O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Por esse motivo, os eventos de quadrinhos no Brasil, por menores que sejam, precisam ser estimulados e divulgados. São momentos em que leitores e criadores de quadrinhos (escritores e desenhistas) podem interagir sem intermediários. A série “Garimpando No Evento...” fala de quadrinhos que foram comprados diretamente com os criativos nos eventos. Uma vez me perguntaram como ficar sabendo desses eventos, simples: acompanhem e sigam seus autores e suas editoras preferidos nas redes sociais.
Mas este foi um evento gratuito de RPG que também teve quadrinhos, e garimpei RPGs por lá. A pedra garimpada de hoje é o Almanaque Sistema 234 de Leandro Lisboa da editora Bravura Jogos e foi garimpada no evento 9º Encontro Iniciativa RPG, evento que ocorreu de graça no Clube Municipal da Tijuca, Rio de Janeiro, e este sistema de RPG de hoje saiu ao preço de R$30,00 no evento.
O sistema 2/3/4 é genérico, de licença aberta e possui uma versão gratuita que foi distribuída num panfleto. Mas vamos falar aqui do Almanaque Sistema 234. Além de trazer o sistema básico, o livrinho traz 6 tipos de cenário, uma tabela de criação de masmorras aleatórias e uma aventura pronta com seus NPCs e exemplos de personagens jogáveis prontos. Cada um dos 6 tipos de cenários é uma forma de interpretar as regras básicas e genéricas do sistema de acordo com o contexto e o tema da aventura ou campanha.
Os tipos de cenário que já estão no livro são: fantasia medieval; ficção científica; cyberpunk; investigação paranormal; pós-apocalipse; e tempos modernos (nosso tempo). Fora os outros tipos que o próprio grupo poderá criar depois que dominar as mecânicas básicas do sistema. Mas comecemos pelo básico, fantasia medieval. Há um capítulo especial dedicado a Magia e Benção, que detalha quais classes precisam de atributos mentais para o uso da conjuração, a inteligência, por assim dizer, e quais usam os atributos sociais, o carisma, por assim dizer.
Vamos preencher as primeiras fichas, e não é que os Dungeoneers voltaram para exemplificar esse sistema também! Desta vez trouxeram até uma meia elfa barda consigo. De onde será que ela veio? Bom, depois a gente vê isso lendo (ou relendo) o quadrinho. O sistema tem o nome de 2/3/4 porque a criação de todos os personagens se inicia com o nome e o conceito deles e a atribuição dos valores 2, 3 e 4 pontos em mental, social e físico.
Brock é um guerreiro humano, coloco 3 pontos em mental, 2 em social e 4 em físico. Depois estabeleço 3 coisas que ele é capaz de fazer bem, uma para cada atributo, mental, social e físico. Ao lado de mental 3, anoto estratégia; ao lado de social 2, anoto liderança e ao lado de físico 4, anoto lutar. Brock não é nem conjurador e nem clérigo, logo seus pontos de poder são zero (0). Seus pontos de vida são 14, pontos de físico somados com 10. Sua proteção vem de sua couraça de aço leve, anotada no campo “Equipamentos e anotações”, que é 2. Também em “equipamentos e anotações”, coloco sua alabarda de dano 3.
Aqui há uma observação importante, somente personagens com algum tipo de poder sobre humano (sobrenatural) terão o campo pontos de poder preenchidos. Agora vamos para a ficha do Melkir, ele é um mago humano. Consultando o capítulo “Magia e Benção”, vejo que os magos retiram seus poderes de atributos mentais. Distribuo, na ficha, 4 em mental, 3 em social e 2 em físico. Nas coisas que ele sabe fazer, coloco lançar feitiços em mental; diplomacia em social e luta com cajado em físico, porque todo mundo sabe que o cajado de um mago também funciona como uma arma mundana numa emergência ou oportunidade.
Seus pontos de vida são 10+físico, logo Melkir tem 12 pontos de vida. Os pontos de poder de um conjurador são 5x o atributo que é a fonte de seu poder, no caso de magos, mental, 5x4=20, Melkir tem 20 pontos de poder. Magos precisam de uma escola de magia, em “Equipamentos e Anotações”, escrevo “elementalismo”; coloco em baixo “cajado - med (2 de dano); “med” é de arma média. Vejam como ficaram as fichas do Melkir e do Brock preenchidas a partir dos panfletos gratuitos do sistema.
Relembrando, como podemos ver nas fichas de Brock e Melkir, só conjuradores e clérigos tem pontos de poder. Os pontos de proteção são dados pelas armaduras que os aventureiros tenham. Pontos de vida são 10+Físico. Já os pontos de poder podem ser mental x10, para magos, bruxas, bardos entre outros que precisam de algum aperfeiçoamento e estudo para uso dos poderes (o Melkir e a Breen estão aqui); e social x10 para clérigos, avatares, feiticeiros, os que usam a magia ou como bençãos divinas (a irmã Lyria está aqui) ou como parte de seus carismas pessoais.
Para os demais Dungeoneers, é claro que eu criaria a minha própria versão da ficha para facilitar a digitação (ou a anotação a lápis caso eu não tenha xerox em branco). A irmã Lyria é uma clériga que usa bençãos, logo, ela precisa de investimento nos atributos sociais, coloco 4 em social, 3 em mental e 2 em físico. Nas coisas que ela pode fazer, anoto bençãos de cura em social, luta com adaga longa em físico e medicina em mental, afinal, se tudo estiver tranquilo, não vale a pena gastar bençãos com ferimentos mundanos.
Ficha do Almanaque Sistema 2/3/4
Nome: Lyria, irmã
Conceito: clériga humana.
Mental: 3 – medicina.
Social: 4 – bençãos de cura.
Físico: 2 – luta com adaga longa.
Pontos de Poder: 20
Proteção: 1
Pontos de Vida: 12
Equipamentos e anotações:
Adaga longa ritualística (1 de dano).
Escudo pequeno.
Domínio divino: cura, justiça e revelação.
Kaycee é uma ladina humana, não é muito diferente de construir do que um(a) guerreiro(a), o que muda são os detalhes.
Ficha do Almanaque Sistema 2/3/4
Nome: Kaycee
Conceito: ladina humana.
Mental: 3 – perceber armadilhas.
Social: 2 – lábia.
Físico: 4 – furtividade.
Pontos de Poder: 0
Proteção: 0
Pontos de Vida: 14
Equipamentos e anotações:
Equipamentos de arrombamento e escalada.
Duas adagas (1 de dano cada), podem ser arremessadas ou usadas em combate corpo a corpo.
Fiquei em dúvida se nossa barda meio elfa teria seus poderes derivados de mental (inteligência) ou social (carisma), mas como ela precisa estudar música para lançar magias, interpretei os poderes de bardos como mentais. Como os bardos usam predominantemente magias de ilusão, coloquei a escola de magia ilusionismo. A ficha de Breen ficou como mostrada a seguir:
Ficha do Almanaque Sistema 2/3/4
Nome: Breen
Conceito: meia elfa barda.
Mental: 4 – tocar alaúde.
Social: 3 – diplomacia.
Físico: 2 – lutar.
Pontos de Poder: 20
Proteção: 0
Pontos de Vida: 12
Equipamentos e anotações:
Alaúde.
Escola de magia: ilusionismo.
Note que, no sistema 2/3/4, a raça do personagem é parte do conceito, o que define o que o personagem fará são os outros detalhes a serem preenchidos na ficha. Está cansado de fantasia medieval? Quer uma aventura de espionagem no nosso próprio mundo, então criei uma ficha para você ser um(a) espião(espiã).
Não quer ser espião(espiã) no mundo atual, bom, já falei dos tipos de cenário que o Almanaque Sistema 234 traz e, com a regra de ouro, você pode criar seu próprio cenário com qualquer outra temática, o sistema de jogo (conjunto de regras mecânicas) é genérico e de licença aberta. Concluindo, prestigiem os pequenos eventos de quadrinhos, RPGs etc. nas suas respectivas cidades. Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa deste blog, digite “garimpando” e clique no botão “pesquisar”. Assim, você verá tanto os outros garimpos de eventos como o “Garimpando em Gibiterias” ou o “Garimpando em Bibliotecas”.
Boas leituras e bons jogos!
Rodrigo Rosas Campos
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