Mais uma edição de Alan Moore no Brasil que mostra o início brilhante de uma carreira brilhante. É isso que o leitor verá no encadernado Maxwell, o Gato Mágico da Pipoca e Nanquim, finalmente em capa cartão e preço mais acessível. Nessas tiras de jornais de início de carreira, Moore escreve e também desenha. O quê? Essa informação não é suficiente para você ir correndo comprar e ler? Tudo bem, falarei um pouco mais.
Em Maxwell, o Gato Mágico, Alan Moore usou um pseudônimo, Jill de Ray. Fazendo tanto textos como desenhos, Moore testou todos os limites dos quadrinhos abusando de metalinguagem e explorando todas as possibilidades dos quadros e dos requadros em tiras de cinco quadros cada. Certo, a tira inaugural teve 10 quadros, 5 em cima e 5 em baixo.
Maxwell é um gato que veio do espaço, é mágico e fala. Logo que chega a Terra, é encontrado e adotado por Norman, mas os adultos ao redor dele não acreditam nas capacidades do gato, achando que o garoto está, na melhor das hipóteses, imaginando coisas.
Através das tiras de Maxwell, Alan Moore satirizou a tudo e a todos de forma mordaz e sarcástica. A política da época, 1979 a 1986, fanatismo religioso, séries de TV, quadrinhos, cinema, costumes, nada escapou aos comentários mordazes e a língua felina e ferina de Maxwell e de seus outros coadjuvantes, os mais estranhos animais que já povoaram uma tira de quadrinhos.
Bem verdade, que muito deste material está datado, mas pasmem, foi feito para ser datado! Foi feito para falar do presente da Inglaterra e do mundo na época. Esse tipo de coisa faz muita falta hoje em dia, o poder e as instituições precisam ser questionados sempre e nenhum(a) líder deve ser mitificado. Tiras assim são úteis para despertar nosso senso crítico sobre tudo, principalmente, sobre política.
Entretanto, como todo bom artista, Moore produz muitas tiras que continuam desconcertantemente atuais, principalmente quando brinca com a linguagem dos quadrinhos através da metalinguagem, ou quando trata de fanatismo religioso e de líderes religiosos picaretas que só querem o dinheiro dos fiéis ou poder político através da religião.
Os extras do Pipoca e Nanquim são incríveis e realmente relevantes! Destaques para uma tira perdida, a tira em homenagem ao último número do jornal, o Northants Post, onde a tira saiu de 1979 a 1986, depoimentos de Alan Moore e de outros artistas, de editores, releituras e homenagens de outros artistas para o Maxwell etc.
Maxwell, o Gato Mágico é a primeira republicação da Pipoca e Nanquim, agora em capa cartão. Finalmente a editora começou a linha tão prometida para leitores de verdade e não para colecionadores de lombada vaidosos enfeitadores de estante. Só espero agora que venham outros títulos da editora nesse mesmo formato.
E se a arte da capa de Raphael Salimena feita para a edição brasileira em capa cartão não convenceu Alan Moore que Maxwell, o Gato Mágico é uma verdadeira obra-prima dos quadrinhos, nada mais o convencerá.
Não posso deixar de concluir essa resenha sem lembrar que Moore se aposentou não tão recentemente assim. Por um lado, é uma pena; por outro, quem pode julgar alguém que quer parar no auge? Entretanto, aficionado por videogames que sou, não posso deixar de notar que em sua série de tiras de Maxwell, Moore faz uma paródia do jogo Space Invaders em apenas 5 quadros. Na revista 2000AD, ele fez uma adaptação completa desse mesmo jogo em 2 páginas na série de Tharg com o título Escaramuça, publicada no Brasil. Escaramuça é a melhor adaptação de videogame para os quadrinhos de todos os tempos, é genial, só tem duas páginas.
Também em Maxwell, ele ainda faz uma paródia do Pac-Man em 5 quadros. Por que não entregam a Alam Moore o reboot do Esquadrão A.T.A.R.I. e todas as adaptações de roteiros de games oficiais para o cinema e os quadrinhos? Será que rola um financiamento coletivo para tirá-lo da aposentadoria? Vale a pena ficar na esperança? Eu sonho com coisas que queria que ele tivesse escrito e que não escreveu. Por quê? Se Maxwell for o seu primeiro Alan Moore e você quiser mais depois, saberá o porquê.
Sem mais delongas, boas leituras!
Rodrigo Rosas Campos
Preço acessível é um incentivo para se ler mais quadrinhos. Principalmente quando o quadrinho é bom. :)
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