quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

[Resenha] De Onde Viemos? As Histórias dos Criacionismos de Diversas Religiões em Quadrinhos por Carlos Ruas e Seus Incríveis Amigos

Aconselhável a todas as idades!

    Carlos Ruas é um escritor e um desenhista, autor de Um Sábado Qualquer. Ele e sua criação dispensam apresentações. Mas este livro, De onde Viemos? é a história mais importante da série  Um Sábado Qualquer. A série foi criada para questionar os dogmas religiosos e pregar a tolerância entre as diversas religiões existentes hoje.

    Em Um Sábado Qualquer, os deuses se reúnem do Boteco dos Deuses para comer, bater papo e, assim como seus devotos mais radicais, ficarem brigando pelo título de qual deus é o mais verdadeiro. E eis que surge a pergunta “quem criou o mundo e os humanos?” e os deuses começam uma briga, cada um tentando impor sua história, até que Oxalá tem a ideia de trazer dois humanos para julgarem qual o melhor criacionismo.

    Ao contrário da maioria das histórias da série Um Sábado Qualquer, De Onde Viemos não é formado por tiras soltas, mas por páginas (e eventuais páginas duplas) completas. Externamente, lembra o formato franco-belga, consagrado no mundo por Asterix, internamente, os vários estilos dos desenhistas formam um mosaico gráfico da diversidade de formatos dos quadrinhos brasileiros. Quando cada deus conta sua história, muda o artista.

    Assim, Anderson Awvas ilustra o criacionismo Vodu; Cecília Ramos, o das Ilhas Banks; Daniel H.D.R., o grego; Wesley Samp, o Maia; Guilherme Nascimento, o nórdico; Gustavo Borges, o da China antiga; Jean Lins, o Yourubá; Lais Santos, o Desana; Mario Cau, o do Egito Antigo; Paola Tabata, o Hindu; Paulo Moreira, o eslavo; e Abel, o criacionismo cristão; o criacionismo bônus do povo Tariana é ilustrado por Tom Gomes.

    Os humanos escolhidos para fazerem o julgamento, isso não é spoiler, está em todas as sinopses do livro espalhadas pela Internet e na página do financiamento coletivo do mesmo são George Lemaître, que formulou a teoria do Big Bang, e Charles Darwin, que formulou a teoria da seleção natural. Depois dos criacionismos dos deuses, é a vez dos cientistas explicarem a criação pelas ciências, mostrando que teorias são bem mais que ideias, são ferramentas de construção de conhecimentos baseadas em evidências que se complementam e se confirmam mutuamente. Sujeitas a revisões e a novas reflexões constantes.

    Carlos Ruas desenha o resto auxiliado por Lorar, esta com as ilustrações mais científicas e didáticas; os coloristas são João Lucas, Wesley Kyo e Daniel Rodrigues. Fora o auxílio, a consultoria técnico-científica especializada, de Pirulla, ele mesmo, Emílio Gracia e Caio Gomes.

    Enfim, é um livro sobre os fundamentalismos limitantes versus as reflexões libertadoras e constantes. O papel das religiões e o papel das ciências e de como religiões e ciências podem conviver em harmonia em prol da melhoria da vida humana como um todo. Só devemos rezar para que as pessoas entendam! Afinal, eles desenharam, se está desenhado, não há desculpa para não entender. É preciso muita má vontade para não furar a bolha e passar a respeitar o diferente.

    Como tudo o que faz pensar de verdade, o livro não dá todas as respostas, mas ferramentas iniciais para os leitores questionarem as regras ao redor e, eventualmente, criarem ou recriarem as próprias regras; tudo com muito bom humor e riso. Adquiri o livro De Onde Viemos? no financiamento coletivo do Catarse, mas para achar Carlos Ruas, este e os outros livros do autor é só dar um Google em Um Sábado Qualquer. Não sei quando você chegou aqui, mas o livro estará (ou agora deve estar) disponível em várias livrarias reais e virtuais assim que todos os apoiadores receberem. Contém bibliografia, fichas dos desenhistas e uma folha para a futura coleção completa dos autógrafos etc.

    Boas leituras, bom divertimento e boas reflexões!

    Rodrigo Rosas Campos


3 comentários:

  1. Interessante o debate. Principalmente se pensarmos que é uma promoção do respeito e tolerância as diversas religiões. Mesmo achando que a religião em si tenha um carater mais impositivo na crença de que aquela especifica é a verdadeira. Particularmente acho que religiosidade é aspecto da vida domestica sendo aprendida no lar. Gosto mais da ideia de uma laicização nos espaços públicos de maneira geral. De q q maneira o quadrinho deva ser bastante interessante... = )

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    1. Sim, uma laicização dos espaços é exatamente o que o livro defende ao apresentar a ciência no final. É qualidade essencial para a tolerância religiosa e foi a luta política mais importante de Jorge Amado. Essa última parte eu sei, não está no livro. Mas Jorge Amado é um dos gigantes no qual Carlos Ruas está nos ombros.

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