Por Rodrigo Rosas Campos
Depois de recontarem a história
do universo Marvel em Marvels e de criarem seu próprio universo em
Astro City, Alex Ross e Kurt Busiek uniram forças novamente em um
novo projeto: recontar as histórias dos personagens menos conhecidos
de Jack Kirby, aqueles que não foram publicados nem pela Marvel, nem
pela DC ou que, pasmem, ainda estavam inéditos.
Para vocês, que não estavam na
Terra, Jack Kirby é, junto a Joe Simon, o criador do Capitão
América. A dupla saiu da Timely, antecessora da atual Marvel, para
criar outros personagens que não ganharam tanta repercussão, com
destaque para o Fighting American.
Em sua primeira passagem pela
DC, Kirby criou os Desafiadores do Desconhecido e a Patrulha do
Destino, bem como muitos dos personagens pouco conhecidos da editora.
Nos anos 1960, fez a parceria lendária com Stan Lee na criação do
Quarteto Fantástico e de muitos personagens que formam a Marvel como
a conhecemos hoje.
De fato, Kirby só não cocriou
o Homem-Aranha, o Doutor Estranho, o Demolidor e o Homem de Ferro,
embora tenha sido um dos mais emblemáticos desenhistas deste.
De volta para a DC, depois de
uma briga com Stan Lee envolvendo divergências criativas acerca do
Surfista Prateado (mais detalhes no Arg Cast sobre Jack Kirby:
http://www.dinamo.art.br/podcast/136/), criou o Quarto Mundo: Novos
Deuses, Nova Genesis e Apokolips, Pai Celestial, Darkseid e
companhia.
Seus trabalhos para as duas
grandes editoras, atuais DC e Marvel, eram no esquema de “work for
hire”, de modo que nenhum direito autoral ficou com Kirby. Mas não
eram tempos em que exclusividade era exigida.
Em todo esse tempo, foi
freelance em várias editoras e projetos de animação para séries
de desenhos de TV. Quem se lembra de Thundar, Ucla e Ariel? Há muita
colaboração de Kirby nessa e em outras séries.
Na Pacific Comics criou títulos
como Captain Victory e Silver Star. Nesses casos, ficou com os
direitos autorais destas criações, que mudaram de editora ao longo
do tempo até a morte do criador em 1994. Esses títulos e alguns
esboços inéditos encontrados nas coisas do artista foram a base
para a série Kirby Genesis.
Kirby Genesis conta uma nova
história com personagens e conceitos de Jack Kirby. Nesse novo
universo, um desenho de Jack Kirby foi enviado na sonda espacial
Pioneer 10. Alienígenas acham a sonda e vem a Terra. Nesse momento,
muita coisa escondida das pessoas normais como cidades perdidas
enterradas e ilhas fantasmas que surgem e desaparecem nos oceanos vem
a tona.
Uma disputa de oficiais
alienígenas pela captura de criminosos que fogem para a Terra começa
a afetar a vida das pessoas comuns. Nesse momento, a amiga do jovem
Kirby Freeman é possuída por uma deusa mítica, a Cisne da Meia
Noite, e é controlada por um ente misterioso que ajuda os criminosos
alienígenas em fuga a medida em que todos os estranhos fenômenos
começam a se interligar.
No esforço de recuperar sua
amiga, o jovem Kirby deve descobrir o que os alienígenas que
responderam ao chamado da sonda querem de nós, se todos aqueles
fatos, que só vieram a tona com a chegada deles, de fato estavam
escondidos da população normal ou se tudo não passa de uma
alucinação coletiva provocada pelos visitantes.
Kirby Genesis foi publicada nos
EUA pela editora Dynamite, mas não torçam os narizes. Ao contrário
do Projeto Superpowers, em que Ross teve a pior equipe possível para
cuidar da arte interna, dessa vez, eles contrataram um time de
primeira linha para cuidar do interior das edições e honrar o
estilo de Jack Kirby revisitado por Alex Ross.
A arte interna reúne
ilustrações e direção de arte de Alex Ross, ilustrações de Jack
Herbert e as cores brilhantes de Vinicius Andrade. O roteiro ficou
por conta de Kurt Busiek e o argumento foi dividido entre Busiek e
Ross. Fora as capas de Alex Ross e todas as capas alternativas.
Aqui no Brasil, a Mythos
publicou direto em encadernado capa dura em 2014. Bom para
colecionadores, péssimo para novos leitores. O preço é salgado.
Em relação aos encadernados da
Dynamite há aquela carência de extras textuais, não culpem os
editores nacionais. Temos páginas e páginas de desenhos de Ross e
de Kirby, mas pouquíssimas informações sobre as histórias
pregressas dos personagens, tanto de suas origens e motivações na
ficção, quanto da caminhada editorial de seus títulos. Ponto
negativo para a Dynamite. O ponto positivo para a Dynamite foi
colocar a disposição de Ross artistas auxiliares que sabem o que
estão fazendo.
A história de Kirby Genesis é
excelente. Busiek e Ross consolidam suas famas de
criadores/recriadores de universos. Com um número limitado de
personagens, eles inventam uma história completa que remete ao
passado sem exigir leitura prévia e colocam um ponto de partida para
histórias futuras. Esperemos que as continuações, um dia, sejam
publicadas aqui no Brasil.
Boas leituras.
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