sexta-feira, 23 de abril de 2021

[Resenha] Fronteiras do Além de Jayme Cortez


É terror na veia, desaconselhável para menores de 18 anos.


    Jayme Cortez foi um artista português que morou e produziu boa parte de sua diversificada obra no Brasil. Possui uma vasta obra de terror e horror com histórias em quadrinhos, cartazes de filmes (traduzidos e nacionais) e capas de livros e quadrinhos. Claro que ele fez muito mais coisas, mas foi o seu trabalho em revistas como O Terror Negro, Crás!, Calafrio entre outras que o consagrou como um dos mestres do terror nos quadrinhos do Brasil. Todo esse material específico de terror foi resgatado pela editora Pipoca e Nanquim numa edição de luxo.


    Fronteiras do Além tem capa dura, preço de R$69,90 mais o eventual frete. É caro? É, eu sei e o Brasil está sempre em crise. Vale cada centavo? Vale muito! Procure promoções e preços mais em conta. Agora vamos a algumas das histórias do livro:


    As três adaptações de música para os quadrinhos são destaques famosos da edição. Sim, adaptações de letras de música para os quadrinhos, são elas: Asa Branca; Latir para a Lua; e Magoou-se, Pobre Filho Meu?.


    A clássica história O Retrato do Mal em suas duas versões e, a meu ver, as diferenças vão além do número de páginas, a original com 3 e a segunda com 8. A primeira versão parece um horror mais lovecraftiano, o mal é uma criatura sinistra que não é mostrada de todo e possui tentáculos. A segunda versão segue um mal encarnado na figura de um demônio mais da visão cristã. Acredite, só isso faz diferença. Diferença essa salientada tanto pelas diferenças dos textos, quanto pelos desenhos nas duas narrativas gráficas bem distintas sobre a mesma ideia: um pintor enlouquecido dedica toda sua vida a retratar o Mal, ele mesmo, corporificado.


    Falando em narrativa gráfica, o livro é uma aula de narrativa gráfica. O modo como os quadros estão organizados (a grade) nas páginas é primoroso. Suas histórias mais longas, além do terror e do horror, estão recheadas de paixão e sensualidade. É impossível comentar história por história, uma vez que são realmente muito curtas. Inclusive, o ponto alto do livro, as melhores histórias, são justamente aquelas feitas em apenas uma página.


    Você não leu errado, Jayme Cortez escrevia e desenhava histórias de terror e horror completas em UMA ÚNICA página. São várias histórias assim, algumas delas são causos enviados pelos leitores das revistas por onde o artista passou. Destaque para O Sétimo Filho Homem; O Tesouro Maldito; e Os Mortos Precisam de Paz.


    O livro traz os extras de praxe, mas há muito mais: ilustrações usadas em anúncios, esboços de uma história inacabada, ilustrações soltas, uma matéria destrinchando a narrativa da segunda versão de O Retrato do Mal, depoimentos, muitos depoimentos de amigos e colegas, prefácio de Mauricio de Sousa (sim, ele mesmo) com uma história incrível, um poema e uma ilustração até então inéditos e muito, muito material de bastidores sobre a vida e a obra de Cortez. Mais do que um livro de quadrinhos de horror, é um livro de referência sobre os quadrinhos de terror no Brasil.


    Jayme Cortez morreu em 1987. Como, já dito, sua obra não limitou-se ao terror/horror em quadrinhos e, mesmo dentro dos quadrinhos, passou por vários gêneros. Resta esperar para que venham outras republicações de trabalhos de Jayme Cortez e de outros autores e desenhistas que tornaram as noites brasileiras mais macabras..., digo, mais emocionantes entre os anos de 1960 e 1980. Hahahahaha!


    Boas leituras e bons sonhos, se puder! Hahahahaha!


    Rodrigo Rosas Campos

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