sábado, 19 de novembro de 2016

Garimpando em Gibiterias: Kirby Genesis: Jack Kirby Muito Além do Eixo Marvel/DC

Por Rodrigo Rosas Campos

Depois de recontarem a história do universo Marvel em Marvels e de criarem seu próprio universo em Astro City, Alex Ross e Kurt Busiek uniram forças novamente em um novo projeto: recontar as histórias dos personagens menos conhecidos de Jack Kirby, aqueles que não foram publicados nem pela Marvel, nem pela DC ou que, pasmem, ainda estavam inéditos.

Para vocês, que não estavam na Terra, Jack Kirby é, junto a Joe Simon, o criador do Capitão América. A dupla saiu da Timely, antecessora da atual Marvel, para criar outros personagens que não ganharam tanta repercussão, com destaque para o Fighting American.

Em sua primeira passagem pela DC, Kirby criou os Desafiadores do Desconhecido e a Patrulha do Destino, bem como muitos dos personagens pouco conhecidos da editora. Nos anos 1960, fez a parceria lendária com Stan Lee na criação do Quarteto Fantástico e de muitos personagens que formam a Marvel como a conhecemos hoje.

De fato, Kirby só não cocriou o Homem-Aranha, o Doutor Estranho, o Demolidor e o Homem de Ferro, embora tenha sido um dos mais emblemáticos desenhistas deste.

De volta para a DC, depois de uma briga com Stan Lee envolvendo divergências criativas acerca do Surfista Prateado (mais detalhes no Arg Cast sobre Jack Kirby: http://www.dinamo.art.br/podcast/136/), criou o Quarto Mundo: Novos Deuses, Nova Genesis e Apokolips, Pai Celestial, Darkseid e companhia.

Seus trabalhos para as duas grandes editoras, atuais DC e Marvel, eram no esquema de “work for hire”, de modo que nenhum direito autoral ficou com Kirby. Mas não eram tempos em que exclusividade era exigida.

Em todo esse tempo, foi freelance em várias editoras e projetos de animação para séries de desenhos de TV. Quem se lembra de Thundar, Ucla e Ariel? Há muita colaboração de Kirby nessa e em outras séries.

Na Pacific Comics criou títulos como Captain Victory e Silver Star. Nesses casos, ficou com os direitos autorais destas criações, que mudaram de editora ao longo do tempo até a morte do criador em 1994. Esses títulos e alguns esboços inéditos encontrados nas coisas do artista foram a base para a série Kirby Genesis.

Kirby Genesis conta uma nova história com personagens e conceitos de Jack Kirby. Nesse novo universo, um desenho de Jack Kirby foi enviado na sonda espacial Pioneer 10. Alienígenas acham a sonda e vem a Terra. Nesse momento, muita coisa escondida das pessoas normais como cidades perdidas enterradas e ilhas fantasmas que surgem e desaparecem nos oceanos vem a tona.

Uma disputa de oficiais alienígenas pela captura de criminosos que fogem para a Terra começa a afetar a vida das pessoas comuns. Nesse momento, a amiga do jovem Kirby Freeman é possuída por uma deusa mítica, a Cisne da Meia Noite, e é controlada por um ente misterioso que ajuda os criminosos alienígenas em fuga a medida em que todos os estranhos fenômenos começam a se interligar.

No esforço de recuperar sua amiga, o jovem Kirby deve descobrir o que os alienígenas que responderam ao chamado da sonda querem de nós, se todos aqueles fatos, que só vieram a tona com a chegada deles, de fato estavam escondidos da população normal ou se tudo não passa de uma alucinação coletiva provocada pelos visitantes.

Kirby Genesis foi publicada nos EUA pela editora Dynamite, mas não torçam os narizes. Ao contrário do Projeto Superpowers, em que Ross teve a pior equipe possível para cuidar da arte interna, dessa vez, eles contrataram um time de primeira linha para cuidar do interior das edições e honrar o estilo de Jack Kirby revisitado por Alex Ross.

A arte interna reúne ilustrações e direção de arte de Alex Ross, ilustrações de Jack Herbert e as cores brilhantes de Vinicius Andrade. O roteiro ficou por conta de Kurt Busiek e o argumento foi dividido entre Busiek e Ross. Fora as capas de Alex Ross e todas as capas alternativas.

Aqui no Brasil, a Mythos publicou direto em encadernado capa dura em 2014. Bom para colecionadores, péssimo para novos leitores. O preço é salgado.

Em relação aos encadernados da Dynamite há aquela carência de extras textuais, não culpem os editores nacionais. Temos páginas e páginas de desenhos de Ross e de Kirby, mas pouquíssimas informações sobre as histórias pregressas dos personagens, tanto de suas origens e motivações na ficção, quanto da caminhada editorial de seus títulos. Ponto negativo para a Dynamite. O ponto positivo para a Dynamite foi colocar a disposição de Ross artistas auxiliares que sabem o que estão fazendo.

A história de Kirby Genesis é excelente. Busiek e Ross consolidam suas famas de criadores/recriadores de universos. Com um número limitado de personagens, eles inventam uma história completa que remete ao passado sem exigir leitura prévia e colocam um ponto de partida para histórias futuras. Esperemos que as continuações, um dia, sejam publicadas aqui no Brasil.

Boas leituras.

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