terça-feira, 2 de maio de 2023

Garimpando Em Gibiterias Especial Resenha Revista e Reduzida: Dias de Horror

 

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    O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Fradim, Watchmen, Piratas do Tietê e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

    A pedra garimpada de hoje é Dias de Horror de 2017. Feita pelos profissionais agenciados pelo Chiaroscuro Studios, que trabalham para editoras estadunidenses como DC, Marvel, Dark Horse, Titan Comics etc.

    É uma história fechada em edição única que traz novos personagens e um novo universo, portanto, qualquer um pode ler: desde o novato em quadrinhos, o novato em super-heróis (mais especificamente), ou mesmo um leitor casual. Não é necessária nenhuma leitura prévia para o entendimento e não será necessária nenhuma leitura posterior, pois se trata de uma história verdadeiramente fechada e completa. E a equipe?

    A equipe é gigante. A história foi roteirizada por Danilo Beyruth (Bando de Dois). Com artes (desenhos, arte final e cores) de: Adriana Melo; Adriano Di Benedetto; Alex Shibao; Allan Jefferson Alisson Borges; Amilcar Pinna; Andrei Bressan; Breno Tamura; Bruno Oliveira; Cris Bolson; Daniel HDR; Daniel Maia; Danilo Beyruth; Diógenes Neves; Dijjo Lima; Eber Ferreira; Eddy Barrows; Eduardo Ferigato; Eduardo Pansica; Fabiano Neves; Felipe Watanabe; Geraldo Borges; Gustavo Duarte; Ig Guara; Ivan Reis; JOK; Joe Prado; Jonas Trindade; José Luis; Júlio Brilha; Júlio Ferreira; Leonardo Romero; Lucas Werneck; Marcelo Costa; Marcelo Di Chiara; Marcelo Maiolo; Márcio Fiorito; Márcio Hum; Márcio Menyz; Márcio Takara; Natalia Marques; Nuno Plati; Oclair Albert; Paulo Siqueira; Péricles Júnior; RB Silva; Ricardo Jaime; Robson Rocha; Rodney Buchemi; Rodrigo Spiga; Rogê Antônio; Ronan Cliquet; Ruy José; Thony Silas; Wesllei Manoel; Yildiray Cinar e Zé Carlos. O produtor do projeto é Ivan Costa e o editor desta publicação foi Sidney Gusman (editor da Maurício de Sousa Produções e do site Universo HQ). Letras e design gráfico de Rodolfo Muraguchi. Capa: Danilo Beyruth (lápis); Joe Prado (arte-final) e Marcelo Maiolo (cores da sobrecapa).

    Dias de Horror traz um universo novo de super-heróis. O roteiro de Danilo Beyruth é autoral, houve liberdade para fazer a história que ele queria como nenhuma editora grande e comercial jamais permitiria. Isto posto, a história é a seguinte: um grande supervilão, chamado de Doutor Horror, que também é ditador da Krasólvia, um pequeno (e fictício) país do leste europeu, é acusado de ter conspirado com alienígenas para tentar dominar a Terra. Nessa invasão, alguns heróis ficaram seriamente feridos, uns incapacitados e outros morreram. Entre os mortos estão os três maiores heróis do planeta: Solar, Caçador e Rapina. Agora o Doutor Horror será julgado, dois anos depois da invasão, até porque paira uma dúvida sobre seu suposto envolvimento com os alienígenas invasores. Dias de Horror é uma história de julgamento. É corajosa em vários aspectos. Danilo Beyruth está de parabéns.

    A edição tem como pontos altos: A arte de vários artistas em uma única história. Esse é um formato muito usado em especiais e anuais de quadrinhos norte-americanos, mas (acho que) nunca foi feito por aqui; ao menos não nessa escala, com mais de 50 artistas gráficos, uma média de duas páginas por desenhista (alguns fazendo a própria arte-final) e com 88 páginas de uma única história. Aqui, no Brasil, edições com muitos desenhistas costumam trazer histórias diferentes (uma para cada desenhista), e não uma única trama. Essa discussão não cabe aqui, mas, se quiserem, deixem comentários.

    Com relação aos desenhos, houve a preocupação em manter os visuais mesmo com as mudanças de estilos de um desenhista para o outro. Os desenhos são lindos, mas, embora os visuais dos personagens sejam sempre os mesmos, não houve um critério único para detalhes como alturas, medidas e feições. É como se todo o elenco mudasse a cada cena de um mesmo filme, mas isso não prejudica o conjunto. Cada leitor preferirá o estilo de desenho que mais lhe agradar.

    Cabe salientar também a influência dos quadrinhos franceses no traço nacional. Ela é dominante. Nossos artistas são muito influenciados pelo saudoso Jean “Moebius” Giraud, sobretudo as páginas 92 e 93 de Allan Jefferson (Lápis) e Júlio Ferreira (Arte-final). O Solar de Rodrigo Spiga lembra muito o Chatotorix de Uderzo, depois de puxar ferro, mas, ainda assim, lembra muito o bardo gaulês. É claro que menções visuais a Jack Kirby não faltam; afinal, Dias de Horror é uma homenagem ao gênero super-heróis, que foi graficamente definido ao longo de décadas, sobretudo, pelo Kirby. Que pipoquem Kirby dots por toda parte!

    Os pontos fracos são: Uma história previsível em que o momento mais imprevisível nem tem tanto a ver com o assunto principal, que é determinar se o Doutor Horror é culpado ou inocente. O texto até determina uma sentença, mas o leitor acaba tendo elementos para se permitir algumas dúvidas depois do final.

    A história foi produzida no Brasil, por brasileiros, mas não é exatamente brasileira. Faltou participação de personagens genuinamente brasileiros. Os personagens atuam, predominantemente, nos EUA e são, na maioria, norte-americanos, como os arquétipos que os originaram. Enfim, lembra um bang-bang italiano em quadrinhos (Tex, por exemplo) só que com super-heróis no lugar de cowboys. Pensei que ao menos um personagem brasileiro fosse criado especialmente para dar mais as caras, mas isso não aconteceu.

    Eu Gostei? Gostei! Achei perfeita? Não, mas gostei MESMO. É uma história básica e bem-feita de super-heróis, bem escrita e bem desenhada. Lembra os Incríveis da Pixar, no sentido de que ninguém precisa das origens dos personagens para entender o que está acontecendo. Tudo o que é importante está nos diálogos e que cada leitor preencha as lacunas como bem quiser.

    A edição possui 130 páginas, formato 21 cm x 31 cm (maior que um Asterix) e capa dura. Teve uma campanha do tipo flex na plataforma de financiamento coletivo Catarse; ou seja, ela seria publicada de qualquer jeito, mas o realizador quis ver se os fãs do escritor e de cada um desses artistas gráficos (desenhistas, arte-finalistas e coloristas) apoiariam a iniciativa, e os fãs apoiaram.

    Entre os extras estão fotos com as fichas dos artistas com o que eles fizeram em 2017. Também é um bom ponto de partida caso algum leitor se interesse por outros trabalhos de alguns deles. Concluindo, Dias de Horror tem uma forte inspiração em Astro City. Histórias como essa deixam três coisas muito claras: a primeira é que os criativos são SEMPRE mais importantes que os personagens! A segunda é que autores só possuem liberdade real com seus próprios personagens. Cronologia, cânone e perpetuação indefinida de marcas só atrapalham na hora de contar boas e novas histórias. A terceira é que só temos a possibilidade de uma boa história quando os personagens não são tratados como vacas sagradas, podendo, inclusive, morrer e/ou passar seus mantos ou funções a sucessores.

    Se você já tem bagagem NA LEITURA de super-heróis, há uma resenha da época em que esse livro saiu no Literakaos com mais detalhes. Esta é uma resenha compacta para não iniciados. Deixe seus comentários com carinho e educação, pois eles serão lidos com carinho e educação.

A propósito, ainda é possivel ler o pdf desta edição gratuitamente no site da Chiaroscuro Studios.

    Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “Garimpando em Gibiterias” e clique no botão “Pesquisar”. Ou digite apenas “garimpando” e encontrará títulos a mais em garimpos de eventos. Faça a mesma coisa no site Literakaos.

    Boas Leituras e até breve!

    Rodrigo Rosas Campos

2 comentários:

  1. A capa está bonita. Me lembra aventuras que li de X-x-men na década de 2000. Como me arrependo de não ter mantido aqueles quadrinhos ...

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    1. Baixe o PDF grátis dessa história. Quanto aos X-Men, já vi alguns exemplares da Salvat que republicou os melhores de Claremont e Byrne em sebos. Vale garimpar. A Panine também republica muita coisa boa. Só não vale pagar caro por revista velha, eu acho. Abraço!

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