Só por garantia: Desaconselhável para menores de 18 anos.
Já fiz a resenha desse livro, conto a conto inclusive. Acho que seria injusto não dar o mínimo de espaço a cada uma das autoras. Querendo uma resenha mais completa, clique aqui. Mas se você quer um apanhado do livro como um todo, sem se prender a detalhes de cada história, eis o suprassumo (um extrato) daquela resenha. Aqui, não falei de todos os contos, mas dou um apanhado geral de como os vampiros são usados de diferentes formas ao longo do livro por 35 autoras.
Lançado aqui no Brasil pela editora Pipoca e Nanquim em 2021, O Grande Livro dos Vampiros é uma antologia de contos de vampiros publicada originalmente em 2017 pelo editor inglês Stephen Jones com o título original de The Mammoth Book of Vampire Stories by Women. Estes textos foram originalmente publicados em várias revistas literárias da Austrália, Canadá, EUA e da Inglaterra. São 35 histórias em 724 páginas de 35 autoras. Escritoras do quilate de Angela Slatter, Anne Rice - a mais conhecida no Brasil -, Mary Elizabeth Braddon - uma das mais famosas e importantes do mundo-, Mary E. Wilkins-Freeman, E. Nesbit, Edith Wharton – uma das mais influentes hoje -, Kathryn Ptacek, Pat Cadigan, Mary A. Turzillo, Nancy A. Collins, Louise Cooper, Chelsea Quinn Yarbro, Elisabeth Massie, Ellen Kushner, Connie Willis entre outras.
Como todos os mitos, as lendas de vampiro começaram na tradição oral antes de ganharem seus primeiros registros na literatura em várias partes diferentes do mundo e em vários contextos históricos. Assim, cada conto pode mostrar um vampiro completamente diferente dos demais. Alguns inclusive andam de dia, o que não é o caso da maioria hoje. E o que os une afinal? Vampiro é um ser que suga energia vital dos vivos, as vezes sugando a energia propriamente dita, as vezes roubando essa energia através do sangue, sugando sangue, que é, hoje, o mais comum e conhecido. As vezes sugar energia se dá só como uma forma de obsessão simples, ou seja, de relacionamentos abusivos. Enfim, cada um destes contos apresenta uma variação de vampiro e algumas variações podem ser bem antagônicas à imagem mais comum que você possa ter.
De fato, com base nesta e em leituras anteriores, parece que os vampiros começaram a ficar mais uniformes depois de Carmilla e Drácula. Quanto mais antigos são os textos, mais distintos são os vampiros. Com efeito, a personagem Ora Brand é de 1937 e já está bem na transição entre o Drácula e as suas contrapartes do cinema influenciadas por Nosferatu e a Sonja Blue, uma das mais atuais. Tendo isso em vista, as 35 histórias do livro são de 35 universos diferentes, são 35 variações de vampiro tiradas das infinitas variações existentes e que ainda podem ser inventadas. O Grande Livro dos Vampiros foi R$69,90 na pré-venda mais o eventual frete.
Outro ponto a ser lembrado com esse tipo de publicação é que estilos diferentes de escrita podem influenciar a velocidade de leitura dos leitores de acordo com os respectivos gostos pessoais. Não se assustem se demorarem mais em um conto do que em outro, isto não está vinculado só ao número de páginas, mas ao quanto a autora te prendeu na história mais do que a anterior ou a próxima. Uma dica é tentar resistir a busca pelos títulos e autoras que mais te atraírem e tentar ler de forma linear, na ordem do livro. O fato de serem 35 contos seguidos com o mesmo tipo de protagonista (ou antagonista) também pode colaborar para uma estafa. Não são apenas 35 histórias de terror com alguns vampiros, todos os 35 contos são de vampiros. Se você tiver outras coisas para ler, é bom intercalar as leituras com os contos de vampiro desse livro. Afinal de contas, cada conto é uma história diferente e eles não são interligados mesmo. É um livro que pode ser interrompido sem culpas e retomado sem problemas. Se você não conseguir resistir a tentação de pular para os títulos ou para as autoras que mais te atraem, sugiro que o faça da forma mais linear possível, que foi o que fiz.
A imagem da capa da edição brasileira foi feita aqui mesmo por Wagner Willian e remete aos cartazes de filmes clássicos de vampiros da Hammer Film. Cada trama é um universo próprio, pois cada autora tem sua própria visão do vampiro e o vampiro é sempre usado em um contexto diferente para passar uma mensagem diferente. Ou seja, vampiros e vampiras são atores e atrizes bem versáteis. Através deles, temas variados como o medo da morte, medo do envelhecimento, vício em drogas, solidão, relacionamentos abusivos, amores frustrados, crimes passionais, vaidades, egoísmos, rancores, desejos reprimidos entre outros podem ser abordados. Fora que o livro também conta com vampiros que interpretam heróis e anti-heróis em simples aventuras de ação despretensiosas feitas só para divertir. Realmente os vampiros se prestam a vários papéis.
A maioria dos textos é bem recente, de 1990 até hoje. Com efeito, 14 dos 35 contos foram originalmente publicados em 2001. Só 11 textos vão de 1896 até 1988. Em se tratando de Brasil, O Grande Livro dos Vampiros preenche algumas lacunas, poucas, mas preenche. Muitas das autoras do livro eram inéditas no Brasil, mas inéditas como um todo, não só inéditas enquanto autoras de histórias sobre vampiros. São raras as escritoras no livro que se dedicam exclusivamente a escrever sobre vampiros. Muitas delas ganharam prêmios por obras bem maiores.
A edição é capa dura, bem produzida, padrão Pipoca e Nanquim, feita para durar. Lembra os livros do saudoso Circulo do Livro. Este livro merece uma edição mais barata? Sim, uma vez que suas histórias têm potencial para formar novos leitores. Fora que apresenta várias autoras com obras que não se resumem a histórias de vampiros. Agora vamos para as perguntas que não querem calar:
Tenho que ler aquelas fichas das autoras antes de cada conto? Melhor não. É melhor que você só leia as fichas daquelas que te agradaram depois de ler cada conto que te agradou. Por que? Algumas dão pistas sobre os contos do livro e para leitores mais atentos podem ser spoilers involuntários. Outras podem levar sua expectativa para patamares estratosféricos, afinal, todas são bem premiadas e consagradas, mas você tem o direito de não gostar de um ou outro conto.
Alguns contos fazem parte de séries maiores? Sim. Preciso ler algo antes para entender os contos que fazem parte de séries maiores? Não. Nenhuma leitura prévia é necessária para nenhum conto deste livro. Ainda que fosse, cada conto é precedido de um texto (uma ficha, por assim dizer) sobre a autora com biografia e obra. Dos 35 contos do livro, 6 fazem parte de séries maiores e 29 são histórias completamente independentes. As fichas das autoras mostram que algumas delas possuem séries com vampiros, mas que trabalharam diferentes versões do vampiro ao longo da carreira. Logo, só contei como parte de série os contos em que as fichas das autoras não deixam margens de dúvidas quanto a isso.
Eu gostei do livro? Sim. A maioria dos contos são bons? Sim. Neste ponto cabe destacar que gostar ou não gostar de uma ou de algumas dessas histórias denota apenas gosto pessoal na maioria dos casos. A curadoria de Stephen Jones primou pela escrita tecnicamente bem-feita, ou seja, levando em conta apenas a redação, quase todas as autoras são excelentes. Quase não há barrigas em nenhum dos contos. Em geral, gostar ou não gostar de um texto desse livro é gostar ou não gostar da história em si. Ou dito de outra forma, quase todas as histórias são bem contadas, muito bem contadas. Qual conto que mais gostei? A Escadaria Noturna, escrita por Angela Slatter roubou meu pescoço e meu coração.
Quais contos eu menos gostei? Aqui, não seria justo falar apenas de um conto que eu não gostei: Ano Zero, por ser mal escrito mesmo; se é para fazer introspecção psicológica em um personagem só, use a primeira pessoa, não a terceira. Esse eu abandonei a leitura na época que li. Também abandonei a leitura de Assim Vai-se o Mundo que parece um texto de quadrinhos que não encontrou desenhista e que parece a edição 5 de uma minissérie de 12 edições. Estou sem paciência para isso no momento. Não encontrei o Grande Livro dos Vampiros numa seção de usados de gibiteria e, ainda que fosse o caso, o livro me prometeu histórias completas de verdade. La Diente é uma ofensa aos latino-americanos, embora seja bem escrito. Hisako-San também é um conto bem escrito, mas destila preconceito contra japoneses.
Vale o alto preço (mais o eventual frete)? Essa é uma pergunta com várias respostas: pela qualidade gráfica, sim. Se você gosta de terror e horror em geral, sim. Se você curte histórias variadas de vampiros com diferentes visões dos mesmos, sim. Se você já é fã de uma ou mais autoras presentes no livro, sim, e este é o meu caso. Já era fã de Anne Rice (Entrevista com o Vampiro, Pandora etc.) e de Pat Cadigan (série Wild Cards e Mulheres Perigosas); dificilmente as histórias delas nesse livro seriam publicadas no Brasil de outra forma pela triste realidade de nosso mercado editorial. Se você quer experimentar várias autoras ao mesmo tempo, sim. Vale ressaltar aqui que: a grande maioria dos contos, das autoras e até de alguns personagens recorrentes presentes em O Grande Livro dos Vampiros pela Pipoca & Nanquim, era inédita no Brasil. Eu gostei da maioria dos contos, então, para mim, o preço compensou, mas este é o mais subjetivo de todos os critérios.
Abandonei a leitura de Algum conto? Sim. Mesmo levando em conta a maioria dos contos que eu não gostei, a maioria dos textos é tão bem escrita que só abandonei a leitura de 2 dos 35 contos. Posteriormente, até consegui retomar e terminar os 2 abandonados, embora ainda não tenha gostado deles, mas não tinha nada novo para ler. Com efeito, completos eles ficaram ainda piores.
Há versão digital disponível? Sim, R$10,00 mais barata na época. Uma consideração final se faz mister: apesar de não brilharem feito purpurina (ou mármore), muitos destes vampiros andam de dia, ainda que preferindo a noite. E para os que ainda não leram Drácula, leiam o livro.
Boas leituras!? É um livro de terror e horror, bons sustos e pesadelos, hahahahaha!
Rodrigo Rosas Campos
Apesar de não curtir necessariamente história de vampiro acho bacana pelo aspecto do medo e entretenimento.Também a perspectiva de ser contos invés de uma narrativa única melhor ainda. Principalmente se tratando de um calhamaço. As editoras de maneira geral deveriam se arriscar um pouco mais e trazer narrativas de ficção cientifica e terror em histórias curtinhas como o conto. Leitura para mim é experimentação. Muitos leitores até gostariam de fugir de narrativas únicas mas por falta de opções se detém apenas nelas. Projeto bom da P &N. Essa capa está linda de morrer. Num estilo retrô. Aquele tipo de livro que dificilmente causará medo mas possivelmente te trará muito riso. Ótima resenha. Grande abraço. = )
ResponderExcluirEu Robô de Asimov é um livro de histórias curtas, contos, costuradas pelo depoimento de uma robôpsicóloga. Não é uma história grande de fato. Nessa pegada de experimentação, seguindo o link deste post e os links da resenha completa, há um livro de terror de escritores nacionais que vão te surpreender. Machado de Assis escrevia terror e foi popular por contos, não por romances.
ExcluirBom, não sei se você foi na minha resenha conto a conto. Resolvi deixar desse jeito, pois na completa, os contos um a um foram pulados pelos poucos que leram. Sei que estou em dívida com seu canal, mas muito obrigado por seus comentários maravilhosos nas minhas resenhas, beijos no coração!
Sinceramente não precisa ver meus vídeos. As vezes nem eu me assisto (usando o tempo em algo diferente). Tb só entro aqui quando me dá vontade de ler suas resenhas. Grande abraço...
Excluir= )
Eu gosto dos seus vídeos. Você é tímida na frente da câmera, mas é só pensar que está falando com um amigo e se soltar. Beijos e feliz aniversário!
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