domingo, 18 de junho de 2017

Projeto Mulheres Perigosas Conto a Conto: Parte 12 – Eu Sei Escolhê-las de Lawrence Block, Parte 13 – A Garota no Espelho (ou a versão da Murta que Geme) de Lev Grossman & Parte 14 - Segundo Arabesque, Muito Lentamente de Nancy Krees

Rodrigo Rosas Campos

    Pois é, demorou um pouco, mas resolvi postar três partes (contos) do projeto Mulheres Perigosas de uma vez. O primeiro conto abordado hoje segue a melhor, ou pior, tradição de crimes de mundo cão, ou, em termos mais familiares a nós, brasileiros, a vida como ela é… Ele me obriga MESMO a deixar este aviso: desaconselhável para menores de 18 anos.

    O segundo é de um autor que usa descaradamente o universo de Harry Potter nos EUA.

    O terceiro se passa num futuro terrível de nosso planeta.



Sempre Lembrando

    Há uma versão digital de Mulheres Perigosas, a menos que você queira muito o físico por este ou aquele conto, ou que você seja um colecionador de tudo o que se refere a Crônicas de Gelo e Fogo, vale mais a pena comprar o e-pub.

    Mulheres Perigosas é um livro de contos de vários autores, organizado e editado por George R. R. Martin e Gardner Dozois. Foi publicado no Brasil pela Leya/Omelete, em 2017 com 736 páginas, 21 histórias, 21 autores. Cada conto é uma história diferente. Esqueça as donzelas em perigo, todos trazem mulheres como protagonistas fortes e ativas. Os contos não são resenhados na ordem em que aparecem, mas na ordem que eu for lendo; o livro tem uma introdução geral e uma pequena biografia por autor antes dos respectivos contos. Todos os textos foram publicados originalmente nos EUA em 2013.

    Então vamos aos contos de hoje:

O Primeiro Conto de Hoje: Eu Sei Escolhê-las

    Eu Sei Escolhê-las, escrito por Lawrence Block, é o nono conto do livro.

    Muito bom, mas muito curto. Um homem é escolhido por uma mulher num bar de beira de estrada. O que se desenrola é uma história digna de Nélson Rodrigues em A Vida Como Ela É… Falar mais, porém seria estragar a avalanche de surpresas.

    Este conto levou a classificação etária do livro para 18 anos, com certeza. É pesado. Pessoas sensíveis de qualquer idade, estão avisadas.

O Segundo Conto de Hoje: A Garota no Espelho

    A Garota no Espelho, de Lev Grossman, é o décimo segundo conto do livro e é um plágio descarado, idêntico de Harry Potter. É tão igual, que cheguei a procurar, na Internet,  uma autorização formal e oficial da J. K. Rowling para que ele usasse o mesmo universo. Não encontrei. Achei muita coisa, menos que ela o autorizou.

    Muito provavelmente, ele tem essa autorização: usa, menciona, nomes de personagens da série original, inclusive. Fica bem claro que é o mesmo universo de Harry Potter, só que em Nova York, EUA. Ele deve ter inclusive o aval da família do Tolkien para usar os hobbits, pois usa a palavra “hobbit” para se referir a um tipo de personagem, e não o termo genérico Halfling (para quem não sabe, a obra de Tolkien não caiu em domínio público e hobbit é um neologismo e um tipo de ser criado pelo Tolkien). Se um de vocês souberem aonde estão essas autorizações de uso, deixem o link nos comentários. Acho que, depois disso, muitos fãs irão querer oficializar suas respectivas escolas de magia também, não é o meu caso, mas não custa ajudar os amiguinhos.

    Segundo a Wikipédia, sob a alegação de que escreveu “um Harry Potter para adultos”, ele copiou descaradamente TUDO. Sem alterar nada. Verdade, criou os próprios personagens nos EUA do universo de Harry Potter, mas esses “novos” personagens são bem equivalentes, mais genéricos que equivalentes. De cara, o nome do conto é para falar da versão dele para a Murta Que Geme.

    Tudo tão igual que nem mesmo o título de “engenheiro de obras prontas” este escritor merece: um plágio, ainda que autorizado, não deixa de ser um plágio. Não dá nem para considerar como uma nova interpretação, é tudo cópia mesmo. Também não é um fã fic, pois ele não poderia lucrar com uma simples fã fic. Ele deve ter as autorizações da J.K. e da família do Tolkien.

    Seus defensores dirão: “Ele estava deprimido quando fez a versão dele”, pois ele que faça versão depressiva de algo que eu não goste! Pronto, falei! Enfim, resumindo, a história da Garota do Espelho é a história da versão dele para a Murta Que Geme. Falar mais que isso é entregar o modo como a menina morreu.

    Ao contrário de Explosivas, que apresenta uma nova nuance de fato, e é melhor que a versão oficial, A Garota do Espelho e seu autor nem são dignos de reais notas, mas estão no livro e eu me comprometi a comentar conto a conto.

O Terceiro Conto de Hoje: Segundo Arabesque, Muito Lentamente

    Segundo Arabesque, Muito Lentamente de Nancy Krees é o décimo terceiro conto do livro. Ler a introdução que fala sobre a autora é fundamental para esse conto.

    Estamos num futuro distópico da Terra. Um vírus esterilizou boa parte da população mundial e a humanidade só não regrediu a idade da pedra por ter mantido a escrita, a história e as ciências em geral, embora tenha havido uma regressão tecnológica severa. A falta de pessoas para repor a mão de obra levou todos os setores econômicos de todo o mundo a um colapso. A trama é contada por uma enfermeira de 64 anos, estéril de uma tribo nômade de caçadores e coletores.

    Esta senhora preserva a memória do passado através das lembranças e relatos de sua avó, que viveu na geração que presenciou o colapso e do fato dela ser uma das poucas pessoas da nova Terra a saber ler. Como não há como saber quais homens são férteis, as poucas mulheres férteis são obrigadas a copular com todos os homens da tribo. Para as inférteis, sobram os postos de enfermeiras, caçadoras, coletoras, guerreiras ou escravas sexuais, e esta última opção só quando o grupo tolera uma mulher estéril só para o sexo; é um mundo de poucas opções. O grupo está prestes a fazer um ritual de iniciação de uma jovem fértil nas ruínas de um teatro em Nova York.

    O cenário e as perspectivas são desoladores. A arte foi considerada uma subversão, por não ter utilidade no curto prazo, uma futilidade mesmo. Entretanto, quatro jovens do grupo descobrem, nas ruínas desse teatro, livros e outros resquícios da prática do balé clássico e decidem praticar mesmo que morram por isso.

    A enfermeira que narra a história se vê em uma posição delicada, pois tem que proteger esses jovens do líder do bando ao mesmo tempo em que percebe que o líder do outro bando esconde intenções sinistras por trás de uma aparente cordialidade. Todavia, este outro líder não desdenha da escrita e parece ser culturalmente superior.

    Esse texto é um exemplo de como escrever bem. A história é na primeira pessoa da perspectiva da enfermeira, Susan. Não há desperdício de palavras, todas as informações se encaixam e fazem sentido, enfim, este vale, sozinho, o preço salgado do livro inteiro. Além de usar um mundo destruído e desolado como pano de fundo para discutir o papel da mulher na sociedade, sendo feminista, mas não panfletário. E antes que algum desatento (ou desatenta) diga que esse é um cenário machista, volte ao início dessa resenha específica e veja que este conto foi escrito por uma mulher, que quis, justamente, discutir, em forma de ficção, o papel da mulher na sociedade.

    Também é uma excelente ambientação para uma aventura ou campanha de RPG.

Este Projeto Terá Uma Pausa

    Nem sei se vocês, leitores, repararão a pausa, mas decidi parar de postar enquanto não acabar o livro. Por que? Simples, tentar resenhar um a um na medida em que leio e postar está sendo contraproducente. Está me deixando lento. Além do mais, como acontece em antologias de autores diferentes, os estilos são muito diversificados, há contos de 20 páginas que possuem muitos acontecimentos e outros de 40 que poderiam ser resumidos num parágrafo, por exemplo. Há histórias brilhantes, mas que se o comentário for longo demais, se entrega a surpresa e o final, e há textos longos e chatos. Enfim, o próximo post do projeto só irá ao ar quando todas as resenhas já tiverem sido feitas. Fica o aviso.

    Eu vou continuar a leitura, fazer minhas anotações, planejar os posts, digitar os posts e, quando tudo estiver pronto, revisar e postar. Como aconteceu com este e outros posts do projeto, os contos menores darão posts com mais de um, os maiores, se houver necessidade, um post exclusivo e o vigésimo primeiro conto, o do Martin, sairá sozinho junto com as considerações finais acerca do livro como um todo.

    Já adianto que de tudo o que li, já gostei de 11 entre 21 histórias, ou seja, para mim, o livro valeu. Fora que ia comprar a versão física pelo conto de Cartas Selvagens de qualquer jeito. Aconselho a todos que quiserem o livro, comprem a versão eletrônica primeiro.

    Boas leituras e até a volta!

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