O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Watchmen e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.
A pedra garimpada hoje é A Era Metalzóica de Pat Mills (texto) e Kevin O´Neill (arte).
Desaconselhável para menores de 18 anos.
Publicada no Brasil em 1989 pela editora Abril na edição 9 da série Graphic Novel. Originalmente publicada nos EUA em 1986 pela DC Comics. Importante frisar que, nesse caso, a DC foi só a editora. A história pertence aos autores e nunca foi parte da linha editorial regular (do universo regular corrente) da DC.
Se o leitor achou que esta resenha demorou mais para sair do que as demais, é porquê tive que reler a revista. É o tipo de obra que não dá para escrever sobre só usando a memória. A arte de Kevin O´Neill é primorosa, ele desenha, arte finaliza e colore, numa época em que não havia coloração por computador. A capa é de Bill Sienkiewicz, e, como você já deve ter visto, é animal em todos os sentidos. Os autores Pat Mills e Kevin O´Neill são dois britânicos e fazem parte da Invasão Britânica nos quadrinhos norte-americanos na década de 1980. Mas vamos a história:
A Era Metalzóica conta a história de como a Terra foi dominada por robôs. Os seres humanos mais afortunados conseguiram abandonar o planeta em função de um cataclismo, os robôs se tronaram literalmente vivos, sexuados inclusive, e alguns até sapientes e sencientes. Aos poucos humanos que permaneceram no planeta coube a má sorte de viverem escondidos no subterrâneo.
A história começa enquanto uma tribo de mekakas cuida de sua vida e uma jovem humana que ousou dar um passeio nesse perigoso planeta chamado Terra cruza o seu caminho. Ela abalará todos os dogmas religiosos dos mekakas, pois sabe como tudo aconteceu. Nesse ínterim há ainda um encontro com uma tribo humana sobrevivente na Terra e os bancos de dados dos rodomamutes que se aproximam trazem mais detalhes sobre toda a verdade.
Um quadrinho de raiz, tudo foi feito a mão, desenhos, arte final, cores etc.; a maioria dos textos são diálogos, mas haja dialogo. Se você é aquele tipo de leitor que acha que a figurinha diminui a necessidade de leitura, irá se surpreender, pois há muito o que ler.
Uma história com início, meio e fim, sem continuação e em edição única de luxo; isso é a Era Metalzóica, esse é o conceito real de graphic novel. Série encadernada em edição de luxo não é graphic novel: graphic novel é uma história pensada para ser publicada em edição única e de luxo. Ideal para fãs de quadrinhos, leitores casuais e fãs de ficção científica pós apocalíptica.
Se o leitor buscar cada um desses nomes no Google ou na Wikipédia verá o quão importantes são Pat Mills e Kevin O´Neill para os quadrinhos tal como os conhecemos hoje. Também é uma amostra de tudo o que os anos 1980 tinham de mais ousado, afinal, temos cenas de sexo com um robô macho e uma robô fêmea, fora o parto de um filhote de rodomamute. Quando veremos algo assim em quadrinhos novamente? Não sei mesmo a resposta.
Bom, o garimpo suspenderá suas atividades por tempo indeterminado. Assim que der, trago uma nova pedra preciosa da arte sequencial.
Até breve e boas leituras!
Rodrigo Rosas Campos
P.S.: Também podem ser consideradas garimpos de gibiterias as seguintes obras que já foram mencionadas por aqui: Zumbis e Outras Criaturas das Trevas; Quadrinhópole #08; Projeto Superpowers; e Kirby Gênesis. O Princípio Dilbert é um livro em prosa que contém tiras em quadrinhos, e é catalogado oficialmente como humor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário