São Paulo dos Mortos I, II e
III: Resenha Geral
Desaconselhável para menores de
18 anos.
Rodrigo Rosas Campos
Sim, apoiei São Paulo dos
Mortos III no Catarse e escolhi a recompensa que ganhava os três
volumes juntos. Não li os anteriores antes, e li todos de uma vez a
partir do primeiro assim que minha recompensa chegou.
São Paulo dos Mortos é uma
série de quadrinhos com o tema apocalipse zumbi, ambientada em São
Paulo (obviamente) cujos roteiros são escritos por Daniel Esteves e
a arte é feita por vários artistas. Os volumes um e três contém
histórias curtas. O volume dois traz somente a história do Morto
Boy.
Todos os volumes contam com a
participação de mais de um artista, desenhista e/ou arte-finalista
e, além das histórias, traz ilustrações de páginas inteiras,
geralmente, entre as histórias. Todas possuem capas em cores e
interior em preto e branco, formato americano, mas coração
brasileiro e paulista.
Os volumes 1 e 3 foram
financiados através do Catarse, o segundo foi financiado pelo
primeiro. Vide os vídeos de Daniel Esteves no Catarse e entrevistas
dele pelos sites, vlogs do You Tube e podcasts sobre quadrinhos na
Internet para mais detalhes sobre a gênese e os bastidores dessa
série.
E antes que a patrulha TWD fique
de mimimi, dizendo que Esteves surfou na onda; Robert Kirkman, autor
dos quadrinhos The Walking Dead, chupou os filmes de George A.
Romero. O próprio Kirkman admite isso. E isso numa época em que
videogames com o tema zumbi estavam bombando; o jogo original
Resident Evil, também conhecido como Biohazard, foi lançado em
1996. Além do que, mortos-vivos em geral são uma temática
universal de horror e terror. Sim, antes de ser série de TV ou
qualquer outra coisa, TWD é quadrinho e Kirkman surfou na onda zumbi
dos videogames!
Lembrando, todos os roteiros e
textos da série foram escritos por Daniel Esteves.
Bom, agora as resenhas
propriamente ditas, começando por São Paulo dos Mortos, o primeiro
volume. São Paulo dos Mortos tem capa de Wanderson de Souza (lápis)
e Al Stefano (cores), que forma uma ilustração única junto com a
contracapa. Foi publicada originalmente em 2013. Traz as histórias:
Antes dos Mortos tem desenhos de
Jozz. História sobre o ataque real da polícia a comunidade do
Pinheirinho em São José dos Campos no ano de 2012.
Próxima Estação conta com a
arte de Al Stefano. 2022, uma mulher nos subterrâneos do metrô de
São Paulo tenta fugir de um dos primeiros ataques dos zumbis.
Com Você no Fim do Mundo tem
arte de Laudo Ferreira (lápis) e Omar Viñole (nanquim). Para ser
lida ao som do hit brega “Eu vou Tirar Você Desse Lugar”. Como
lidar com entes queridos que viraram zumbis? O que você faria por
amor a uma mulher que virou zumbi? Garante boas gargalhadas e uma
dose cavalar de prazer culpado e politicamente incorreto.
Vício tem arte de Ibraim
Roberson e Lucas Perdomo. É uma aventura na cracolândia que se eu
continuar comentando dou spoiler.
Itaquerão, com arte de Bono
(lápis) e Viñole (nanquim), vemos um clássico do futebol paulista,
Corinthians x São Paulo jogado por três moleques malucos com
jogadores, trio de arbitragem e uma torcida de zumbis. Só zoeira,
bagulho doido, mano!
Carona Para o Governador é a
última história e melhor história do primeiro livro. Com arte de
Wagner de Souza e Alex Rodrigues. Como ficam as relações de poder e
autoridade no caos do fim do mundo? Um grupo de sobreviventes conduz
o Governador de São Paulo rumo a sobrevivência, mas será que o
Governador sobreviverá? Em caso afirmativo, ele ainda terá algo a
governar?
As histórias do primeiro volume
funcionam como contos isolados e ganham uma unidade a medida que o
leitor as lê. Uma bela história de terror com uma pegada metafórica
da situação política brasileira, tal como A Noite dos Mortos-Vivos
de George Romero tratou implicitamente do racismo nos EUA e da guerra
do Vietnã. Um quadrinho nacional de terror imperdível. Atualmente
disponível para compra no site da Zapata Edições, juntamente com
os volumes II e III. 96 páginas.
São Paulo dos Mortos II tem
capa de Wagner de Souza, que forma uma ilustração única junto com
a contracapa, e é a melhor arte de toda a série MESMO. Traz somente
a história do Deivison, o Morto Boy do título. Ilustrada por: Alex
Rodrigues (maior parte), Samuel Bono, Will, Laudo Ferreira, Al
Stefano e Denis Mello. Foi publicada em 2014, 36 páginas. É uma
aventura da melhor qualidade mostrando um dia da vida de um moto boy
da cidade de São Paulo no meio do apocalipse zumbi. Divertida e
instigante, nosso herói se depara com zumbis, um desafio de karaokê,
um patrão arrogante e seu mordomo puxa-saco mais arrogante ainda,
uma senhora japonesa que cuida de gatos zumbis e muita zoeira. Melhor
história da série!
São Paulo dos Mortos III tem
capa de Alex Rodrigues, publicada em 2016 com 88 páginas. Traz as
histórias:
Zoológico de São Paulo, com
arte de Al Stefano. Um odontologista ganha a vida extraindo os dentes
de entes queridos que viraram zumbis e os parentes ficam com pena de
matar. Um dia é chamado para extrair os dentes de um casal de leões
no Zoo de São Paulo. Um brilhante conto que usa os mortos-vivos como
metáfora para falar de luto. Daniel Esteves está de parabéns.
Roller Dead, com arte de Sueli
Mendes, mostra a história de uma menina que sofreu com os mal tratos
do pai contra ela e sua mãe e a fidelidade de uma cachorra, a
Furiosa, mesmo depois da morte e da transformação em zumbi.
Churrasco Grego é uma tocante
história sem palavras desenhada por Ibraim Roberson a partir de um
roteiro de Daniel Esteves.
Zegna, com arte de Samuel Bono e
Omar Viñole. Como você reagiria a um empresário que, em pleno
apocalipse zumbi, acha que um terno de marca é prioridade?
Templo possui arte de Alex
Rodrigues. Morto boy e Doutor se encontram para realizar uma tarefa
na comunidade cristã que está sitiada em um grande templo. Lá
chegando se deparam com pessoas a beira de uma nova idade média
teocrática, conspirações e disputas internas dos bispos por poder.
Conseguirão eles realizar o trabalho e escapar com vida?
E essa foi a última história
publicada de série São Paulo dos Mortos destes três volumes. Como
as tramas são muito curtas, penei para não dar spoilers. Muita
coisa eu só percebi por ter lido as três edições na ordem correta
e de uma só vez. Notou que o primeiro foi publicado em 2013, o
segundo em 2014 e o terceiro em 2016? Isso é sinal de carinho e
respeito de Daniel Esteves com sua própria criação e seus
leitores. Ele escreve quando tem algo relevante a contar, não para
fazer salsichas mensais de tramas repetidas e redundantes. Mas
lembrando: as histórias e edições são fechadas, o leitor é livre
para ler só uma, duas ou as três e pode tirá-las da ordem a
vontade. O formato externo é americano, mas o coração é
brasileiro, e graças a Deus, no modo de fazer quadrinhos, o
brasileiro se pauta nos franco-belgas, todas as histórias são
planejadas para serem fechadas e relevantes. Mesmo quando há
referências e os personagens estão no mesmo universo, as
referências não se convertem em pré-requisitos para o
entendimento, o leitor é respeitado. Qualquer desses três livros é
perfeito para fãs de quadrinhos brasileiros de terror e leitores
ocasionais.
Adquiri esse pacote de 3 edições
na campanha de São Paulo dos Mortos III no Catarse, não sei o preço
no site da Zapata Edições. Além dos artistas mencionados acima,
que desenharam as histórias, há os não mencionados que fizeram as
ilustrações para as galerias internas das edições. Todas incríveis.
Parabéns a todos, sobretudo ao editor sênior da Zapata Edições.
Boas leituras!
Rodrigo Rosas Campos
Tags: Terror, quadrinhos, Brasil,
apocalipse zumbi.
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