terça-feira, 17 de outubro de 2017

Garimpando Em Gibiterias: Cartas Selvagens da Epic pela Editora Globo

Desaconselhável para menores de 18 anos!

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O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Watchmen e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    A pedra garimpada de hoje é Cartas Selvagens da Epic que saiu pela editora Globo aqui no Brasil.

    O garimpo de gibis retorna com esta edição que é um tanto problemática em vários aspectos. Além da dificuldade de se encontrar, ela foi a primeira adaptação da série de livros Wild Cards para os quadrinhos e, apesar de ter sido escrita pelos mesmos autores dos livros, não é parte do universo regular, ou, dito no termo da modinha, não é cânone.

    Mas vamos ao contexto. No Brasil, a Devir trouxe o RPG GURPS e diversos cenários para esse sistema. Entre estes suplementos estava o módulo GURPS Supers, com as regras de GURPS interpretadas e complementadas para a temática de super-heróis. Eram o início dos anos 1990 e os quadrinhos também bombavam, principalmente as editoras independentes Dark Horse e Image que começavam a ganhar espaço.

    GURPS tinha a licença de uma série de livros de super-heróis, até então desconhecida no Brasil, chamada Wild Cards e a Devir tinha a licença de publicação de Gurps e seus módulos no Brasil. Junto com o GURPS Supers, a Devir resolveu lançar o cenário de Wild Cards, Cartas Selvagens, no mesmo livro.

    Mas isso não foi tudo. O grupo de escritores liderados por George R. R. Martin, criadores e donos de Wild Cards, resolverem licenciar os direitos da série para os quadrinhos e escolheram o selo Epic, ligado a Marvel Comics, para lançá-lo. A Epic era um selo independente na Marvel, ou seja, que não tirava os direitos dos autores. Assim, a primeira adaptação de Wild Cards foi uma minissérie em quatro edições pela Epic, escritas pelos mesmos escritores dos livros e ilustrada por grandes nomes dos quadrinhos na época que mantinham vínculos com a Marvel.

    Foi aí que a Devir e a Globo se uniram e trouxeram em conjunto o módulo GURPS Supers com Cartas Selvagens no mesmo livro e essa minissérie de Cartas Selvagens pela Epic, fazendo uma promoção conjunta na época: um pacote especial com GURPS Supers com as quatro edições da minissérie completa. Importante frisar que, nos EUA, os módulos Supers e Cartas Selvagens de GURPS foram vendidos separadamente. Lá fora, quem quisesse jogar Cartas Selvagens teria que ter o Módulo Básico de GURPS, o GURPS Supers e o cenário Cartas Selvagens. Os leitores brasileiros tiveram um livro a menos e, de quebra, ganharam uma série que funcionava como ambientação em quadrinhos.

    É claro que os quadrinhos também saíram nas bancas de jornais e nas gibiterias da época. Os RPGistas mais atentos veriam que o quadrinho estava defasado em relação ao cenário que vinha junto com GURPS Supers. E para você que, hoje, acompanha os livros publicados pela Leya/Omelete, saiba que a história dos quadrinhos foi a mesma até o livro 5. Esse quadrinho se passa depois dos eventos do quinto volume e é desconsiderado nos livros 6 e 7 em diante. Ou seja, a história dos quadrinhos se passa em um universo paralelo dentro do universo paralelo de Cartas Selvagens.

    Na história dessa primeira adaptação, um atentado ao túmulo de Jet Boy desencadeia uma investigação que traz a tona memórias amargas e ressentimentos profundos. Um evento presente que abre ainda mais as feridas de um mundo marcado pelas mutações do vírus alienígena carta selvagem.

    Como já disse, o antagonista dessa história e seus feitos foram solenemente ignorados nos livros 6 e 7, mas a adaptação ficou mais leve que os livros, sem deixar de ser adulta e violenta. Muito graças aos desenhistas que, com seus traços, deram versões mais leves (ou bem menos pesadas) para cenas brutais. É possível que alguém que não curta os livros goste dessa adaptação.


    Como a série de quadrinhos da Epic não passou das 4 edições de uma mesma história em formato de minissérie, esse primeiro universo paralelo de Cartas Selvagens permanece com sua história em aberto. Novos quadrinhos de Wild Cards saíram numa minissérie pela Dynamite e esse material não chegou a ser publicado aqui.

    Depois do lançamento da série e da promoção conjunta com a Devir, a Globo fez essa edição encadernada da minissérie. Literalmente encadernada, pois essas edições encadernadas não são uma republicação em volume único, mas as edições encalhadas remontadas e encadernadas em uma capa de papel cartão impressa posteriormente, onde as quatro capas brasileiras foram descartadas. Isso era muito comum, fazendo as minisséries antigas valerem mais separadas que compiladas.

    As quatro edições separadas são bem mais difíceis de se encontrar em gibiterias, sebos e Internet. Na Internet, os preços por cada uma dessas edições é exorbitante, principalmente se levarmos em conta que os livros estão sendo publicados no Brasil e contradizem o início e o final dessa primeira adaptação para os quadrinhos. Eu tive sorte de encontrar o encadernado em preço bom. Na época do lançamento, li as quatro edições de um amigo e fiquei fã do universo desde então.

    Também já encontrei o módulo GURPS Supers a um preço superior a qualquer volume individual de Wild Cards pela Leya. Se for só pelos Cartas Selvagens, não vale a pena pagar, agora, se você é RPGista, curte o Sistema de GURPS e tem dinheiro, vá em frente. Hoje, o cenário de Cartas Selvagens para RPG usa o sistema d20 modificado de Mutantes & Malfeitores.

    Se algum dia, alguma editora republicar esse material, saibam que, apesar de não ser cânone em relação aos livros, é uma excelente pedida enquanto história em quadrinhos. Traz as artes de grandes nomes dos quadrinhos americanos (desenho, arte final e cores) de uma época que não havia computador para ajudar. Tudo era feito a mão! A arte é brilhante, feitas por nomes que influenciaram um certo Alex Ross; é anterior a Marvels e algumas páginas são pintadas. Vários artistas, cada um com certo número de páginas, criando um mosaico de estilos variados com o mesmo grupo de personagens. É bonito de ver.

    A Globo ainda teve o cuidado de pôr na contracapa do encadernado uma folha-corrida dos personagens, coisa que a Leya/Omelete deveria ter feito no livros 7 e 8 da série, só que num prefácio. Também estranho o fato de a Leya ter optado por não traduzir o título, uma vez que Cartas Selvagens é uma tradução literal e fiel de Wild Cards, que já havia sido publicada por aqui em suas formas de quadrinhos e RPG.


    O garimpo entra em novo recesso. Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos

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