Sem spoilers!
Não se preocupem: a resenha será da série inteira, mas não terá spoilers! Se vocês quiserem uma resenha com spoilers, deixem nos comentários. Não estou brincando, afinal, essa série é dos anos 1990 - 2000! Também sei que essa edição definitiva de Holy Avenger não é nova, mas está em catálogo e não pode ser considerada um garimpo de gibi por conta disso. Como não li a série na época de seu lançamento original, vou me limitar a falar da presente edição. Normalmente, não coloco sinopses oficiais em minhas resenhas, mas tendo em vista o que vou falar da história, procurei uma sinopse oficial do primeiro volume no site da editora. Estou falando da história como um todo, todo cuidado é pouco. Assim, quem não quiser continuar depois da sinopse oficial fique à vontade:
“Lisandra. Criada por animais em uma ilha selvagem, esta jovem vivia feliz em seu mundo puro. Até que os sonhos vieram. Sonhos sobre o Paladino, um herói com o poder do Panteão. Sobre como ele havia sido derrotado por forças malignas. E sobre como Lisandra poderia ressuscitá-lo se encontrasse suas gemas divinas — os vinte Rubis da Virtude. Para ajudar Lisandra surgem Sandro, filho do maior ladrão do Reinado, Niele, a bela e maluca arquimaga élfica, e Tork, o troglodita anão. Este é o começo de Holy Avenger, uma saga épica de fantasia que ultrapassou 800 páginas. Com roteiro de Marcelo Cassaro (Turma da Mônica Jovem) e arte de Erica Awano (World of Warcraft), é um dos maiores quadrinhos brasileiros de todos os tempos. E agora está de volta, em edição definitiva.”
Quer continuar? Vamos lá!
O quadrinho/mangá brasileiro Holy Avenger foi escrito por Marcelo Cassaro e desenhado por Erica Awano com personagens criados por Marcelo Cassaro, Erica Awano, Rogerio Saladino e J. M. Trevisan. E antes do mimimi dos puristas, esta publicação é considerada mangá até no Japão, podem pesquisar. Foi inclusive finalista do International Manga Award no Japão.
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Além de ser o mangá brasileiro de maior sucesso no mundo, foi o segundo quadrinho nacional com maior número de vendas na época de seu lançamento original, entre 1999 e 2003; foi mensal com 40 edições; só perdia para a imbatível Mônica (e sua turma) e chegou a ter especiais e algumas republicações antes desta edição definitiva (das 40 edições originais) pela Jambô.
Se você estiver mal de grana, vale a pena garimpar as edições antigas usando o site Guia dos Quadrinhos como referência. Só não vale pagar mais caro por revista/edição antiga. Se for para pagar caro, economize e compre a edição nova. Cuidado com os picaretas que vendem “raridades”. Bem que a Jambô poderia ajudar fazendo reedições mais econômicas, mas vamos em frente.
A história é ambientada no mundo medieval fictício e fantástico de Arton, sim, é o mundo de Tormenta, um mundo de fantasia europeia padrão de espada e magia com elementos de mangá e muita brasilidade no tempero. Muita brasilidade mesmo, com direito a um elfo-do-mar falando gírias de surfista carioca e o temperamento fogoso de Niele entre outros destaques tipicamente brasileiros.
E por falar na Niele, ela é o assunto mais polêmico de Holy Avenger hoje em dia. Ela fazia sucesso com suas poucas “roupas”, na verdade, tiras de couro que cobriam o mínimo, e isso não era problema nem problematizado. Com efeito, nos anos 1980 e 1990, mulheres de todas as idades exibiam biquínis minúsculos nas praias e piscinas do país e isso era normal. Normal mesmo. Mas porque estou dizendo isso? Para que não venha nenhum chato de mimimi dizendo que comprou a história para o(a) filho(a) e viu uma elfa seminua andando pela revista. Nos anos 1980 e 1990 todos os brasileiros e brasileiras de todas as idades levavam isso de boa. Com efeito, Holy Avenger formou leitores tanto para os quadrinhos nacionais quanto para os mangás. Formou leitores, pais e mães (ou responsáveis) compravam para seus filhos e filhas sem o menor constrangimento.
Hoje, Niele é o maior obstáculo para a história virar desenho animado, como se não fosse possível desenhar mais roupa e manter a sensualidade alegre e extravagante da personagem. Justiça seja feita, a maldade da história (e de Niele) só é vista por crianças se elas não forem mais tão crianças assim ou se os adultos mostrarem.
As “roupas” da Niele também servem de gancho para a história de bastidores entre o roteirista e a desenhista da trama, mostrando as divergências criativas deles durante a produção da história num divertido exercício de metalinguagem gráfica e literária. Fora que todo mundo já deve ter conhecido uma Niele da vida real; não coloquem nomes nos comentários, isso seria deveras indelicado.
Como já foi dito na sinopse oficial, Holy Avenger é uma aventura de fantasia bem sessão da tarde, aventurona mesmo, divertida e com muitas reviravoltas, explosões, magias e gargalhadas. Lisandra sonha (literalmente) em reunir os rubis da virtude para devolver a vida ao lendário Paladino. Para isso ela reúne um grupo de aventureiros para lá de improváveis e eles percorrem Arton em meio a encontros e desencontros.
Nisso, eles também encontram com várias celebridades, heróis e vilões lendários. Além dos protagonistas, Lisnadra, Sandro, Niele e Tork, vemos o temível Mestre Arsenal, os magos rivais Talude e Vectorius, o necromante Vladislav Tpish e sua filha Pietra entre outros.
É muito interessante ver que Talude e Vectorius são rivais, não inimigos, e de como eles se respeitam apesar de opiniões bem divergentes. Pessoas superficiais só olham para as “roupas” da Niele, mas tem muito mais na história de Holy Avenger para ser visto e enxergado. Pode um herói virar vilão? Quem combate monstros pode se tornar um monstro ainda pior?
Nesta busca pelos rubis da virtude, muitos segredos virão a tona e um antigo grupo de aventureiros terá que se reunir novamente para evitar os planos ocultos de vilões que se escondem nas sombras. Será que o mundo de Arton aguenta isso? Aguenta. Falar mais é dar spoilers e eu sei que vocês (que não leram) não querem isso.
Os desenhos de Erica Awano são magníficos e ela conta com um time de arte-finalistas e reticulistas bem competente para auxiliá-la. Uma arte de encher os olhos e que pede para virar animação. A edição tem páginas em preto e branco e extras em cores. Os extras das 4 edições contém capas originais, depoimentos de bastidores dos participantes, depoimentos de convidados, esboços, desenhos de outros artistas para os personagens, fichas dos artistas envolvidos (arte-finalistas, capistas, reticulistas, coloristas etc.), emfim, são extras bons e de praxe.
Com relação a edição, a história merece capa dura e todo esse luxo? Só pelo desenho da Erica Awano até mais! É um traço lindo e impecável, feito para agradar até aqueles que resistem ao estilo japonês de desenho de mangá. Mas poderia ter uma versão econômica, ou seja, a Jambô deveria fazer uma reedição bem mais econômica e acessível desse material? Eu acho que sim, claro, certamente e com certeza! A edição em quatro volumes de capa dura e luxuosa espanta novos leitores e esse é um quadrinho com alto potencial de formação de público novo. Fica a dica, Jambô; barateie este material, pois ele forma público leitor de verdade, não malditos colecionadores vaidosos adoradores de lombada que não leem. Fica a dica!
A influência do Japão, que tanto agrada aos leitores e leitoras brasileiros, não se limita ao traço. Desde seu início, a história foi pensada para ter um fim, como toda boa história literária deve ser para ser considerada uma obra de arte literária legítima. Ou seja, cada edição original foi pensada como um capítulo da história maior e não como uma série de histórias isoladas envolvendo os mesmos personagens. Holy Avenger teve início, meio e fim, o que veio antes e depois são outras histórias e as coisas mudam em Arton.
Mas afinal de contas, qual foi o preço de tudo isso? Quanto ao preço total dos quatro volumes desta edição definitiva é definitivamente caro, eu sei, e o Brasil está sempre em crise. Comprei os quatro volumes na campanha/promoção de Tormenta 20 no Catarse. Para mim, foi um total de R$200,00, sendo que paguei um frete calculado de forma diferenciada e tive que contribuir com R$10,00 do pacote de recompensas Plebeu e pôr a coleção como uma recompensa add-on. Com tudo isso, para mim, cada edição saiu a R$50,00. Não sei quanto está o preço de cada volume hoje, seja no site da editora ou de alguma loja real ou virtual. E no caso de você ter que pagar frete, menos ainda. Demorou para chegar, mas valeu o dinheiro e a espera.
Para os que forem até o site da campanha de Tormenta 20, verão que houve um atraso na estimativa de entrega de meses, e eu ainda tive que ler antes de escrever esta resenha. Ou seja, não sei quando vocês estão lendo isso. Não sei quanto está o preço agora no site da Jambô, NerdZ e outras livrarias reais e virtuais. Não sei como está a situação da pandemia do vírus Corona para você que ora lê, nem o impacto da pandemia na sua vida. Todavia, vai o velho mantra: pare de comprar os mensais de mix de super-heróis que não valem a pena. Se puder, guarde o dinheiro do entretenimento para coisas que valem a pena ler, guardar e reler; junte o dinheiro do modo que puder e tente comprar os quatro volumes de uma vez a vista, que é sempre mais em conta.
Ou, melhor ainda, neste caso, garimpe em sebos, gibiterias e feiras do livro as edições da Trama/Talismã e Mythos. Assim, você poderá ler e ver, por si só, se vai te agradar sem gastar muito e se vale a pena comprar o formato mais caro. Parte desse material também foi publicado na antiga Dragão Brasil impressa e é bem fácil de achar em feiras de livro.
Cuidado com vendedores que cobram caro por revistas antigas dizendo que são raridades. Também é bem capaz deste material estar em algumas bibliotecas públicas, vale a pena procurar quadrinhos em bibliotecas públicas e experimentar sem pagar nada por isso. Agora, mais do que nunca, teremos que valorizar e frequentar as bibliotecas públicas. Outro detalhe, por se tratar de uma história relativamente antiga, não tive pressa de postar essa resenha. De fato não sei ao certo o que está acontecendo enquanto você a lê.
Querendo mais? Pus um P.S. e um “Para Saber Mais” logo abaixo. Mas, se já está bom para você, esta foi a minha humilde resenha da edição definitiva da série Holy Avenger, pelo menos até a Jambô resolver fazer como o eixo DC/Marvel e começar a lançar novas edições ainda mais definitivas que a atual edição definitiva de tempos em tempos. Boas leituras e até mais!
Rodrigo Rosas Campos
Ficou por aqui? Então vamos:
P.S.: antes de mais nada, como vocês já leram, adquiri estes volumes num preço promocional do financiamento coletivo do Tormenta 20. Tive que esperar receber como todos os apoiadores e houve um atraso de meses. Neste meio tempo, entre o fim da campanha, a chegada da recompensa, minha leitura e a postagem desta resenha (vide data), já foi lançada uma sequência da história, a Holy Avenger Paladina. Até o momento em que escrevo estas linhas, não li. Pelo que pude apurar, resenhas e sinopse oficial, Paladina é uma história autocontida, você não precisa da série original para entendê-la, mas ler Paladina é tomar spoilers da série original. Afinal, a série original é parte do contexto histórico no qual a Paladina surgirá.
Como Tormenta é um produto verdadeiramente transmídia, todas as séries de quadrinhos, versões de histórias de sistemas antigos (antiga Dragão Brasil impressa, 3D&T, Daemon etc.), videogames, livros, contos, aventuras da atual Dragão Brasil digital etc. são parte da ambientação do atual livro Tormenta 20, ou seja, ler este livro é ter alguns spoilers (pequenos e inevitáveis) sobre tudo o que veio antes.
Para Saber Mais
É impossível falar deste mangá sem falar de como ele surgiu. Os bastidores desta trama começam na antiga versão impressa da revista sobre RPG, Dragão Brasil, nas edições 44, 45 e 46. Um dos objetivos da revista era criar um ambiente que servisse para introduzir os leitores aos sistemas como AD&D, GURPS, Daemon entre outros. Esta história especificamente apareceu pela primeira vez em 1998 com a publicação da aventura Holy Avenger por Marcelo Cassaro, simultaneamente para os sistemas AD&D e GURPS, com o objetivo de exemplificar o funcionamento destes dois diferentes sistemas para as mesmas ideias. Esta aventura foi uma das que deram origem ao cenário maior de Tormenta. O sucesso do cenário foi tanto que ele virou um produto transmídia no Brasil, antes mesmo desse termo virar modinha.
Além do cenário de RPG para vários sistemas e da aventura inaugural, Holy Avenger, ter sido adaptada para os quadrinhos, Tormenta ganhou: outras adaptações para os quadrinhos; dois videogames para PC; romances e livros jogos. Como eu disse, Tormenta é o primeiro produto transmídia do Brasil. Vale frisar, verdadeiramente transmídia. O que acontece em um quadrinho, romance, conto, aventura pronta publicada, num game, livro jogo etc. é verdadeiramente parte da história maior do cenário de RPG.
Querendo mais informações? Aos leitores que desejarem mais informações, ou que quiserem confirmar se eu não falei besteira, consultem Holy Avenger nos sites: Guia dos Quadrinhos, Google e Wikipedia. Vocês não irão se arrepender e descobrirão muito mais. E cuidado, o verbete na Wikipedia está cheio de spoilers.
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