segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Garimpando Em Gibiterias Especial: Série Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima

  

 O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Fradim, Watchmen, Piratas do Tietê e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    A pedra garimpada de hoje é uma série inteira de mangá: Lobo Solitário de Kazuo Koike, criação e roteiro, e Goseki Kojima, arte. A atual edição dos 28 volumes da série Lobo Solitário começou a ser republicada pela Panini em dezembro de 2016, o novo volume 28 só chegou em agosto de 2021. Mesmo que eu falasse do volume 28 em seu relançamento, pelo menos metade da série já seria garimpo de gibi.

    Outro detalhe foram os atrasos da Panini. Foi uma decisão péssima não fazer a republicação da série ser mensal e ainda teve os atrasos. Para os leitores que acompanharam, fica a mágoa, isso poderia ter terminado antes da pandemia do Corona Vírus. São só 28 edições, se fosse mensal seriam só 28 meses, teria passado até por menos reajustes de preço de papel, inclusive. Eu sei, a Pnini completou essa série duas vezes e isso não é pouca coisa, mas poderia ter feito um trabalho muito, mas muito melhor em relação a distribuição e ao cronograma de publicação, mesmo levando em conta a crise dos distribuidores etc. É a Panini, não é uma editora pequena.

    Mas vamos parar de falar dos erros da Panini e falar do que interessa, a história. Há muito tempo, a televisão brasileira exibiu a série japonesa que foi traduzida como O Samurai Fugitivo. Nela vimos um samurai sem mestre, um ronin, que alugava sua espada como assassino de aluguel com o seu filho bebê a tiracolo num carrinho de bambu. Bom, essa série foi baseada nesse mangá, que levou anos para ser lançado aqui e mais alguns para ser completado aqui. O mangá que originou a série é o Lobo Solitário.

    Itto Ogami é um samurai honrado e executor do Shogun. Também é um obstáculo para Retsudo Yagyu que quer aumentar a influência de sua família no império e o título de executor. Tendo isso em vista, Yagyu arma um golpe incriminado Itto em um crime que ele não cometeu. Na invasão da casa de Itto para plantar as falsas provas, a esposa de Itto é assassinada. Agora, Itto Ogami e seu filho, o pequeno Daigoro, estão no Meifumadou, um lugar entre a vida e a morte, de onde Itto pode alugar sua espada como assassino de aluguel enquanto junta recursos para vingar-se de Retsudo e de toda o clã Yagyu.

    No início, a série é bem episódica e vemos Itto Ogami cumprindo seus contratos de assassinatos e fazendo a fama enquanto a população passa a chamá-lo de lobo solitário, apesar dele estar sempre acompanhado do filho, o bebê Daigoro, melhor personagem da série. A medida em que as edições passam, o leitor fica sabendo de mais detalhes acerca da conspiração da família Yagyu que levou Itto Ogami a ruína e a sua missão de vingança.

    Se você não conseguiu acompanhar a série em seus lançamentos, é nesse ponto que tem que tomar um certo cuidado. Muitas edições são de histórias fechadas, mas aos poucos a história maior toma forma e cada parte vira um capítulo indissociável do seguinte ou do anterior. Se você está colecionando de sebos e gibiteriras, tente juntar primeiro para ler depois na ordem. O ponto chave é quando Itto intercepta uma mensagem secreta do clã Yagyu.

    Para os que acham que soltei spoilers, não soltei spoiler algum. Cada edição tem uma média de cinco capítulos, nos primeiros volumes até mais, uma vez que os capítulos eram mais curtos no início e cada uma desses capítulos é recheado de detalhes e surpresas. Os desenhos são de tirar o folego, alguns quadros parecem fotos, Goseki Kojima foi, de longe, o melhor desenhista de quadrinhos de todos os tempos; mangá significa histórias em quadrinhos, tá gente! Os diálogos são afiados e nem os poucos recordatórios são redundantes. Tudo se encaixa nessa história. Daigoro é um show a parte, sempre roubando a cena em algum momento.

    O sentido de leitura é oriental, da direita para a esquerda, de cima para baixo e a maioria das edições tem a página de aviso, todo mangá pode ser o primeiro de alguém. Falar mais é chover no molhado. Apesar de algumas barrigas, a série é brilhante. Pena que comentar capítulo a capítulo seria chegar relativamente rápido ao ponto onde todas as histórias deságuam na trama maior da vingança de Itto Ogami contra Retsudo Yagyu e o simpático Daigoro no meio dessa tragédia.

    Deixe seus comentários com carinho e educação, pois eles serão lidos com carinho e educação. Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “Garimpando em Gibiterias” e clique no botão “Pesquisar”. Ou digite apenas “garimpando” e encontrará títulos a mais em garimpos de eventos. Faça a mesma coisa no site Literakaos.

    Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos

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