sim, eles foram populares em seus tempos e também escreveram contos de terror. Nossa “intelectualidade” considera menor tudo o que é pop, mesmo quando produzido pelos, assim chamados, baluartes, que, diga-se de passagem, foram verdadeiramente populares em seus tempos.

    Lanister de Oliveira Esteves optou por reapresentar estes textos na ordem de publicação original e detalha suas escolhas na apresentação do volume intitulada Uma Literatura Envolta em Sombras. Envolta em sombras não só pela temática, mas pelo preconceito dos críticos brasileiros e da falta de divulgação de muitos destes textos em especial. Para os que acham que a escola romântica só produziu histórias de amor água com açúcar, os dois primeiros textos são como socos no estômago. Lanister de Oliveira Esteves, o organizador do livro, bem coloca em sua apresentação:

“As histórias que aqui se apresentam configuram um rico painel da literatura ‘de terror’ elaborada no Brasil do século XIX e do início do século XX, e sua publicação traz à luz aspectos menos abordados da produção ficcional brasileira do referido período. Boa parte dos textos selecionados […] foi publicada em jornais de grande circulação e fez sucesso entre os leitores, deixando clara a demanda por obras dessa natureza. Talvez por estar mais preocupada com a encarnação do ‘espírito nacional’ pela literatura, a crítica literária brasileira tenha deixado um pouco de lado o tipo de produção ficcional aqui representada, já que esses textos parecem mais focados em divertir pelo suspense do que retratar traços de brasilidade.” (Esteves, p.15, 2010).

    Ou seja, podemos concluir que é o pedantismo de críticos (e de professores) de literatura brasileira que mata o gosto pela leitura de obras nacionais nos jovens leitores brasileiros em potencial. Se eu gostei do livro como um todo? Sim, gostei. Alvares de Azevedo e Bernardo Guimarães foram gratas surpresas, nunca havia lido nada deles até então e são textos muito bons. Inclusive, Bertram e o livro maior do qual faz parte, Noite na Taverna, mostram a colaboração do romantismo para o terror tanto na literatura quanto no cinema e nos quadrinhos. A Dança dos Ossos me prendeu de jeito, foi a melhor história do livro.

    Esperava bem mais de Aluísio Azevedo, mas gostei de O Impenitente. Machado de Assis está em sua média, ou seja, bom em relação aos demais, para os que gostarem dos textos de Machado nesse livro, recomendo o livro Histórias Sem Data, inteiro de contos de Machado de Assis. Thomaz Lopez cumpre o prometido, passando a angústia de uma situação-limite. João do Rio é realmente bom no terror e no suspense, mas confesso que me irrita por emular a estética de Poe. Os demais seguem a média de histórias macabras, sendo que revelar mais que isso para cada um seria dar spoilers.

    Uma coisa de que senti falta foi a sensualidade típica e acentuada no terror e no horror nacionais. Como Lanister de Oliveira Esteves deixa claro, a maioria desses contos foram publicados originalmente em jornais que traziam folhetins para toda a família, ou seja, eram populares até entre crianças; rolou uma censura informal aí. Bertram e A Dança dos Ossos são os dois pontos mais fora da curva e estão logo no início do livro. Como os textos estão na ordem de publicação original, se vê um certo acovardamento editorial com o passar do tempo. Nesta seleção de textos, os traços de sensualidade mais acentuados só voltam em 1932.

    No final do livro temos páginas contendo dados biográficos e bibliográficos de cada um dos 9 autores. Como todo livro desse tipo, antologia de contos de autores diferentes, Contos Macabros serve como ponto de partida para os leitores que gostarem de algum de seus autores procurarem outras obras dos mesmos. Todos estes autores do livro podem ser encontrados de graça no site do domínio público.

    Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos

[Resenha Compacta] Contos Macabros: 13 Histórias Sinistras da Literatura Brasileira de Nove Autores Consagrados

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