quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Garimpando No Evento Agaquês: Pai por Johandson Rezende


 

Contém cenas fortes!

   O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Por esse motivo, os eventos de quadrinhos no Brasil, por menores que sejam, precisam ser estimulados e divulgados. São momentos em que leitores e criadores de quadrinhos (escritores e desenhistas) podem interagir sem intermediários. A série “Garimpando No Evento...” fala de quadrinhos que foram comprados diretamente com os criativos nos eventos. A pedra garimpada de hoje é Pai, R$ 10,00, por Johandson Rezende e foi garimpada no evento  Agaquês.

    Não há muito o que dizer sobre essa história: nela, Johandson Rezende conta os últimos dias de seu pai e relembra sua infância. É uma história autobiográfica em que o autor narra os cuidados que teve para com seu pai no leito de morte deste. Sem pudores, mas tocante.

    Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “garimpando” e clique no botão “pesquisar”. Assim, você verá tanto os outros garimpos de eventos como o “Garimpando em Gibiterias”.




    Boas leituras!

    Rodrigo Rosas Campos


terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Garimpando No Evento Agaquês: Mestres do Terror # 67


+18

    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Por esse motivo, os eventos de quadrinhos no Brasil, por menores que sejam, precisam ser estimulados e divulgados. São momentos em que leitores e criadores de quadrinhos (escritores e desenhistas) podem interagir sem intermediários. A série “Garimpando No Evento...” fala de quadrinhos que foram comprados diretamente com os criativos nos eventos.

    A pedra garimpada de hoje é Mestres do Terror #67 e foi garimpada no evento Agaquês, preço de capa, R$ 15,00, preste atenção antes de comprar!

    A retomada da Mestres do Terror pela editora Ink Blood nos trouxe em setembro de 2017 esta revista com capa de Laudo Ferreira trazendo Anya, com roteiro de Lillo Parra e Laudo Ferreira e arte do próprio Laudo. Anya segue uma tradição de filhas do Drácula, esse vampirão não para, pelo mundo todo. Entretanto, desde a estreia de Naiara, foi no Brasil que Drácula fez sua mais numerosa prole com suas mais belas filhas.

    Todas as histórias da revista estão completas e ela ainda conta com nomes como Greifo, em uma história de lobisomem; Raul Galli Alves, que promoveu o encontro do monstro de Frankenstein com o perverso senhor Hyde; o surgimento da Coisa do Tietê por Lillo Parra e Will Sideralman; e uma história desenhada por Rodolfo Zalla com texto de Meri.




    Outro destaque é a entrevista com Vampirelle, uma personagem que surge de um projeto multimídia de seus criadores. Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “garimpando” e clique no botão “pesquisar”. Assim, você verá tanto os outros garimpos de eventos como o “Garimpando em Gibiterias”.

    Boas leituras e bons sonhos, hahahahaha!

    Rodrigo Rosas Campos

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

[Resenha] Surubotron! de Davi Calil

+18


    Com roteiro, desenhos, cores etc. de Davi Calil, Surubotron é sobre um alien que se acidenta e cai na Terra. Sua chegada é observada por um cientista e por um nerd. Enquanto o alien tenta recolher os pedaços de sua nave, o cientista vai até o local da queda e pega um artefato que o alien não consegue recolher. Um artefato que, colocado em funcionamento, faz com que a população mergulhe num frenesi sexual, para o delírio do nerd.

    Porem o alien precisa recuperar este artefato e parar o frenesi sexual que, aparentemente se espalhou em ondas por todo o planeta Terra, mas o cientista quer prosseguir com seu experimento e usará um robô gigante contra o alien, enquanto isso, o nerd tenta se dar bem na suruba generalizada. Quem vencerá essa disputa?

    Surubotron é uma hilária paródia de filmes trash de invasões espaciais. Num bela sacada, Davi Calil mostra como filmes de ação e pornografia seguem basicamente os mesmos padrões, só diferindo nos tipos de cena que são os pretextos para se filmar e se assistir. Isso é irônico e engraçado. O final da história é uma reviravolta surpreendente. Formato franco-belga, em cores, lombada quadrada, editora Dead Hamster, R$ 35,00 (mais o eventual frete). Vale cada centavo.

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

[Resenha] Pancadaria: Por Dentro do Épico Conflito Marvel Vs. DC de Reed Tucker


    Eu sei, esse livro saiu em 2017 nos EUA e em 2018 no Brasil, sob vários aspectos, ele já está defasado em relação a 2024, quando escrevo esta resenha. Mas esperei ele baratear e o comprei a R$ 22,50 esquecido numa livraria. Seu preço foi muito caro em seu lançamento. Quase uso o título “Garimpando em Gibiterias Especial – Livro”, mas eu não o comprei usado, o achei tão desvalorizado quanto os mais atuais quadrinhos (e filmes) da Marvel e da DC numa livraria de novos mesmo.

    No início da leitura, fiquei comparando ele com o livro específico da Marvel, mas logo vi que isso seria um engano. O livro de Reed Tucker é focado em perspectivas de quem estava dentro das chefias das duas empresas e do mercado de quadrinhos estadunidenses durante esse conflito. Aqui, a narração de Tucker é entrelaçada por citações de pessoas que ele entrevistou ou que ele coletou na imprensa norte-americana especializada em quadrinhos de super-heróis, sim, isso existe lá fora.

    Outro diferencial é a coleta de depoimentos de lojistas de gibiterias norte-americanas (comics shops) que, ao longo das décadas, levaram “tiros” da Marvel e da DC ao mesmo tempo. É um recorte bem preciso e milimétrico da história. Tucker revela coisas que não estão no livro laranja sobre a Marvel, mas traz bem menos informações sobre as histórias das editoras. O enfoque é o detalhamento do conflito por quem sofreu ele por dentro.

    Temos a perspectiva de editores, dos grandes autores e desenhistas, ou seja, se o seu autor obscuro favorito de um personagem igualmente obscuro da Marvel ou da DC não aparecer no livro, é porque além de ser um autor obscuro de um personagem igualmente obscuro, ele nunca foi editor de nenhum título nem na Marvel, nem na DC.

    No fim, não é um livro sobre quadrinhos, é um livro sobre o ambiente corporativo numa relação de concorrência não saudável que afeta negativamente até os vendedores varejistas e os consumidores finais, neste caso, os parcos leitores envelhecidos que ainda compram quadrinhos da DC e da Marvel. Reed Tucker começa falando de quando ele próprio foi criança nos anos 1980 e de como as gibiterias dos EUA já estavam se tornando ambientes tóxicos desde então.

    O início do livro é truncado, afinal a história começa nos anos 1960 e tanto a DC como a nascente Marvel tinham funcionários que estavam no mercado desde os anos 1930, nem todos os envolvidos puderam falar com Tucker, o autor teve que recorrer a jornais, revistas, livros e fanzines para ter contato com algumas informações e declarações.

    A escrita de Tucker começa a brilhar quando Jenette Kahn entra na DC assumindo o comando. O livro melhora tanto com a entrada dela na história, que tenho a sensação de que o que ele queria mesmo era contar a história de Jenette Kahn. Quando ela se aposenta, o livro volta a perder o brilho extra, mas já está acabando.

    A rivalidade começa bem no início da ascensão da Marvel, com a galhofa marqueteira de Stan Lee. Verdade seja dita, Stan Lee não subestimou a inteligência de seu público na hora de escrever e, em um período relativamente rápido, começou a vender mais que a DC com suas cocriações com Kirby, Ditko, Romita, Everett etc. Ele botou os créditos nos quadrinhos e os leitores sabiam quem estava fazendo o quê em cada edição. Ainda assim, era (e, nos casos da DC e da Marvel ainda é) sob aquele sistema hediondo em que os profissionais cediam os direitos autorais para a empresa e só recebiam por página; mas pôr os nomes nos créditos já foi suficiente para irritar a DC, que nem isso fazia. Segundo os mandachuvas da DC nos anos 1960, quem gosta do Superman tem que gostar do Superman, não de quem escreve e de quem desenha.

    Todavia, Lee começou a hostilizar a antiquada DC fazendo os leitores da Marvel se sentirem autorizados a hostilizar os leitores da DC na ponta extrema do processo. Isso foi nos anos 1960, muito antes das redes sociais. Lee dividiu uma bolha em duas, uma vez que super-heróis em quadrinhos já eram um nicho reduzido cujo último crescimento foi até os anos 1980, quando o público parou de se renovar e começou a encolher e a envelhecer. Enfim, o publico até se renovou, ainda que de forma bem polarizada, até os anos 1980 e começou a envelhecer e a não se renovar mesmo. “E os recordes de venda nos anos 1990?” - esse recorde já foi resultado de especulação, não havia tantos leitores lendo de fato da DC ou da Marvel. Muitos leitores abandonaram ambas nesta época.

    Voltando a Jenette Kahn, ela entra na DC, mas, nesse meio tempo a DC cai no colo da Warner; falemos a verdade, a DC foi imposta para a Warner por um grupo de especuladores que atirava para todos os lados. Enquanto a Warner ignorava a DC, Stan Lee sempre quis filmes da Marvel e se esforçou para licenciar, sendo seu maior sucesso a série de TV do Hulk. Fora isso, tudo que Lee e os mais antigos chefes da DC conseguiram foi criar um ambiente de hostilidade tal que contaminava eventualmente até os leitores e os funcionários das duas empresas.

    Jim Shooter, que fora hostilizado na DC quando escreveu uma fase memorável da Legião dos Super-Heróis no estilo Marvel, chega na Marvel carregado de rancor, virando o editor-chefe mais odiado da história da Marvel, pois replicou na Marvel os abusos que sofrera na DC. Isso prejudicou o encontro da Liga da Justiça com os Vingadores por décadas.

    Neste contexto, Jenette Kahn é mostrada como alguém que tentou levar bom-senso a esse caos. Como ela não alimentava a rivalidade, na gestão dela os funcionários não estavam com medo de serem descobertos se confraternizassem com os da outra empresa. É notório o quanto o autor do livro Reed Tucker respeita as atuações de Jenette Kahn ao longo do tempo. É com a entrada dela na história que o texto ganha brilho e pega o leitor.

    Da parte da Warner, ela só olhou de fato para a DC quando a Marvel estava fazendo sucesso com o universo cinematográfico. Pondo o carro na frente dos bois, Snyder em seu “murderverse” tenta acelerar o sucesso da Marvel para a Warner, mas fracassa nas bilheterias (ao menos para os padrões Warner e em comparação com a Marvel/Disney).

    Enfim, se eu falasse tudo, esta resenha teria que ser tão grande quanto o livro sobre o qual ela fala. A parte interessante do livro é o enfoque bem específico nos cabeças das editoras e nos conflitos entre as empresas ao longo das décadas que acabou transbordando e contaminando até a Warner e a Disney em baixarias trocadas em redes sociais, o quanto isso prejudica os fãs das duas marcas e os vendedores do varejo de quadrinhos nos EUA.

    O ponto fraco desse livro é que até a história da própria DC é melhor abordada no livro laranja da Marvel, uma história secreta (nunca acerto o título desse livro). Casos como as histórias independentes nos selos Epic e Vertigo não são abordados. O selo Vertigo é até citado, mas restrito a parte adulta do universo DC que se emancipou dos super-heróis na época e que pertencia a empresa previamente. Salvo V de Vingança, as demais séries autorais na Vertigo e na Ws não são nem mencionadas. Enfim, Pancadaria é, especificamente, sobre como os cabeças da DC e da Marvel, os fãs e os varejistas americanos sofreram com essa concorrência estúpida ao longo de décadas e de como isso, estranhamente, se estendeu para os filmes e séries de TV.

    Por vários motivos, tenho que reconhecer que Stan Lee não foi um reles farsante, basta ver os trabalhos de Ditko e Kirby sem ele nos roteiros e nos diálogos. Porém a triste conclusão a que podemos chegar ao terminar essa leitura é que as maiores e mais influentes criações de Stan Lee não foram o Homem-Aranha ou o Quarteto Fantástico etc., foram a polarização e a cultura de ódio muito antes da Internet e das redes sociais. Não me importa se Lee teve dolo ou culpa; que ele só queria vender gibis; se a intenção era boa, fazer os quadrinhos deixarem de ser estigmatizados etc.; Stan Lee ensinou o mundo a como polarizar pessoas e fazê-las se odiar em tribos opostas usando como cobaias leitores de quadrinhos de super-heróis. Deixe seu comentário com carinho e educação, de preferência, depois de ler, ao menos, o livro Pancadaria inteiro.

    Quase esqueço, o epílogo do livro nos lembra que quadrinhos não se restringem a DC ou Marvel e nem a super-heróis. Não aguenta mais ler histórias velhas redesenhadas como se fossem novas de personagens que foram originais mas que estão anacrônicos tanto da DC quanto da Marvel? Olhe a produção de quadrinhos como um todo. Gosta de super-heróis? Super-heróis fora do eixo DC/Marvel também existem aos montes. Sugiro Astro City, de propriedade de seus autores e que, hoje, é publicado e republicado nos EUA pela Image.

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

[Resenha] A Ilha dos Condenados de Eric Peleias e Ligia Zanella

    A Ilha dos Condenados, com texto de Eric Peleias e desenhos de Ligia Zanella, é o mais novo quadrinho de terror do também novo selo Insânia da editora Ultimato do Bacon. Uma antiga ilha prisão é convertida em promissor pomar. Um jovem chega nessa ilha onde se cultiva maçãs para trabalhar. Tudo parece um sonho, ele tem um colega de alojamento, com quem compartilha interesse por séries de TV, e até uma candidata a namorada.

    Mas em uma noite, ele descobre um estranho sujeito se aproximando da cama de seu colega de alojamento, que desaparece depois disso. Aí as coisas estranhas começam a acontecer. Serão os fantasmas dos condenados ou algum mistério envolvendo a estranha torre no centro da ilha? Por que os trabalhadores são incentivados a comer quantas maçãs conseguirem e a assistir tudo o que desejarem em seus pequenos celulares? 56 páginas, uma história curta e fechada, ir além daqui é dar spoilers.

    Como toda boa história de terror, nos faz refletir sobre nossa sociedade, mas, como já disse, comentar a história por completo é dar spoilers. Disponível em gibiterias físicas e virtuais, na loja da UB Editora e também na Amazon. Capa cartão, formato americano, miolo preto e branco, história completa, poucos extras, pequena biografia dos autores, lombada canoa grampeada. Foi publicada pela editora Ultimato do Bacon no selo Insânia. O preço é de R$ 36,00 (mais o eventual frete).


Boas leituras e, se puder, bons sonhos, hahahaha!

Rodrigo Rosas Campos



domingo, 21 de janeiro de 2024

[Resenha] Garrincha, Biografia em Quadrinhos por Fabiano Santos e Samuel Bono


     A história de Garrincha em quadrinhos com texto de Fabiano Santos e desenhos de Samuel Bono pela dobradinha Ultimato do Bacon e Memorabília do Esporte com reforço da Editora Universo Fantástico. Sim, três editoras juntas para trazer a história do anjo das pernas tortas, a alegria do povo, Mané Garrincha.


    O texto do quadrinho foca na vida antes do futebol, a vida de operário, as constantes reprovações nas peneiras até ser descoberto pelo Botafogo atuando num time pequeno e a carreira esportiva como um todo, nada de fofocas ou escândalos, salvo o dia em que ele foi “resgatado” de um bar em Pau Grande pela equipe técnica da seleção brasileira. Enfim, é história com H maiúsculo, não há muito a dizer. Garrincha é um bom ponto de partida para a vida desse grande jogador e para a história do futebol brasileiro como um todo. O desenho, arte-final e cores são de Samuel Bono é são espetáculos a parte. É um quadrinho muito dinâmico que simula os quadrinhos e as cores dos anos 1960 com maestria.

    Traz extras maravilhosos com destaque para um texto de Helio de La Peña. Mas também traz um texto dele, José Carlos Araújo, o verdadeiro Garotinho. Mas o melhor extra é saber que um dos editores da UB, Lucas Souza, um flamenguista roxo, editou páginas em que o anjo das pernas tortas humilha o rubro-negro. Na época de Garrincha, era um Mané que humilhava os joões. O preço da edição é de R$ 60,00 (mais eventual frete), miolo em cores, lombada quadrada, formato americano. Já nas lojas da Ultimato do Bacon e Memorabília do Esporte.

Boas leituras!

Rodrigo Rosas Campos

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

[Resenha] Dossiê Bizarro: Notícias Sensacionalistas e Assustadoras Adaptadas Para os Quadrinhos

+18

    Sabe aquelas histórias sensacionalistas de tabloides e programas de TV nada confiáveis que envolvem até E.T.s e seres sobrenaturais? Pois bem, esta é a matéria-prima das histórias em quadrinhos de Dossiê Bizarro. Aqui, os autores pegaram essas notícias esdrúxulas e as transformaram em divertidas histórias de quadrinhos de terror. E, se as histórias parecem exageradas e apelativas, é porque são exageradas e apelativas mesmo. É sensacionalismo adaptado para quadrinhos.

    Sibylla tem roteiro de Jorge de Barros e desenhos de Alex Genaro. Estamos em um laboratório que estuda sonhos precognitivos, duas senhoras gêmeas sonham, uma com sonhos sempre desagradáveis, outra com sonhos sempre agradáveis. Mas pode dois sonhos antagônicos gerarem uma única previsão do futuro? O que sobressai dessa combinação, a parte boa ou a parte ruim? É isso que você descobrirá lendo essa história.

    Kiko Garcia escreve e desenha Chamas, uma história em que um grupo de peritos e legistas tenta descobrir como o corpo de uma senhora simplesmente pegou fogo. Teria este caso uma explicação plausível ou foi uma combustão espontânea?

    Em Desdobramento, com texto e desenhos de Marcel Bartholo, vemos uma mulher as voltas com os demônios da paralisia do sono até que ela se vê projetada astralmente e com a chance da salvar o próprio corpo adormecido desses demônios.

    Camangari tem roteiro de Eliane Bonadio, arte de Gio Guimarães e letras de Alex Mir. Conta a história de uma tribo de indígenas expulsa de suas terras por colonos portugueses e da anciã que se recusa a deixar sua terra e é acusada de bruxaria.

    Dies Irae é sobre um casal de músicos eruditos que é uma sensação na cena cultural. Ele, um jovem grande maestro, ela, uma jovem grande violinista. Eles se casam e tem uma carreira brilhante. Mas ele acredita que o sucesso vem dela, que ela está roubando sua atenção, que ela está tendo mais holofotes. Enciumado pelo sucesso da esposa, ele a mata e passa a ser perseguido pelo fantasma da esposa violinista. Comentar mais é dar spoilers. Escrito e desenhado por Daniel Sousa.

    O Homem Queimado com roteiro de Clarice França e desenhos de Germana Viana é sobre um fantasma que atormenta uma mulher desde que ela era pequena e que sempre é precedido com um cheiro de queimado. Quando se manifesta, de fato tem a forma de um homem queimado, ainda chamuscado. Mas ela precisa fazer algo quando este monstro de infância ameaça seu filho ainda criança.

    Ana tem roteiro e desenhos de Leander Moura. A história é sobre Ana, ela vê fantasmas, mas também há a possibilidade dela mover objetos com a mente sem perceber.

    Em O Desejo Oculto Nas Trevas, com texto e desenhos de Laudo Ferreira, temos um relato de uma mulher que diz ter vivido com um ser intra terrestre depois de ter visitado uma caverna e sentido a presença dele e de sua civilização perdida. Num convívio bem intenso, diga-se de passagem.

    Não Estou Só é outra história sobre precognição. Com roteiro de Regiane Braz e desenhos de Tarso Micchetti, falar mais é dar spoiler.

    Ponto de Fuga é sobre a influência das redes sociais, remédios tarja preta e o isolamento na pandemia. Estaria o trágico protagonista realmente vendo coisas em meio a tudo isso ou seria apenas o efeito de uma tempestade perfeita provocada por três elementos combinados e perfeitamente explicáveis? A história tem roteiro de Douglas Freitas, desenhos, The Immigrant e letras de johnny C. Vargas.

     Possessão tem como base uma história real de verdade. Com roteiro de Alex Mir e desenhos de Júlio Shimamoto, essa história narra o crime do poço acontecido na casa que existia no terreno de onde seria construído o edifício Joelma. Por conta desse crime no qual um homem matou a mãe e duas irmãs jogando-as num poço que mandara construir, o edifício Joelma foi considerado assombrado muito antes do incêndio.

    Essas histórias ou foram baseadas em sensacionalismos anteriores a Internet ou serviram de base para lendas urbanas anteriores a rede. Circularam em jornais, programas de televisão de qualidade duvidosa mesmo até os anos 1990 e no boca a boca. No caso dos programas de TV, com depoimentos “reais” bem canastrões, dúbios, muito duvidosos e pouco convincentes.

    Interessante notar como essas fake news e teorias conspiratórias fascinam as pessoas até os dias de hoje, parece que algumas pessoas querem realmente acreditar. Os extras possuem depoimentos dos autores sobre os acontecimentos que os levaram a fazer as histórias bem como as biografias dos mesmos. Publicado em 2020, formato americano, lombada quadrada, capa cartão, está em catálogo, miolo em preto e branco, editado pela Skript, R$ 35,30 mais eventual frete e menos uma eventual promoção.


Boas leituras e bons sonhos, se puder, hahaha!

Rodrigo Rosas Campos

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

[Resenha] A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Outros Contos de Washington Irving

    A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Outros Contos de Washington Irving é uma publicação da editora Wish que traz quatro contos de terror: o conto título, o original do Cavaleiro Sem Cabeça; Rip Van Winkle; O Noivo Espectral (e a Cozinha da Estalagem); e O Diabo e Tom Walker. Este volume, editado por Marina Avila pela editora Wish, também conta com um prefácio de Oscar Nestarez e uma introdução de Jim Anotsu, mas antes, vamos as histórias:

    A primeira e mais famosa, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é bem arrastada, mas é muito boa. Aliais, sua melhor parte é o tanto como ela é aberta para o passado e para o futuro. Muitas adaptações distintas para o audiovisual já foram feitas a partir desse conto e ele se presta verdadeiramente a diferentes interpretações e visões.

    Sleepy Hollow abriga vários fantasmas além do mais famoso, o Cavaleiro Sem Cabeça, que era um mercenário alemão a serviço da coroa Inglesa e que lutou na Guerra da Independência dos EUA contra os americanos. Morreu quando uma bala de canhão acertou sua cabeça decapitando-o e o condenando a procurar sua cabeça perdida pelo resto da eternidade.

    Segundo a história de Irving, Ichabod Crane, um professor que veio de longe e que se apaixona pela filha do fazendeiro mais rico da região, viveu um dos muitos encontros, que não foi o primeiro e nem o último, com os fantasmas do cavaleiro e de seu cavalo infernal. Diga-se de passagem, a ideia de que outros fantasmas e outras histórias habitam aquele lugar é incrível. As possibilidades de interpretações distintas para a história de Crane geraram as mais variadas adaptações do texto de Washington Irving.

    E, neste caso, cada adaptação para outra mídia, cinema ou desenho animado, acaba por tomar liberdades que o próprio texto original sugere e permite de acordo com a visão de que quem está adaptando o roteiro e/ou fazendo a direção. Ou seja, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça propõe possibilidades de interpretações e de reimaginações completas. É nesse ponto que reside sua força até os dias de hoje. Mais do que uma história, Irving criou um cenário maior que pode ser usado até os dias de hoje.

    Agora, vamos aos outros 3 contos do livro. Começando por Rip Van Winkle, ele é um sujeito pacato, que vive uma vida bem simples e um dia se encontra com espíritos das montanhas, bebe a bebida deles, dorme nas 13 Colonias e acorda depois da independência dos EUA. Como um excelente exemplo de narrador não confiável, caberá a cada leitor(a) acreditar ou não no sobrenatural.

    O Noivo Espectral (e a Cozinha da Estalagem), uma cozinha de estalagem é palco para contadores de histórias e uma delas é sobre jovens noivos nobres. Um casamento arranjado, um noivo prometido morre e um amigo deste deve levar o recado ao castelo da família da noiva. Porém esse amigo se encanta pela jovem nobre e a recíproca é verdadeira, e agora? Ele conseguirá transmitir a mensagem?

    Em O Diabo e Tom Walker, um tesouro de pirata é guardado por um demônio e este tentará o avarento Tom Walker e sua avarenta esposa. Ambos serão levados a lutar pelo tesouro, são um casal, mas será cada um por si. Confesso que esperava mais dessa história, mas ela é realmente boa. O conto é um tanto problemático ao mostrar um casal de avarentos em uma relação abusiva de ambas as partes, mas logo a história muda de foco. O infame e avarento Tom Walker ainda possuí limites morais e tentará ludibriar o diabo. Conseguirá?

    No geral, nunca vi tantos detalhes em histórias tão curtas. Washington Irving escreve grandes “barrigas” em histórias incrivelmente curtas, daí a profusão de adaptações de suas obras em teatro, cinema, TV etc. e as diferenças entre elas. Narrativamente, seus personagens são pessoas bem mundanas, com vidas bem cotidianas e banais, descritas e narradas de forma minuciosa para que o leitor valorize os encontros destes personagens com o sobrenatural, seja este sobrenatural terrível como um Cavaleiro Sem Cabeça, encantador como uma festa em torno de uma bebida mágica que faz dormir por décadas ou perfeitamente explicável.

    Enfim, é um autor que precisa de leitores realmente dispostos a experimentar formas narrativas verdadeiramente antigas. Influenciou e influência gerações direta ou indiretamente de forma incontestável. É uma leitura agradável, mas arrastada, ainda que as histórias sejam realmente curtas e boas. É um daqueles casos em que as forças das ideias superam a simplicidade e os textos em excesso. Basicamente, Washington Irving mistura história e lendas forjando sua ficção como uma amalgama de imaginação e realidade.

    Sobre a edição, agora vamos aos textos extras: dica, deixe para lê-los no final. Marina Avila, editora-chefe e dona da Wish, chamou dois especialistas para fazer um prefácio e uma introdução. Mas por que não simplesmente traduzir e publicar os contos? Para contextualizar os leitores do presente na época em que os textos foram escritos. Isso foi necessário em virtude de elementos da época de Washington Irving, que viveu a independência dos EUA, mas não o fim da Guerra da Secessão, ou seja, há elementos na história que são bem problemáticos para os dias de hoje.

    O prefácio de Oscar Nestarez fala especificamente sobre Washington Irving, sua vida, suas influências e o contexto histórico em que nasceu, viveu e morreu. Irving tinha como dois de seus maiores interesses a história e o folclore dos EUA e do mundo. Entre as influências do autor vemos que ele usou outros cavaleiros fantasmas, sem cabeças ou não, para forjar um, até então novo, especialmente criado para assombrar os EUA.

    Como complemento a isso, a introdução de Jim Anotsu foca no racismo estrutural da época de Irving por conta de passagens específicas de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Tendo isso em vista, foi uma grata surpresa quando até mesmo o infame Tom Walker recusou um pedido do diabo para se tornar um escravista, isso seria descer baixo demais até para ele.

    A obra de Washington Irving é a prova viva de que toda ficção é política, pois toda história fictícia reflete, direta ou indiretamente, a história política, o contexto e o espírito do tempo em que foi concebida. Enfim, entre cortar os trechos problemáticos, que seria uma censura a um passado histórico, ou explicar o contexto da época, 1820, optou-se por explicar o contexto da época trazendo dois especialistas.

    Não a toa, o trabalho da editora Wish é louvável em resgatar materiais antigos sem passar pano para os erros históricos passados que, eventualmente, são retratados nas obras de ficção que, como frutos de seus tempos, por melhores e mais universais que sejam, guardam as máculas das épocas e dos lugares em que foram produzidas.

    Feitos estes esclarecimentos, o livro A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Outros Contos é uma leitura agradável e, certamente, muita inspiradora. Se você gosta de criar suas próprias histórias ou de jogar RPG, há um cenário pronto e bem ambientado ali. O trabalho gráfico da editora é um primor, uma atração a parte, o livro é ricamente ilustrado com gravuras de várias épocas, incluindo as atuais feitas para a edição.

    Em uma promoção na loja da Dark Side, o livro foi R$ 65,45 mais eventual frete, também havia frete grátis em compras acima de um valor que não lembro mais e não sei se a promoção ainda vale. Para quem não conhece a editora Wish, ela é uma das editoras que costumam publicar no Brasil textos e livros que, apesar de estarem no domínio público há décadas, nunca foram publicados no Brasil ou que raramente foram republicados no Brasil. Uma tendência desde os anos 2000 para preencher lacunas históricas de nosso mercado editorial. Mas ao contrário da maioria das editoras de seu segmento, o catálogo da Wish também é formado por livros contemporâneos, com coletâneas de novos autores e destaque para a pesquisa documental The Five.

Boas leituras,

Rodrigo Rosas Campos

Garimpando No Evento Feira do Lavradio: Leitura Recomendada da Revista Traços RJ 17 e 20

  Neste evento, o que foi garimpado não foi um quadrinho, mas sim um periódico novo. E essa nova proposta é uma leitura recomendada.     As ...