terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Garimpando em Gibiterias Especial Compacto - Zumbis e Outras Criaturas das Trevas

Desaconselhável para menores de 18 anos.

    Zumbis e Outras Criaturas das Trevas foi uma antologia de quadrinhos em uma edição única e especial com publicações (até então inéditas) e republicações de vários criadores nacionais de quadrinhos de terror. Foi publicada em 2012 pela Editorial Kalaco. São 25 histórias em quadrinhos em 240 páginas, um conto em prosa, um poema ilustrado e muitas matérias sobre terror em quadrinhos no Brasil, quadrinhos de terror em geral e terror no cinema. Estas linhas falarão da edição como um todo, querendo uma resenha completa, mais detalhada, história a história, clique aqui. Este foi um dos primeiros garimpos de gibi e a versão completa não tinha a introdução padrão. Não tinha nem o nome "Garimpando em Gibiterias".

    O formato é o magazine, capa cartão e miolo em papel-jornal, o que rendeu duras críticas na época do lançamento, principalmente tendo em vista o preço final, caro para 2012. Também teve duas capas alternativas e a Comix não mandou a capa que eu escolhi. Se bem que, mesmo com o frete, paguei menos que o preço de capa de 2012: Comix perdoada. As capas alternativas também foram alvo de duras críticas do público e da crítica na época do lançamento. Caça-níquel manjado nos EUA (e até aqui no Brasil) para vender mais edições com o mesmo conteúdo.

    Não há um índice (ou sumário), e isso é a mais imperdoável das falhas. As histórias também não estão separadas por republicadas e inéditas e as republicadas não estão na ordem cronológica. Enfim, as histórias foram colocadas de forma aleatória mesmo. Queria que tivessem na ordem de publicação original, da mais antiga para as inéditas, mas quem sou eu?

    De fato, a qualidade da edição (da revista em si) é muito ruim. Em todo caso, não serei eu mais um a atirar pedras no aspecto técnico. Tenho certeza que a Editorial Kalaco fez o que pôde para tornar a edição o mais atraente, abrangente e acessível possível a um novo público. Publico esse que, vamos e venhamos, gosta de colecionar capas alternativas e depois reclama.

    Só o fato da Kalaco ter republicado nomes que fizeram a história das histórias em quadrinhos no Brasil, nos anos mais duros de nossa história, merece todo o nosso reconhecimento e aplauso. Uma época em que o terror sobrenatural era metáfora e válvula de escape ao terror real que foi a ditadura militar. Da minha parte, a Kalaco está perdoada.

    As histórias que foram republicadas eram antigas, mas não imaginava o quão antigas eram. Nem todas estão com a data da publicação original, mas há republicações de 1957, 1969, 1970, auge das HQs de terror no Brasil, e até da década de 1980, quando o terror cedeu espaço para os super-heróis nas bancas de jornais. Daí para frente as publicações de terror em quadrinhos nacionais no Brasil passaram a ser bem esporádicas mesmo. Essa despreocupação de contextualizar o leitor em cada história é outro ponto ruim da edição. Nem todas as matérias se referem às histórias e aos artistas que aparecem na edição.

    Aí um leitor pode perguntar: “Mas o que há no terror brasileiro que não há no estrangeiro?”. Pegada, ou melhor, pegação explícita! Até os zumbis são trabalhados no erotismo, imagine os vampiros e lobisomens.

    Como o próprio título fala, os zumbis são os astros, mas outras criaturas das trevas dão as caras. Também foram convidados para esta festa... digo, edição: vampiros, sobretudo o Drácula, convidado de honra pela pena de Shimamoto; lobisomens; alienígenas, sim, eles também estão aqui; bestas e demônios.

    Alguns artistas que trabalhariam para editoras norte-americanas também aparecem, mas nenhum usando os nomes americanizados, usados para ganhar mercado nos EUA. A contracapa e o expediente até publicam os nomes mais conhecidos pelos leitores das editoras gringas, mas os créditos internos põem seus nomes reais, usados antes deles publicarem lá para fora.

    A liberdade criativa dos quadrinhos independentes nacionais de terror é gritante. Várias histórias diferentes mostram causas diferentes para os zumbis, afinal, estamos no multiverso do folclore e dos mitos. Bem verdade que muitos decidem não explicar os zumbis, mas, em algumas tramas, a explicação faz diferença criando um contexto para aquele mundo e cada autor ou equipe cria seu próprio mundo. Todas as 25 histórias são auto contidas e completas. Prato cheio para leitores casuais e novos.

    É uma edição de colecionador? Sim. Pela qualidade inestimável de histórias que deveriam estar em edições em catálogo permanente em livrarias e gibiterias, mas estamos no Brasil. A garantia desse valor fica por conta de Rodolfo Zalla, Jayme Cortez, Antônio Rodrigues, Shimamoto entre outros. Há também a primeira publicação de uma história da série São Paulo dos Mortos, idealizada e escrita por Daniel Esteves, e um Mike Deodato Filho antes da fama. Fora um Roko Loko, porque the zoeira never end! É uma edição de colecionador com certeza. Merecia uma republicação revisada e melhorada, com um índice, galeria de capas originais e com as duas capas alternativas, textos contextualizando cada história, histórias na ordem em que foram originalmente publicadas, contos, poemas e matérias gerais no final como extras e, no mínimo, um papel offsete no miolo? Sim, merecia. Kalaco, fica a dica!

    Se puderem, bons sonhos e boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos



2 comentários:

  1. Parece sem bom. 🙌😘

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É bom, mas há que se desconsiderar o aspecto material da edição. Vi em melhor preço na Comix, que tem loja virtual e envia para todo o Brasil. Em todo caso, procure outras lojas ou vendedores, a Estante Virtual tem vendedores que trabalham com quadrinhos.

      Excluir

[Matéria] A Influência de Astro City Em Duas Histórias em Quadrinhos Brasileiras

   Rodrigo Rosas Campos     Para falar de Astro City e de sua influência nas duas histórias brasileiras mostradas a seguir, temos que voltar...