sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Garimpando Em Gibiterias: 321 Fast Comics Volume 2 de Vários Autores



+18, só para evitar gente muito reacionária mesmo!


    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Fradim, Watchmen, Piratas do Tietê e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    A pedra garimpada de hoje é 321 Fast Comics Volume 2 de Vários Autores, editado por Tambor Quadrinhos e Timber Wolf Entertainment, no ano de 2015, formato americano, capa cartão, lombada quadrada, em cores, garimpada a R$ 10,00 em uma feira do livro. Não se deixem enganar pelo título em inglês, esta edição tem histórias produzidas no Brasil e misturam o estilo Bonelli, são ambientadas nos EUA com personagens norte-americanos como se traduzidas fossem, e as temáticas mais comuns ao antigo selo Vertigo da DC, ficção científica, terror, horror, fantasia, crimes a as intersecções dessas temáticas.

    Fora isso, a proposta da série 321 Fast Comics é simples: cada história tem 3 páginas, 2 personagens e 1 final surpreendente. São vários autores e desenhistas em várias histórias tão curtas que comentar uma a uma seria dar spoilers estragando as surpresas dos finais, nem tão surpreendentes assim, logo, essa resenha será originalmente compacta.

    Como já dito, os autores de 321 Fast Comics procuraram emular as temáticas e o estilo predominantes do antigo selo Vertigo e o resultado são várias histórias com textos bem medianos, medianos para baixo mesmo, pouco inspirados até. Textos que parecem ter sido concebidos apenas para os desenhistas brilharem e os desenhos são excelentes MESMO!

    Sei que é questão de gosto pessoal, mas me incomoda ler histórias feitas em um país e ambientadas em outros; detesto os quadrinhos Bonelli por isso. Não me agrada quando vejo brasileiros escrevendo histórias fora do Brasil na mesma onda da Bonelli, o fato deles emularem autores estadunidenses de terror, horror, fantasia, crimes, ficção científica e as interseções dessas temáticas não ajuda muito. Realmente parece que tais histórias foram feitas em prol dos desenhos e da narrativa gráfica somente.

    Ainda assim, três histórias merecem destaque: a história Um Alien Muito Louco brilha como uma exceção em que os escritores, Daniel Esteves e Felipe Cagno tiram um sarro com essa situação, criando uma paródia inusitada de Um Morto Muito Louco ambientada em Hollywood e questionando clichês de filmes espaciais norte-americanos envolvendo alienígenas que falam inglês. Um Alien Muito Louco conta com desenhos de Mauro Sousa.

    Outra história em que o texto também se destaca dos demais é B.I.S. de Estevão Ribeiro em que se eu comentar como se deve, entregarei tudo, até o final. B.I.S. tem arte de Will Sideralman.

    A terceira história em destaque é a única ambientada no Brasil: Procura-se Vivo ou Morto possui texto de Alex Mir, ilustração e arte-final de Bira Dantas e conta a história de um cangaceiro, sobrevivente do bando de Lampião que entra num bar de beira de estrada em pleno sertão nordestino. Mas essas foram as três únicas histórias cujos textos não pareciam algo que eu poderia ter lido em outro lugar, num gibi de histórias curtas do antigo selo Vertigo, por exemplo.

    Algumas histórias se mostram como crônicas de contextos fantásticos maiores, ou seja, não caberiam em apenas 3 páginas e parecem que foram marteladas para caberem em 3 páginas. São compreensíveis? São, mas podiam ser maiores. Quando estas mesmas histórias envolvem mitologias de outros países, entra aquele efeito Bonelli indesejado em uma versão muito piorada, se era para ser uma história baseada numa mitologia estrangeira, preferia ter lido um quadrinho de autores e desenhistas estrangeiros.

    O ponto mais alto da edição são os desenhos, são muito lindos e de variados estilos. O ponto mais baixo da edição é a colorização por computador que deixa todas as ilustrações com texturas de plástico parecendo telas de videogame printadas. Todas as páginas dessas histórias ficariam bem melhores em preto e branco mesmo só pela ausência de colorizações digitais preguiçosas que não levam em conta a diferença entre telas, emissores de luz, e papel, refletores de luz.

    Não li outros volumes da série 321 Fast Comics, mas o segundo volume parece que foi feito para apresentar o trabalho de desenhistas e coloristas brasileiros para o mercado de quadrinhos norte-americano, pois quase todos os textos parecem que foram escritos com o único objetivo de criar páginas de quadrinhos que poderiam levar estes profissionais a trabalhar nos EUA. Com efeito, alguns dos desenhistas da revista já trabalhavam para editoras estadunidenses em 2015, outros passaram a trabalhar para esse mercado depois de 2015.

    A edição também traz alguns bastidores de como se faz um quadrinho, do roteiro escrito até a conclusão, e uma galeria de artistas convidados. É um excelente livro de arte, mas, salvo aquelas duas histórias que destaquei, não espere grande coisa dos textos. Claro, tem gente que curte ver estilos emulados e a Bonelli tem vários fãs pelo Brasil, cada um gosta do que gosta, mas essa não é a minha praia. Se quero uma história estrangeira, procuro autores estrangeiros falando sobre suas respectivas terras natais. Porém, volto a enfatizar, se você curte Bonelli ou o antigo selo Vertigo, 321 Fast Comics volume 2 te agradará em cheio. Deixe seus comentários com carinho e educação, pois eles serão lidos com carinho e educação.

    Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “Garimpando em Gibiterias” e clique no botão “Pesquisar”. Ou digite apenas “garimpando” e encontrará títulos a mais em garimpos de eventos.

    Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos


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