Rodrigo
Rosas Campos
Introdução
Mulheres
Perigosas é um livro de contos de vários autores, organizado e
editado por George R. R. Martin e Gardner Dozois, com um conto de
Martin inclusive. E sim, o conto de Martin se passa no mundo das
Crônicas de Gelo e Fogo, Westeros.
O
Livro é editado no Brasil pela Leya/Omelete, 736 páginas, 21
histórias, 21 autores, R$ 71,90. Caro, eu sei, mas são 736 páginas,
muitas heroínas e 21 universos.
Cada
conto é uma história diferente. Esqueça as donzelas em perigo,
todos trazem mulheres como protagonistas fortes e ativas. Então, em
vez de fazer uma resenha do livro como um todo, resolvi escrever
sobre cada conto, um a um. E não vou escrever na ordem em que os
contos aparecem, vou começar pelo conto que se passa num dos meus
universos favoritos de super-heróis, o mundo distópico de Cartas
Selvagens (Wild Cards).
Até
porque todas as sinopses e resenhas na rede privilegiam o conto
ambientado no universo da série de TV modinha do momento. Se o
projeto de TV de Wild Cards sair do papel, vou esculachar os cretinos
que disserem que são fãs de Cartas Selvagens, mas que nunca leram
um livro ou gibi da série na vida antes. Afinal, hoje, todos amam
Deadpool, principalmente os que nunca ouviram falar dele ou leram
quadrinhos da Marvel antes e até mesmo depois do filme. Sim, espectadores de cinema e TV, vocês não são fãs de verdade, fãs
de verdade são LEITORES de verdade. Desabafo feito, vamos a resenha
do primeiro conto deste projeto. E tenho certeza que, se você está
no blog do Juvenal ou no Literakaos, você é um leitor de verdade!
A
propósito, cada conto será uma parte do projeto de leitura de
Mulheres Perigosas. Em caso de contos curtos, haverá duas (ou mais)
partes num texto só, como é o caso deste post, que traz a
introdução ao projeto e a parte 1.
O
livro conta com uma introdução geral e cada conto é antecedido por
uma pequena biografia do(a) autor(a). Todos os contos foram
publicados originalmente em 2013. Lembrando: os contos não serão
lidos na ordem em que aparecem, mas na ordem que eu for lendo.
Deixarei o conto de Martin para o final.
Parte
1 – Um Conto de Cartas Selvagens por Caroline Spector
Mentiras
que Minha Mãe Contou foi escrito por Caroline Spector, se passa no
universo de Cartas Selvagens e é o vigésimo conto do livro.
A
primeira pergunta que vem a mente quando falamos de universos de
super-heróis é: quem nunca leu nada da série Cartas Selvagens/Wild
Cards vai entender o texto? Nesse caso sim.
Caroline
Spector usa cenários e diálogos de forma bem natural como elementos
de contextualização. Assim, uma reportagem na TV assistida por
Adesina fala do primeiro surto do vírus carta selvagem na Terra, dos
heróis do passado etc. O conto se passa no ano em que foi publicado,
2013.
O
leitor que não estiver habituado ao universo dos livros terá a
mesma sensação de ver o filme Os Incríveis, onde a história é
tão bem apresentada que não há tempo para perguntas como: “de
onde vieram os poderes deles?”, “mas se o pai é forte e a mãe é
elástica, por que as crianças têm poderes diferentes?” etc.
Resumindo, tudo o que é importante para entender essa história está
no seu próprio texto. É uma boa primeira leitura para Cartas
Selvagens.
Fora
que a prosa ainda oferece o recurso da introspecção psicológica, o
leitor tem acesso aos pensamentos e memórias de cada personagem. No
cinema ou no teatro, a voz em off torna esse recurso bem brega, mas
em prosa funciona, pois é um recurso criado na e para a escrita.
Já
falei, ou melhor, escrevi, muito sobre Cartas Selvagens, mas vamos
para mais um resumo: Cartas Selvagens (ou Wild Cards) é um universo
de super-heróis atípico e distópico. Mesmo os heróis imortais
podem ser mortos, a morte não é reversível e você tem reais
motivos para torcer para seu personagem preferido sobreviver; se
ele(a) morrer, não voltará. Logo o tempo passa e novos personagens
substituem os mais antigos. Os personagens de fato evoluem até
morrerem, seja em ação, seja de velhice. É uma série
contemporânea a Watchmen, começou a ser publicada na segunda metade
da década de 1980, como livros em prosa, romance mosaico: cada
capítulo é escrito por um autor(a), funciona como um conto fechado,
mas forma uma história maior dentro de cada livro. Também faz parte
do movimento de desconstrucionismo dos super-heróis, sendo uma série
para adultos.
Na
década de 1990, veio ao Brasil a primeira adaptação em minissérie
em quadrinhos e a adaptação oficial para o sistema de RPG GURPS. Só
nesta década (este post foi escrito em 2017), a Leya começou a
lançar os primeiros livros no Brasil. Atualmente a editora está no
sétimo volume (ainda ambientado na década de 1980), mas agora em
parceria com o site de entretenimento Omelete.
Bubbles
é uma heroína famosa, uma Ás. Seu poder é acumular energia
cinética em forma de gordura e liberar essa energia em foma de
bolhas de energia enquanto emagrece no processo. Em sua estada na
África, ela adotou uma criança vítima de experimentos com o vírus
carta selvagem. Adesina tornou-se uma coringa telepata com asas e
corpo insetóide, também possui o poder de voar em curtas distâncias
e velocidade acima da possibilidade humana comum.
Aqui
vale ressaltar outra diferença de Cartas Selvagens em relação aos
demais universos de super-heróis: o público não é burro. Chapéu
é um par de óculos não enganam ninguém, todos os que manifestam
poderes acabam tendo apelidos, não identidades secretas. Mesmo
fantasias colantes e máscaras não funcionam, afinal, um colante
marca uma silhueta, um tipo físico e uma altura. Não há máscara
capaz de esconder a cor dos olhos e manter a visão perfeita do
sujeito que a veste ao mesmo tempo; roupas podem rasgar no meio de
uma luta, mostrando a cor da pele. Neste mundo até existiram
fantasiados, mas foram considerados bobos ou tiveram sérios
problemas psiquiátricos. Os ases na manga que conseguiram esconder
seus poderes de carta selvagem por mais tempo foram, justamente,
pessoas que os usavam de forma discreta, sem fantasias, muitas vezes
como ferramentas de trabalho. E isso valeu tanto para os Ases quanto
para os coringas com poderes, coringas/ases, uma vez que o poder nem
sempre tem uma identificação com a eventual deformidade.
Voltando
ao conto em questão: Bubbles é o apelido de Michelle Pond, ela é
famosa e está passando por uma campanha de difamação. Ao
investigar o ataque zumbi no desfile de carnaval, ataque direcionado
a ela, ela descobre que há um novo Às no pedaço, cujo poder é
roubar poderes. Inicialmente, ela acredita que o ataque foi
perpetrado pela Às, Hoodoo Mama, cujo poder é animar cadáveres. Ao
questioná-la, descobre sobre o ladrão de poderes e sobre sua
limitação, o poder roubado só pode ser usado uma vez e depois
volta para o(a) dono(a).
Boobles,
Adesina e Hoodoo Mama começam a investigar, são auxiliadas por
Juliette, via telefone celular e e-mail, que lista os grupos
interessados em controlar ou destruir Áses e coringas poderosos.
A
cada resposta encontrada, novas perguntas surgem e ir além daqui é
dar spoilers.
Caroline
Spector tem a habilidade de criar e escrever uma história realmente
autocontida dentro de um universo maior. Os leitores terão a opção
de buscar mais ou não, mas não há necessidade alguma de leituras
anteriores para entender Mentiras que Minha Mãe Contou. Ela não é
a única autora da série Wild Cards no livro Mulheres Perigosas, mas
sua história é a única do livro ambientada naquele universo.
Lembrando que Martin era o mestre de RPG do grupo, que resolveu
romancear a campanha de super-heróis que jogava gerando a série de
livros.
Até
o momento, os únicos contos de Mulheres Perigosas que se passam em
universos estabelecidos são este, Mentiras que Minha Mãe Contou,
e A Princesa e A Rainha ou os “Negros” e os “Verdes”,
um
de Cartas Selvagens, outro de
Crônicas de Gelo e Fogo respectivamente.
Próximo
conto desse projeto: As Mãos Que Não Estão Lá
Boas
leituras e até breve!
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